quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Fim do ano



Estamos quase a entrar no ano de 2010. Quando era miúdo, adorava que o tempo passasse depressa. A entrada no novo ano tornar-me-ia mais velho e aproximava-me do cumprimento de muitos dos meus pequenos sonhos. O passar dos anos tinha como consequência o aumento da autonomia que se traduzia em factos concretos como poder sair até mais tarde, ir de férias com os amigos, ter mais possibilidade de não ser barrado à entrada das discotecas ou do cinema para “maiores de 18” e, no início da idade adulta, a aproximação ao mercado de trabalho e à aspiração suprema da autonomia pessoal e financeira. Na infância e adolescência os anos tiveram muito mais que 365 dias e quem disser o contrário está enganado.
De alguns anos a esta parte tudo mudou. A percepção do tempo alterou-se profundamente. Repentinamente, os anos começaram a encurtar-se e, neste momento, têm muito menos que os 365 referidos pelos astrónomos. Os eventos ou momentos que marcam a nossa sociedade, como por exemplo o Natal e o fim de ano, surgem em espaços de tempo cada vez mais curtos. Já que não posso retomar o ritmo mais lento das duas primeiras décadas para viver ainda por muitos anos, resta-me aproveitar tudo o que de bom a vida me proporciona e brindar a uma ano de 2010 com muita saúde porque, apesar de ser uma frase feita, corresponde ao essencial da nossa vida.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Recordações de Natal



A recordação não tem apenas que ser exacta; tem que ser também feliz. Recordar não é, de modo algum, o mesmo que lembrar. Por exemplo, alguém pode lembrar-se muito bem de um acontecimento, até ao mais ínfimo pormenor, sem contudo dele ter propriamente recordação.
Soren Kierkegaard, in 'In Vino Veritas'

Há coisas difíceis de explicar. Quanto mais envelheço mais agnóstico fico e, paradoxalmente, mais gosto do Natal. Estou cada vez mais convencido que, nascemos, vivemos e morremos e que, para além disso, não haverá nada de especial. Nem céu, nem inferno e muito menos purgatório. Nem anjos nem demónios. Ninguém pode dar respostas. Mas, talvez pelas recordações de uma infância feliz e de uma época de grande convívio familiar, faço todos os possíveis para recordar e perpetuar a festa do Natal, contactando a família, colaborando nas tarefas de preparação da ceia, escolhendo as prendas com especial cuidado e, entre outras coisas, fazendo sempre o presépio que está associado às imagens deste post.
Desses tempos de infância recordo a banda desenhada da última ou penúltima página do jornal que começava a contar uma história de Natal a partir dos meses de Outubro ou Novembro. Era autenticamente devorada por mim e pelos meus irmãos.
Recordo, com enorme saudade, a chegada a casa do meu pai, após um dia duro de trabalho, e do início da construção do presépio. Durante uma semana, entre as dezanove e as vinte horas, eu funcionava com ajudante de carpinteiro, para lhe passar os instrumentos de modo a que ele produzisse um excepcional presépio de madeira e cortiça.
Recordo, com imenso prazer, a azáfama da preparação da comida típica da época bem como dos “roubos” efectuados de parte das delícias produzidas.
Recordo o sapato junto da chaminé e, algumas horas mais tarde, os presentes correspondentes.
Tenho muitas mais recordações do Natal e, por esse motivo e apesar do meu agnosticismo, faço os possíveis por “recriar” partes do que vivi, tentando envolver os meus familiares. No entanto, os tempos são outros e, muito provavelmente, aquilo que faço não será tanto para eles mas sim para mim porque se trataram, sem dúvida, de momentos de grande felicidade.
Aproveito para desejar um feliz Natal a todos os que se habituaram a ler e participar neste espaço.

domingo, 20 de dezembro de 2009

Presépios



Adoro presépios. A construção de um presépio está sempre envolta em saudosismo. No fundo, o que muitos adultos fazem é substituir os legos da sua infância, pelos bonecos de barro e os pedaços de musgo e cortiça. Recriar, através de diversos materiais, o ambiente, o vestuário, as figuras, as actividades económicas do período do ano zero é algo que me delicia. Com um pouco de empenho e imaginação, acabamos por fazer uma espécie de viagem no tempo e abstraímo-nos do quotidiano barulhento e truculento em que vivemos. Apesar da falta de jeito para “trabalhos manuais” e do meu agnosticismo (voltarei a esta questão no próximo post) faço todos os anos o presépio e, sempre que posso, vejo os que foram feitos por familiares, amigos e mesmo desconhecidos. De todos os que vejo, gostaria de destacar a autêntica obra-prima de engenho, arte, persistência e bom gosto que é o presépio do senhor Manuel Fonseca. Pode ser visto na sua casa, na rua de Sencadas, nº 521, em A-Ver-O-Mar.
Quem é apreciador, não deve perder a oportunidade, deslocando-se à exposição que se situa, um pouco para noroeste do Estádio Municipal, tendo o cuidado de ir ao Domingo à tarde ou, em alternativa, acertando com o autor, uma visita de grupo.Pode obter mais informação aqui, no site da Câmara Municipal da Póvoa de Varzim.
Nota importante: Não tenho qualquer comissão associada à elaboração deste post.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

O cacique

A palavra cacique está associada a lideranças indígenas de várias regiões da América do Sul. No nosso país este conceito tem evoluído para chefias locais que, a troco de favores, conseguem controlar as decisões de voto de um grande número de eleitores. O tema do caciquismo, ou seja da influência política dos caciques, surge com muita frequência no nosso país, tendo sido vários os líderes partidários nacionais que, nos últimos actos eleitorais e partindo do famoso “défice democrático da Madeira”, se manifestaram contra o caciquismo. No continente, a figura que melhor encaixou no conceito foi a de Avelino Ferreira Torres que, felizmente, tem perdido influência.
Mas, infelizmente, o caciquismo está bastante enraizado. O cacique da actualidade exerce o poder de forma autoritária e não se contenta com o exercício do poder executivo. Não conseguindo controlar o poder judicial, não lhe reconhece autoridade para ser julgado por ele e, quando é condenado, afronta a autoridade do juiz de uma forma que o comum do cidadão tem dificuldade em entender. Mas o cacique, pretendendo controlar tudo e todos, afronta os que conseguem resistir. Intimida-os e, normalmente, escolhe os elos mais frágeis e expostos dos opositores para ferir todos os que ousam resistir. Para essa tarefa utiliza todos os meios. Contacta-os directamente e tenta assustá-los, manda recados por outras pessoas, boicota o sucesso das actividades económicas das suas empresas intervindo na tentativa de diminuição do número de clientes, impede-os de frequentar determinados espaços e de obter certos serviços pela simples razão de estarem associados aos “inimigos". Por outro lado premeia, através da sua sistemática presença e benção, todos os que cobardemente lhe prestam vassalagem e, aspecto mais preocupante, cada vez mais se atreve a funcionar com investigador e juiz, substituindo-se às estruturas que, num Estado de Direito, têm essas competências. Incrivelmente, em muitos casos já foi condenado pelo poder judicial e nem esse aspecto o envergonha e demove de se constituir como justiceiro, qual Rambo do novo século.
O caciquismo, muito mais perto de si do que imagina!

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Mais receita?



A Câmara Municipal da Póvoa de Varzim aprovou uma alteração ao índice de construção, na área envolvente da via B e em Agro-o-Velho, de 0,5 para 0,7 e, nalguns casos, 0,8 de modo a que, segundo o Presidente da Câmara, “os processos para construção sejam viáveis do ponto de vista financeiro”. Esta decisão enquadra-se na aprovação, pela maioria PSD e pelo representante do CDS, das alterações ao Plano de Urbanização da Póvoa.
Naturalmente, a força política da oposição, o Partido Socialista, manifestou-se contra, argumentando que o objectivo central da maioria é “aumentar a receita através do licenciamento de prédios mais altos”.
Sendo certo que a maioria das receitas municipais resulta dos impostos gerais transferidos directamente do orçamento de estado, não deixa de ser também verdade que a lógica de muitos dos responsáveis do poder local assenta muito na autorização de novas construções. A garantia de maiores receitas para as autarquias e, por vezes, outras causas menos claras associadas frequentemente aos beneficiados pelas alterações dos planos estão na base dessa lógica. Por esses motivos e atendendo a que o parque urbano por ocupar é enorme, faz cada vez mais sentido a discussão, levantada por inúmeros especialistas que defendem a necessidade de alterar radicalmente o financiamento das autarquias, bem como resolver, de vez, o problema do arrendamento urbano. Só com a conjugação dessas duas variáveis seria possível incentivar e desviar, de modo significativo, a actividade das empresas de construção civil para tarefas de recuperação urbana e não, como teima em acontecer, de implementação sistemática de novas construções que despoletam muito do que é associado negativamente ao poder local.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

O centésimo

Muito perto de completar dez meses de existência, surge hoje o centésimo post do blog Descarga. Procurei, neste curto período, emitir opinião sobre temas diversos, havendo uma forte incidência dos artigos sobre educação, sociedade e, sobretudo, política local que, isoladamente, absorveu mais de 1/3 do total. Senti que, em termos de interesse dos leitores, este era o assunto de maior preferência e que despoletava maior participação. Sobre este aspecto, e apesar da posição pública que assumi no último acto eleitoral, continuarei a escrever emitindo a minha opinião de forma livre o que não invalida a existência de uma linha orientadora que, naturalmente, corresponde às minhas opiniões.
Outro dos aspectos que me levou a avançar com este blog relaciona-se com a necessidade de me obrigar a reflectir sobre temas que me interessam, não só em termos pessoais como também para o exercício da minha actividade profissional, dado que implicam leitura, pesquisa, reflexão e, muitas vezes, tomada de posição sobre alguns assuntos coincidentes com a minha actividade de professor. Muitos dos temas tratados neste blog, nomeadamente os que se relacionam com o país, a cidade, o ambiente, o planeamento e ordenamento do território fazem parte dos currículos das disciplinas que lecciono e, por esse motivo, estabelecer uma ligação mais concreta desses conteúdos com a realidade constitui, para mim, uma indiscutível vantagem.

sábado, 5 de dezembro de 2009

Climategate


Nos últimos dias surgiram um conjunto de notícias segundo as quais um dos principais centros de pesquisa sobre o aquecimento global, o Climate Research Unit da Universidade “East Anglia”, envolveu-se de tal modo na tese do aquecimento global que utilizou os piores meios para a sua defesa. A manipulação da informação, através da valorização das teses próximas das do centro ou desacreditação e desvalorização das que contrariavam a ideia do aquecimento global causado pela actividade humana, terá sido frequente. A rejeição de artigos de outros cientistas e a pressão para a demissão de editores de jornais importantes também terá ocorrido.
Numa altura em que se discute um eventual acordo em Copenhaga e em que se negoceia, hipocritamente, a compra e venda de emissões de CO2, que contribui para o aumento do fosso norte/sul, a divulgação deste “Climategate” origina, na população em geral, um sentimento de insegurança sobre um tema bastante consensual que aponta para a necessidade de impedir que as actividades humanas contribuam para o aquecimento global e para as mudanças climáticas da actualidade.
Apesar da coincidência deste caso surgir num momento em que se podem tomar decisões importantes para a Terra e, por esse motivo, poder ser enquadrado numa espécie de lóbi contra todos os que tem lutado contra o aquecimento global, as divisões simplistas entre os “bons” e os “maus” que, na área do ambiente muitas vezes ocorrem devem, pelo menos, ser analisadas com menos paixão e mais racionalidade.

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Sobre a Mudança de Instalações do Clube Desportivo da Póvoa


Todas as pessoas que me conhecem bem sabem o carinho que nutro pelo Clube Desportivo da Póvoa. Participei, de modo intenso e nas funções mais diversas, na sua vida durante mais de vinte anos. Interrompi a minha participação activa porque, sendo professor e trabalhando regularmente em horários mistos mas com forte componente nocturna, não podia dar o acompanhamento necessário como treinador, coordenador ou dirigente.
Nunca me arrependi de qualquer momento passado no clube, tendo este sido fundamental em todo o meu processo formativo. Ao contrário do que muitas vezes se diz nestas circunstâncias, recebi muito mais do clube do que dei. Não recebi em dinheiro, mas em aquisição de competências que foram e são importantes na minha vida pessoal, profissional e institucional. Quanto ao meu contributo, não serei a pessoa mais indicada para falar nele, mas orgulho-me imenso do trabalho desenvolvido em conjunto com muitos amigos de diversas gerações.
As circunstâncias da vida mudam e, naturalmente, passei a ter muito menos contacto, aparecendo no clube apenas para pagar as quotas e para ver alguns jogos, sobretudo da modalidade a que estive mais ligado, o basquetebol. Nos últimos anos, em virtude do meu filho mais novo praticar aquela modalidade no clube, voltei a frequentar mais regularmente as instalações, nomeadamente o pavilhão e apercebi-me, gradualmente, das mudanças implementadas, principalmente ao nível dos recursos humanos utilizados que se tornaram, cada vez mais, “importados”.
Neste “meu regresso ao clube” acompanhei, como podia, todo o processo de eventual transferência das instalações desportivas para o parque da cidade. Gostaria muito de ter estado presente na última assembleia-geral mas, em virtude da minha actividade profissional as noites, de segunda a sexta-feira, estão bastante ocupadas. O não ter estado presente, não significa que não tenha interesse e opinião sobre o tema e não tenha acesso ao conteúdo da discussão e das decisões tendo, inclusivamente, solicitado à direcção do clube autorização para consulta do dossier existente à data das decisões da referida assembleia. Falei, também, com vários sócios com opiniões diversas sobre este assunto, procurando contextualizar melhor toda esta problemática.
Como é do conhecimento dos leitores deste blog, tomei uma posição inequívoca sobre todo o processo associado à zona E54, manifestando-me, como poveiro, contra a aprovação do Plano de Pormenor que, na minha opinião, deu mais um contributo para uma nova “machadada” no ordenamento do nosso território.
No entanto, após a aprovação pela Assembleia Municipal, entendo que será muito difícil ao Clube Desportivo da Póvoa efectuar uma opção estratégica diferente e que não assente na “transferência” das instalações. Esta convicção baseia-se no simples facto de sempre ter existido uma enorme dependência financeira do clube em relação à autarquia e, como esta se empenhou nesta solução, dificilmente lidaria bem com uma opção do clube que contrariasse a sua. Ao aprovar essa estratégia, na última assembleia-geral, o CDP, associa-se à onda migratória acabando por, como afirma José Ricardo em corajoso artigo publicado no Póvoa Semanário de 11 de Novembro, ser empurrado para o Parque da Cidade. Nesse artigo, José Ricardo faz uma abordagem completamente diferente à que está instituída, apontando o caminho do crescimento e rentabilização do espaço já existente como uma alternativa à transferência de instalações. Também Carlos Mateus, em interessante artigo de opinião registado na primeira edição de Novembro do Voz da Póvoa, lança várias questões pertinentes que deviam merecer, pelo menos, o reforço da discussão.
É para mim bastante claro que as razões apontadas pela direcção carecem de sustentação. Na verdade, o que mais me incomoda neste processo é a ausência de uma fundamentação segura para as alterações propostas, dando-se um autêntico “salto no escuro” para uma nova realidade que, tirando as imagens interessantes elaboradas por programas de desenho, ninguém sabe bem qual é. Analisando os números disponibilizados pela direcção, abdica-se de duas das mais seguras e importantes fontes endógenas de receitas actuais, o parque de estacionamento e piscina exterior, em troca de perspectiva de crescimento da receita fixa à custa de novas valências, como a clínica, o health club e o restaurante, partindo do pressuposto que vai correr tudo bem e que vai ser fácil encontrar os parceiros estratégicos para esses empreendimentos. Por outro lado, é apontado um “modelo de negócio” em que, no final e após a venda dos terrenos actuais e a aquisição dos novos, associada à execução das diversas valências previstas, surge uma pequeníssima “folga” de pouco mais de 200 mil euros. Para estes números baterem de tal modo certo (refira-se que estamos a falar de mais de 12 milhões de euros para a venda dos terrenos e um valor ligeiramente inferior para a compra dos novos e respectivas edificações), dá a sensação que, como é apanágio do nosso concelho, se vai construir em função da eventual disponibilidade financeira possibilitada pela venda e não em função das necessidades do clube. Apesar de não ser gestor nem economista, atrevo-me a questionar esta opção optimista, arriscada e absorvente de todos os capitais que o clube pode gerar. Não seria mais sensato elaborar um plano que desse resposta às razões enunciadas para justificar a transferência, mas que garantisse segurança perante a incerteza do mercado e que acautelasse futuras derrapagens?
Para além de todas as dúvidas que acabo de enunciar e não querendo colocar em causa a seriedade de ninguém, continuo a pensar, como defendi anteriormente neste blog (no post de 13 de Maio de 2009 intitulado “Os Clubes da Póvoa / Plano de Pormenor”), que seria muito mais correcta a abertura da possibilidade de outros arquitectos apresentarem, sem custos para o clube, eventuais propostas através, por exemplo, de uma espécie de “concurso de ideias de arquitectos amigos do clube” porque, desta forma, o processo seria mais transparente e, no caso de não aparecer qualquer proposta, seria melhor entendida, por todos os sócios, a dedicação “profissional” do presidente do clube nesta matéria.

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

A Pítia do Regime


Cada vez há menos paciência para ouvir, de quem usufrui de mordomias desproporcionadas para a dimensão do país, lições de macroeconomia. Expressões como moderação salarial, equilíbrio das contas públicas, competitividade, controlo da inflação e tantas outras, vindas de quem tem vindo, valem cada vez menos.
Apesar de reconhecer pertinência à generalidadedas questões levantadas, nota-se muita inabilidade na comunicação dessas evidências e, ainda mais grave, fica sempre a sensação que todos os sacrifícios feitos por quem trabalha não são canalizados para os desperdícios mas, quase sempre, para novos vícios, acabando tudo numa espécie de ciclo vicioso em que acaba sempre pior quem menos tem.
Vale a pena ler o artigo de opinião de Manuel Pina sobre o expoente máximo destas comunicações, o Dr. Vítor Constâncio, considerado pelo autor como uma espécie de Pítia do nosso regime.

domingo, 22 de novembro de 2009

A moda do “Take Away”



Todas as pessoas são livres de comer o que bem lhes apetecer. Comida tradicional portuguesa, pastas italianas, sopas e/ou saladas, produtos vegetarianos, fast-food e tudo o resto.
Todos são livres de comer onde lhes apetecer. Podem correr para casa e cozinhar, ir ao restaurante, telefonar e solicitar a entrega de comida em casa ou, como está agora muito na moda, comprar a comida nos Take Away, levando-a em sacos de plástico mais ou menos gordurosos.
É interessante verificar que o número de empresas que aplicam este conceito e se instalam na nossa cidade parece crescer na mesma proporção do aumento das dificuldades financeiras das famílias.
Somos cada vez mais pobres e endividados, mas não nos deslocámos à padaria para adquirir o pão e consumi-lo em casa. Tomámos o pequeno-almoço no café, gastando nesse momento mais do que muitos poderiam gastar, em média, durante todo o dia.
Somos cada vez mais pobres e endividados, mas não economizamos cozinhando em casa para a nossa família. Vamos aos restaurantes e, em alternativa e cada vez mais, aos Take Away afirmando, com aparente convicção, que essa decisão é muito mais económica do que a confecção em casa das nossas refeições.
Se continuarmos a estabelecer a relação entre a natureza do consumo e o grau de pobreza dos consumidores, continuamos a verificar que, salvo honrosas excepções, o desperdício ocorre também com “as pequenas vinganças” ou supostos “nivelamentos” para com os mais ricos e que se manifestam na aquisição, “em suaves prestações”, de telemóveis de última geração, plasmas com muitos centímetros e muitos outros aparelhos apelativos cujos encargos financeiros estão para essas famílias como os terríveis juros da dívida externa para os países menos desenvolvidos.

domingo, 15 de novembro de 2009

Pandemia ou paranóia?

Qualquer indivíduo minimamente informado conhece a força das indústrias de armamento e farmacêutica.
Recordo-me, como se fosse hoje, de um interessante artigo de Miguel Sousa Tavares, publicado, salvo erro, na desaparecida revista “Grande Reportagem”, em que ficava claramente demonstrada a relação entre o crescimento económico de muitos países industrializados, nomeadamente os EUA, e a indústria de armamento. Nesse artigo, era estabelecida a necessidade de “descarregar” as armas antigas e actuais para que pudessem ser produzidas e compradas as novas e, por esse motivo, as guerras acabavam por ser uma espécie de inevitabilidade. Era referido que, apenas para o trabalho de lóbi, eram canalizadas verbas impressionantes. São conhecidas as forças que se movem em torno dos negócios do armamento e que, por exemplo, levaram recentemente à condenação de várias figuras conhecidas da cena política francesa.
Sem ter a pretensão de afirmar que todo o processo que gira em torno da chamada “gripe A” se trata de um grande embuste, penso que vale a pena observar este filme, não tanto pelas ligações particulares entre o antigo Secretário de Estado do governo Donald Rumsfeld e a indústria farmacêutica, mas pela capacidade em questionar a eventual sobrevalorização da doença de modo a justificar a criação de condições para que, à semelhança do que acontece com as armas, a aquisição dos produtos farmacêuticos atinja os valores desejados e alimentem a necessidade de produção.

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

A excepção

O envelhecimento provoca, em todos nós, uma redução gradual das capacidades físicas e intelectuais. Podemos ser mais fortes nas questões relacionadas com a maturidade e em que a experiência é decisiva, mas falha-nos a visão, a audição, a destreza motora e de raciocínio e, por todos esses motivos, entramos num irreversível processo de declínio que está devidamente estudado pela comunidade científica.
No entanto essa comunidade desconhece um autêntico “Caso de Estudo” da nossa cidade que, por mera coincidência, é a responsável pela minha vinda ao mundo.
Faz hoje 86 anos. É o esteio sereno e indiscutível de uma família numerosa. Resistiu, com uma força arrepiante, às dificuldades que as circunstâncias da vida lhe colocaram, nomeadamente quando foi confrontada com a inevitabilidade da morte de entes queridos.
Ainda hoje, quando surgem novos problemas, revela uma força interior de tal forma anormal que a leva, muitas vezes, a confortar quem tinha a obrigação de dar conforto. A força, provavelmente encontrada numa fé muito segura em Deus, é tanta que, por vezes, até assusta. Considero-a um autêntico “rochedo sensível”, visto que a sua força e preocupação com os outros é indescritível.
Foi sempre muito positiva na forma como educou os filhos e como auxiliou na educação dos netos e, agora, dos bisnetos. Numa altura em que a palavra castigo imperava e a palavra reforço positivo não fazia parte do vocabulário em educação, contribuía, de modo incrível, para o reforço da auto-estima de todos os descendentes. Sabia, como ninguém, criar um clima de responsabilização individual que fazia com que não fossem necessárias normas rígidas para que, todos nós, crescêssemos bem. Não precisava de nos mandar estudar ou dizer a hora a que devíamos chegar a casa, após uma saída nocturna, porque tinha uma impressionante habilidade para estimular a nossa autonomia. Ainda agora, com os netos, procede de igual forma. Nas pequenas crises individuais, são normais as visitas para breves diálogos a sós que terminam, invariavelmente, com saídas muito mais animadas do que as entradas. Acredita, como mais ninguém, nas capacidades das pessoas que ama.
À medida que nos fomos tornando adultos, respeitou a nossa necessidade de espaço e, quando saímos de casa, preocupou-se apenas com o nosso bem-estar, não nos obrigando, como infelizmente acontece com muitos pais, a visitas regulares ou aos tradicionais almoços domingueiros. A frase que mais ouvíamos e que “não era dita da boca para fora” era:
- Não se preocupem em cá vir. O que preciso de saber é que estão bem!
Detentora de uma formação fortemente marcada pela influência da Igreja e possuidora de uma fé inabalável, aceitou, com toda a naturalidade, os caminhos diversificados seguidos pelos seus filhos, demonstrando capacidades relacionadas com a tolerância, que bem falta fazem a muitos dos responsáveis da hierarquia religiosa.
Juntamente com o meu pai, passou-nos valores que cimentaram toda a família e que, nos tempos actuais, necessitam, mais do nunca, de ser recuperados. Como vivemos uma época de sucesso a todo o custo, lucros fáceis, de aparências, de individualismo e de ausência de preocupações sociais, os valores da solidariedade, da discrição e da justiça têm que ser, não só proclamados, como defendidos no concreto. Enquanto muitos se orgulham do seu novo carro topo de gama ou do sucesso perene na bolsa, cada vez mais valorizo a sorte que tive em ter sofrido a sua influência, bem como a do meu falecido pai.
Só lhe encontro um defeito e que se relaciona com o enorme receio que os seus descendentes se dediquem a actividades de visibilidade pública. O receio da exposição corresponde, no fundo, a uma tentativa de protecção.
Será defeito? Ou não será, uma vez mais a sua enorme sabedoria a defender a importância da intervenção discreta?

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Comentários anónimos

Quando arranquei com o blog descarga tive, durante um período de tempo significativo, uma total ausência de “filtragem” dos comentários que ficavam automaticamente disponíveis para qualquer leitor. Muitas vezes o comentário foi tão ou mais importante do que o texto que o despoletou, criando-se várias situações dinâmicas que me pareceram interessantes.
O anonimato em si não me perturba. São inúmeras as situações da vida em que o anonimato está, ou esteve presente pela positiva. Territórios e épocas de maiores entraves à liberdade de expressão foram e são ambientes propícios às intervenções anónimas e importantes. O próprio acto de votar, como bem referiu um comentador, é um exercício onde o anonimato está presente, fazendo valer a ideia de que “o voto é secreto”.
A minha preocupação fundamental está no conteúdo do comentário. Como devem calcular, o carácter anónimo de alguns comentários associado, algumas vezes, a um registo pouco condizente com a tentativa de discussão séria de alguns problemas, levou-me a proceder à sua moderação, não publicando aqueles que se limitavam a insultar ou ameaçar os mais diversos actores dos temas abordados (incluindo o próprio autor), penitenciando-me, desde já, por eventuais falhas nessa tarefa.
Seria bastante interessante que estes comentadores anónimos que se limitam a ameaçar, a insultar, ou a fazer acusações graves, por vezes sem qualquer tipo de sustentação, seguissem o exemplo de alguns blogers ou leitores devidamente identificados que, quando participam neste blog, afirmam as suas opiniões e”dão a cara” por elas, mesmo que sejam, por vezes, duras e polémicas.
Atendendo a estes factos e indo de encontro a sugestões de alguns leitores do blog, solicito que os comentários tenham em conta, directa ou indirectamente, o assunto despoletado pelo post, e não, a divagação para assuntos laterais, e muito menos, para os insultos como, infelizmente, muitas vezes acontece.

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Petição pública



Petição Salvar Vidas através do Acesso Público a Desfibrilhadores Automáticos Externos (DAE)

Não há paciência



Não tenho apetência nenhuma para entrar na euforia justicialista que, por vezes, assola o nosso país. Compreendo bem a diferença entre suspeitas de um crime e a sua confirmação, após um processo em que a oportunidade de defesa existe, tal como acontece num país democrático. No entanto, a quantidade de casos que envolvem a promiscuidade entre detentores de cargos públicos, nomeadamente quadros superiores de grandes empresas públicas ou participadas pelo Estado, políticos e empresas privadas, começa atingir o limite do suportável.
Todos os factos relatados, durante estes dias, sobre o chamado caso “Face Oculta” e a recuperação dos hábitos amistosos do BPN mostra-nos que temos, não só um problema de competência, como também de seriedade de quem tem responsabilidades de nível hierárquico mais elevado.
Afinal os esquemas do Ezequiel Valadas não são ficção e alargam-se a diversos níveis de intervenção.

sábado, 31 de outubro de 2009

Pesca sustentável



As grandes empresas ligadas à pesca industrial, não satisfeitas com a diminuição das espécies em águas superficiais, atacam agora os fundos dos oceanos com autênticas “fábricas deslizantes e cortantes”, comprometendo de modo ainda mais grave a biodiversidade e, por consequência, a sustentabilidade desta actividade económica.
Esta visão de curto prazo que, em diferentes sectores, nos atormenta cada vez mais, torna urgente a denúncia e a luta por uma ruptura com os modelos vigentes, através da opção por modelos de desenvolvimento efectivamente sustentáveis.
O nosso envolvimento pode passar pela assinatura de uma petição sobre este tipo de pesca.
Felizmente o sector das pescas em Portugal deu-nos, nesta última semana, uma notícia animadora sobre a possibilidade de certificação das sardinhas portuguesas pelo facto de serem pescadas de um modo sustentável.

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Apontamentos de campanha IV – Insensibilidade social

Os mandatos dos sucessivos governos locais de maioria PSD foram caracterizados, na minha opinião, por uma enorme insensibilidade na área social. Nos contactos com a população, esta questão era quase sempre abordada, confirmando aquilo que, no plano teórico, me parecia evidente. Inércia, falta de aproveitamento dos recursos endógenos, poucos exemplos de criação de sinergias para o combate à pobreza e ausência de diálogo e desaproveitamento das propostas concretas apresentadas pela oposição, foram características sempre presentes ao longo dos diversos mandatos.
A opção, quase exclusiva, pelo apoio lateral às instituições privadas ou de solidariedade social, é demonstrativa da falta de reflexão sobre outras possibilidades de intervenção que, noutros municípios, estão a ser implementadas e, em muitos casos, com assinalável sucesso. Por melhor desempenho que as referidas organizações revelem, existirá sempre uma lacuna que poderia ser preenchida por um executivo mais preocupado com a qualidade de vida das pessoas do que com a realização das grandes obras de interesse, no mínimo, discutível.
Por outro lado, aquela opção contribui, nalguns casos, para uma autêntica dispersão das iniciativas que, atendendo à necessidade de existirem com bases sólidas de sustentabilidade logística e financeira, terão, muitas delas, pouca probabilidade de sobrevivência. Como é possível por exemplo, no mesmo concelho, fomentar-se a criação e desenvolvimento de projectos na área social com os mesmos objectivos e o mesmo público-alvo em freguesias vizinhas, quando sabemos, à partida, que dificilmente serão autónomos do ponto de vista financeiro e terão enormes dificuldades de manutenção, apesar dos impulsos altruístas e da consequente recolha de fundos de algumas iniciativas caritativas?

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Apontamentos de campanha III – Assimetria Póvoa/periferia

É consensual a ideia de que um dos grandes problemas estruturais do nosso país é a dupla assimetria: litoral/interior e áreas metropolitanas/resto do país. Há uma excessiva concentração de população, serviços e actividades económicas no litoral e, sobretudo, nas áreas metropolitanas. Muitas vezes, essa concentração exagerada em vez de permitir a criação das chamadas "economias de aglomeração" inerentes às possibilidades de complementaridade e solidariedade técnica, origina exactamente o contrário, ou seja, o exagero das actividades e, consequentemente, o agravamento dos problemas económicos, sociais e, nas últimas décadas, ambientais. Pelo contrário, o interior, padece do abandono, da desertificação e da reduzida actividade económica e, naturalmente, da cobertura deficiente e reduzido apoio na área social, nomeadamente na saúde e educação.
Todos nós, lamentámos essa assimetria e criticámos a ineficácia dos sucessivos governos nesta matéria. No entanto, a nível local, comportámo-nos de modo semelhante. Exagerámos nos investimentos na sede do concelho, colocando à vista as consequências negativas dessa concentração. A agravar a situação, são inúmeros os exemplos em que, no mesmo local, intervimos, desfazemos uma intervenção e voltamos a actuar em espaços de tempo demasiado curtos, desbaratando importantes recursos. Por outro lado, ao tomarmos estas opções, agravámos a assimetria entre a Póvoa e as freguesias mais periféricas, votando ao abandono as que mais necessitavam do apoio da autarquia.
Qualquer governo local que não só use o slogan do desenvolvimento sustentável como o pratique, deve definir o importante objectivo estratégico de promover o desenvolvimento harmonioso de todo o território, combatendo, convictamente, as injustas assimetrias existentes.

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Apontamentos de campanha II – Anos a mais no poder criam distância

Um dos aspectos que menos me surpreendeu e que, na minha opinião, esteve presente, em quase todos os momentos da campanha, foi a diminuição da empatia entre quem exerce o poder e a população.
Talvez por estarem há demasiados anos no poder e “não terem paciência” para ouvirem ou aproximarem-se da população menos satisfeita, foi significativa a distância para uma parte dos poveiros que, eventualmente pela primeira vez, ousaram mostrar insatisfação e deram sinais inequívocos de mudança. Este enorme distanciamento foi e é disfarçado, por vezes, pelo voluntarismo de um ou outro autarca que, pelo menos aparentemente, é mais paciente e dialogante.
O actual poder poderá desvalorizar esses sinais, resguardado no facto de continuar a governar com maioria absoluta. Mas, na minha opinião, quanto menos os considerarem, mais probabilidades surgirão de generalização do descontentamento.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Peditório AMI



Um amigo e leitor deste blog informou-me que irá decorrer, nos próximos dias 22 a 25 de Outubro (quinta-feira a domingo), o peditório anual da AMI (Assistência Médica Internacional).
Na Póvoa de Varzim, estão mobilizados dezenas de voluntários que estarão presentes nas entradas das principais superfícies comerciais da cidade. Cada voluntário terá um cofre (“lata”) ao peito e estará identificado com colete e crachá da AMI, podendo colar um pequeno autocolante da fundação a quem o pretender.
Para que a AMI continue a apoiar as vítimas de guerras ou de catástrofes naturais a nível internacional e as vítimas de exclusão social e de pobreza extrema a nível nacional, precisamos do seu contributo por pequeno que seja.
Se encontrar um voluntário da AMI no seu caminho, pare e ajude a humanidade, não é preciso tirar senha.
Se preferir, faça o seu donativo no MULTIBANCO:
Pagamento de serviços – Entidade 20909 – Referência: 909 909 909

domingo, 18 de outubro de 2009

Apontamentos de campanha I - Asterix



Fui, durante o período da campanha eleitoral, à freguesia de Terroso e senti o enorme investimento que o PSD fez na tentativa de destronar o actual Presidente de Junta, Joaquim Vilar. Para além de promessas de maior apoio, por parte do actual executivo camarário, houve uma aposta em pessoas conhecidas, nomeadamente o cabeça de lista.
A resposta da população de Terroso não podia ter sido mais clara. Não só premiou Joaquim Vilar e o PS com uma nova vitória, como lhe possibilitou um aumento da votação de 210 votos tornando o resultado muito expressivo. Foi uma autêntica lição de dignidade de uma população que reconheceu o esforço e a coragem deste autêntico Asterix.
Na verdade, a situação vivida nesta freguesia fez-me sempre lembrar a famosa aldeia gaulesa resistente às investidas do Imperador que, zangado com a desobediência daquele povo, enviava as poderosas legiões comandadas por obedientes centuriões.
Tal como na banda desenhada, fiquei com a nítida sensação que, nem os homens da infantaria nem os seus centuriões, estariam suficientemente motivados e determinados para cumprir as ordens da cúpula do Império.
Gostando muito de banda desenhada, e apesar de não ser Asterix o meu herói preferido, não podia deixar de estabelecer esta comparação que será, da minha parte, a melhor forma de homenagear a coragem e a determinação de um povo e do seu indiscutível líder.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Uma experiência diferente

Os leitores deste blog tiveram conhecimento da minha participação na candidatura de Renato Matos à Câmara Municipal da Póvoa de Varzim. Publiquei, neste espaço, as razões que me levaram a apoiá-lo e, felizmente, não houve qualquer momento em que arrependesse dessa decisão. Independentemente do resultado que fosse obtido, faria sempre uma avaliação positiva desta experiência, até porque entendo, há muito tempo, que é necessária uma mudança significativa na governação local. Por outro lado, a dinâmica criada entre os membros da equipa e a calorosa recepção nos contactos com a população foram valores seguros e estimulantes de todo o processo que só me motivaram, ainda mais, a participar.
Ao contrário do que pensava inicialmente, acabei por ter um papel mais activo do que imaginava, nomeadamente na preparação das acções de campanha e na relação com a população do concelho. Desse contacto, anotei um conjunto de tópicos que mereceram um destaque especial e, neste espaço, publicarei pequenos textos com reflexões simples sobre essas evidências. Como devem calcular, estas reflexões resultam da minha experiência e são, naturalmente, uma visão parcial do ocorreu no terreno.

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Acontecerá algo na Póvoa?

Ao contrário das previsões de uma grande parte dos intervenientes activos na vida político partidária da Póvoa, os resultados finais das eleições autárquicas do passado dia 11 de Outubro são reveladores de uma indiscutível vontade de mudança que se traduziu num novo reforço da votação no Partido Socialista (que poderá ser considerado a única alternativa possível de governo local) que, partindo das eleições de 2001 e considerando os resultados de 2005 e 2009, consegue acrescentar perto de 6000 votos à sua votação. No mesmo espaço de tempo, o partido instalado no poder há décadas perde mais de 4000 votos.
Neste último acto eleitoral, e para além dos méritos da candidatura liderada por Renato Matos, houve também um ligeiro reforço da votação na CDU e, sobretudo, um significativo aumento da votação no CDS que permite a este partido estar representado na Câmara Municipal contribuindo, espera-se, para uma maior riqueza e diversidade no debate político que, nestas décadas, pura e simplesmente foi abafado pelas maiorias esmagadoras e pouco tolerantes.
É certo que, apesar das dificuldades, o PSD consegue manter a sua maioria absoluta, mas os sinais de mudança são indiscutíveis e, por esse motivo, uma oposição forte, atenta, responsável e, sobretudo, credível será decisiva para a eventualidade de “acontecer algo” dentro de quatro anos na nossa terra. Os casos de Terroso e A-Ver-o-Mar, nomeadamente a coesão das suas equipas e a persistência e continuidade no trabalho, deverão funcionar como exemplos para a generalidade do concelho.
Mas para que a mudança aconteça é fundamental algo mais. É necessário, também, que todos os poveiros que, no seu íntimo, discordam da acção deste executivo, seja pelos tiques autoritários, ou pela insensibilidade social ou até pela opção constante por grandes obras, algumas de interesse duvidoso, tenham a coragem de intervir, discutir e assumir as suas opiniões porque vivemos num país livre e, como afirmou Miguel de Unamuno, “A neutralidade cómoda constitui um crime contra os outros e contra nós. É uma maneira de passar a vida lambendo o egoísmo e o medo, de costas viradas para a aventura.”

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Assimetrias


http://www.worldmapper.org/countrycartograms/carto_prt.htm

O jornal Público, na sua edição de 6 de Outubro, apresentou um interessante e documentado dossier sobre o agravamento, verificado nos últimos vinte anos, da assimetria entre o litoral e o interior do território nacional. Destaca os casos dos concelhos próximos das áreas metropolitanas do Porto e Lisboa, onde o ritmo da concentração é muito elevado e, com menos intensidade, refere mais três pólos nas proximidades de Aveiro, Loulé/Albufeira e Entroncamento/Torres Novas.
É estabelecida a relação entre as receitas, para as autarquias, resultantes dos licenciamentos de construção e a inevitabilidade do surto construtivo, apontando-se para a necessidade de alterar radicalmente o seu financiamento, admitindo-se, por exemplo, a possibilidade de taxar auto-estradas que utilizam o território dos municípios ou valorizar as reservas agrícolas (RAN) e ecológicas (REN) nacionais.
Há, no entanto, concelhos de dimensão média que resistem a esta tendência assimétrica apostando nos seus recursos endógenos e em “especificidades locais/regionais” que são, muitas vezes, o factor de diferenciação que permite combater esta tendência. Aquelas especificidades relacionam-se, quase sempre, com o património cultural e natural. São apontados vários exemplos com destaque para Óbidos e Guimarães.
A crítica a esta situação atravessa praticamente toda a população portuguesa mas, na escala local e no exercício do poder, comportamo-nos de modo semelhante, votando ao abandono os lugares e as freguesias que mais necessitavam do apoio das autarquias, havendo mesmo casos em que a pobreza e a exclusão nas “periferias” dos concelhos são chocantes de mais para continuarmos indiferentes.

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Um dia em cheio

Num dia com muitas efemérides, nomeadamente o Dia Nacional da Água, o Dia Mundial da Música e o Dia Internacional das Pessoas Idosas, parece-me oportuno destacar a importância da luta pela qualidade das águas no nosso país que são, cada vez mais, ameaçadas pelo aumento do consumo motivado pela melhoria da qualidade de vida e pelo incremento de algumas actividades económicas altamente consumidoras e, sobretudo, pelo fenómeno da poluição.
Utilizar a água com mais eficiência, tratar as águas residuais e garantir a qualidade e o acesso à água para a generalidade da população, poderão constituir acções que não permitam uma visibilidade imediata para os responsáveis políticos que as promovem, mas deverão ser vistas como desafios obrigatórios para quem exerce o poder à escala local e nacional, sob pena de deixarem, para as gerações mais novas, a exigente tarefa de remediação da realidade existente.

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Péssima memória

Costuma-se dizer que, há medida que envelhecemos, sentimos o tempo a passar cada vez mais depressa rumo ao destino fatal da morte. Na juventude os dias não tinham fim. Os dezoito anos nunca mais eram atingidos para entrarmos em espaços apetecíveis e termos mais autonomia.
Mas, de repente, o tempo começa a voar e, quando damos por ela, estamos, por exemplo, a preparar as férias grandes, a celebrar o Natal, a assistirmos aos rotineiros eventos desportivos ou culturais ou a festejar aniversários, em intervalos de tempo mais curtos, ficando o ciclo cada vez mais apertado.
Numa localidade pequena e aprazível como a nossa, assistimos também, com uma rapidez estonteante, à sucessão de festividades e eventos de periodicidade anual que aparentam ter ocorrido ontem. No entanto a nossa terra vai muito mais longe, tendo a capacidade de apresentar o mesmo facto, aparentemente não repetível, em anos diferentes e com roupagens distintas, como se nunca tivesse acontecido.
Nietzsche afirmava que a grande vantagem de ter péssima memória residia na possibilidade de “divertir-se muitas vezes com as mesmas coisas, como se fosse a primeira vez”.
Será que temos péssima memória?

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Um problema de escala


Imagem
Póvoa de Varzim e Vila do Conde são dois concelhos vizinhos que, ao longo da história, viveram, e ainda vivem, fortes rivalidades. A diferenciação social histórica entre os dois territórios, com uma Vila do Conde “mais nobre” e mais rica até rivalidades mais recentes relacionadas, por exemplo, com o movimento associativo dos dois concelhos são apenas exemplos dessa diferença e da vontade de afirmação individual das diversas lideranças existentes nos dois espaços.
Esta excessiva rivalidade impediu, durante tempo a mais, abordagens de escala intermédia entre o local e o nacional que “antecipassem o futuro” e cujas consequências mais graves foram sentidas na demora da resolução do problema do tratamento das águas residuais dos dois concelhos.
Nos últimos anos, quase por imposição, os responsáveis políticos foram “obrigados a entender-se” sobre aquele problema e, anteriormente, sobre outras matérias relacionadas com a educação e saúde.
Neste contexto, entendo como menos positiva a eventual acção individual, por parte de Vila do Conde, na zona do Forpescas. Impunha-se uma abordagem mais global, em que interviessem os responsáveis dos dois concelhos e o poder central, de modo a conseguir-se que o projecto global não colidisse com a estratégia de desenvolvimento de cada um dos concelhos e que se reunissem as sinergias necessárias a empreendimentos desta envergadura. Por exemplo, a colocação de um campo de futebol não me parece coincidente com os últimos desenvolvimentos verificados nos dois concelhos e, por outro lado, um Museu do Mar ou dos Pescadores faria todo o sentido se perpetuasse a história rica de uma população que, ao longo dos tempos, se desenvolveu nos dois territórios.
Neste estudo mais aprofundado da intervenção em toda a área, e por razões óbvias que se prendem com a localização geográfica e com a “complementaridade para terra”, seria importante discutir, também, a eventual “permuta” de espaços das funções associadas à pesca pelos que se relacionam com o turismo associado ao mar.

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Guinchinho IV



O ritual de praia, cerveja, futebol e marisco só foi interrompido no momento em que cumpriu o serviço militar, em 1979. Ofereceu-se como voluntário para a marinha mas rapidamente constatou que gostava muito do mar de Promar e não do de Lisboa ou de qualquer outra localidade do litoral. Por isso, quando concluiu o serviço militar obrigatório jurou que nunca mais sairia de Promar e que assentaria toda a sua vida na terra que o tinha visto nascer.
Nos últimos anos os seus descuidos alimentares associados à sua baixa estatura agravaram o visual, facto que era acentuado pela escolha pouco apropriada dos calções de praia. Era o indivíduo com a “tanga” mais estreita de todos os banhistas. A combinação da baixa estatura, da barriga pronunciada e da curta tanga originava um efeito de nudismo dado que o rabo, os tomates e a pixota ficavam tapados pela mistura das banhas morenas com o reduzido tecido do calção.

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Guinchinho III



Imagem:

O Guinchinho, tinha abandonado a escola e, desde 1979, trabalhava quatro meses (Junho, Julho, Agosto e Setembro) como nadador salvador e descansava os restantes oito. No entanto, na prática, ele fazia a mesma actividade durante os doze meses do ano ou seja, praia, sempre que não chovia torrencialmente, só que, nos quatro meses de Verão, era remunerado por esse facto. Escolhia sempre o horário da manhã (oito – catorze horas), mas só saía da praia quando o sol desaparecia no horizonte. Não me lembro de o ver, durante o dia, com uma indumentária que não fosse o calção e a camisola de manga curta, com as mangas dobradas para realçar os braços curtos mas musculados. Com o rendimento proveniente dos pagamentos efectuados pelo Instituto de Socorros a Náufragos ia, quase todas as noites de Verão, para o bar emborcar cerveja e comer navalheiras e camarão da costa, no dia imediatamente a seguir à recepção do dinheiro e amendoins e tremoços nos restantes dias. Não descansava enquanto não gastava o seu curto salário, sendo bastante generoso para com os amigos, pagando frequentemente, as contas totais com enorme prazer. Dada essa falta de apego ao dinheiro, não aceitava a forretice do Zé Graxa que, das poucas vezes que tinha autorização dos pais para sair, aproveitava o pagamento das rodadas dos amigos e, um pouco antes de chegar a sua vez, saía discretamente para não ter que pagar.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Razões para apoiar Renato Matos




O convite que me foi endereçado para ser Mandatário da candidatura de Renato Matos apanhou-me completamente desprevenido. Considero-me um indivíduo que tenta vencer “pequenas batalhas” no seu quotidiano como professor, mas discreto, que não aprecia ser o centro das atenções e, por isso, fiquei bastante admirado com a firmeza do convite.
Perante a vontade manifestada, entendi que era minha obrigação fazer mais do que votar Renato Matos e Partido Socialista, aceitando participar, das mais diversas formas, no apoio a esta candidatura. Ao fazê-lo, estarei apenas a fazer uma intervenção cívica que, espero, mereça a compreensão de quem tem acompanhado este blog, independentemente das respectivas opções de voto. Apesar do respeito que me merecem as restantes candidaturas, entendo que há necessidade de concentrar votos numa alternativa credível ao actual poder. Procurarei, de seguida, fundamentar a minha decisão, justificando as razões essenciais que, apesar da minha condição de independente, me levaram a apoiar as listas do Partido Socialista para as próximas autárquicas.
Há muito tempo que defendo a necessidade de romper com o modelo de exercício do poder autárquico na Póvoa. Estamos, há muitos anos, perante um executivo pouco aberto à crítica e à opinião divergente e que está, cada vez mais, convencido de uma suposta infalibilidade das suas próprias decisões. Esta convicção varia, no caso da Póvoa, na razão directa do tempo no poder. Isto é, quantos mais anos o exercem, mais convencidos estão das suas certezas. Sem querer, de modo algum, contribuir para o reacendimento do clima de conflitualidade que se verificou na Póvoa nos últimos anos, gostaria de deixar uma palavra para todos os que, por “delito de opinião”, viveram momentos pessoais difíceis que, paradoxalmente, estimularam minha vontade de participar de modo mais activo, através do blog Descarga. Espero, sinceramente, que se entre num novo ciclo na Póvoa, em que a existência de opiniões diferentes seja vista como algo de normal e enriquecedor e não implique o afastamento pessoal. Que se compreenda, de uma vez por todas, que quem ganha com a diversidade de opiniões é a Póvoa e são os poveiros.
Acompanhando, com interesse, a vida política local, constatei que, de um modo geral, houve uma coincidência entre as posições que me pareciam mais justas e as que o PS local sustentou. Destacaria as que se relacionam com o turismo, o ordenamento urbano, a mobilidade, o ambiente, o acesso e qualidade das águas e a pobreza e exclusão social. Reconheço que as posições tomadas sobre, por exemplo, os temas “Quintas e Quintas”, Zona E54”, “Construções na Areia”, “Qualidade das Águas” ou “Roteiro Social” permitiram que reconhecesse ao PS Póvoa e, muito em particular a Renato Matos, pertinência e enorme coragem para tentar constituir-se como alternativa credível. Agrada-me, também, que defenda uma espécie de “conciliação com o mar e com os pescadores” que se manifesta, não só, pela contribuição para a melhoria das suas condições de trabalho e para o auxílio à actividade neste mundo cada vez mais global e competitivo, como também pela exploração da sua vertente turística que, à semelhança de muitas outras localidades, poderá funcionar como um grande incentivo ao aumento do número de visitantes que combata a excessiva sazonalidade da nossa oferta turística.
Por outro lado, a candidatura do Partido Socialista apresenta um conjunto de características inovadoras que, na minha opinião, merecerá o apoio dos poveiros. Destacaria as seguintes:
- Inclusão de independentes em lugares de destaque que é demonstrativa de grande abertura à sociedade.
- Participação efectiva, e não apenas como resultado da lei da paridade, das mulheres. Destacaria a candidatura de Elvira Ferreira, como cabeça de lista, à Assembleia Municipal e de Adélia Postilhão e Alexandra Oliveira à presidência da Junta de Freguesia de Beiriz e Argivai respectivamente.
- Participação de muitos jovens que, na minha opinião e ao contrário do que muitos pensam, acrescentam valor a esta candidatura.
A liderar esta candidatura há, precisamente, um jovem que reúne um conjunto de condições pessoais e políticas invulgares e que são justificativas do meu apoio e, espero, o de muitos poveiros. Um dos aspectos que mais aprecio na acção política de Renato Matos relaciona-se com a colocação dos interesses da Póvoa num patamar claramente superior aos seus e aos do seu próprio partido. A sua oposição à instalação de portagens na Scut que nos influencia é demonstrativa da sua originalidade enquanto membro partidário.
Entendo que uma liderança de Renato Matos promoverá uma nova agenda política, muito mais virada para a criação de condições para um maior dinamismo económico apoiado na actividade turística, para as preocupações ambientais e sociais e para a qualidade de vida no nosso concelho do que para a construção de grandes obras de interesse duvidoso. Estou convicto que a mudança geracional na autarquia possibilitará a modernidade na gestão e o combate ao desperdício que favorecerá a implementação daquela nova agenda. Mas muito importante para mim é a firme crença de que com Renato Matos no poder haverá sempre uma postura aberta, construtiva e de busca dos consensos possíveis, na procura das melhores soluções para o nosso concelho.

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

"Temos Obra"



Se fizermos uma curta pesquisa sobre a conjugação destas duas palavras, encontraremos uma enorme quantidade de candidatos autárquicos, na sua esmagadora maioria Presidentes de Câmara ou de Juntas de Freguesia que, um pouco por todo o país, apelam ao eleitorado através deste slogan ou de outro semelhante.
Vários destacam a enorme capacidade para “fazer obra” ou “organizar evento”, sendo inúmeras as situações em que essa obra não é mais do que acto isolado, desenquadrado de qualquer tipo de visão estratégica para o concelho ou freguesia e que não se enquadra na promoção do desenvolvimento sustentável dos respectivos espaços, comprometendo até, em muitos casos, as gerações mais novas. O que é preciso é “mostrar obra”.
Estamos perante a “obra pela obra” e, em muitas situações, desperdiçam-se recursos para sustentar projectos cuja utilidade é, no mínimo, duvidosa.
Numa altura em que tanto se discute, também no plano nacional, o cuidado que se deve ter nos investimentos a efectuar, talvez fosse interessante rever uma interessante telenovela brasileira chamada Bem Amado, que passou, no início dos anos oitenta, em Portugal e em que o autarca, Odorico Paraguaçu, faz também a sua grande obra, neste caso um cemitério, mas depois não encontra “clientes naturais” para ela e, para justificá-la, contrata um assassino (Zeca Diabo) para poder proceder, finalmente, à sua inauguração.

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Guinchinho II

Pus-lhe o nome de Guinchinho porque apesar de forte e entroncado media apenas um metro e sessenta, facto que o desgostava imenso e lhe criava alguns complexos que eu normalmente aproveitava de forma maldosa. Para além de baixote, era trigueiro e estava cada vez mais escuro dado que ano após ano recebia a radiação solar através de uma pele cada vez mais carregada de iodo, sempre que aquela estava à disposição. Fazia praia de Janeiro a Dezembro, tomando sempre grandes banhos alternados com exercícios físicos como flexões, abdominais ou dorsais. Cada ano que passava executava esses exercícios com menor amplitude e intensidade. A sua silhueta era uma presença constante da praia rivalizando muitas vezes com as estátuas espalhadas pela vila. Para além do mar revelava uma grande paixão pelo futebol, jogando nas camadas jovens do Promarense na posição de defesa esquerdo. Segundo o seu treinador, tratava-se de um atleta “empenhado, raçudo, tecnicamente evoluído que apoiava bem o ataque”. No entanto, os colegas de equipa estavam sempre a culpá-lo pelos seus dois pontos fracos: a dificuldade no jogo aéreo devido à baixa estatura e a reduzida velocidade causada, provavelmente, pela vida pouco regrada. Ficava irritadíssimo sempre que os adversários faziam um golo de cabeça à sua beira ou atiravam a bola para a frente, para lhe ganhar vários metros na corrida. No entanto, como era duro e gostava pouco desse gozo, recorria, com muita frequência, aos encostos, às rasteiras e outros tipos de faltas grosseiras para parar os betinhos que tinham a mania que corriam muito ou que eram muito altos.

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Guinchinho I


Imagem: obiologoamador.blogspot.com


O Guinchinho era um tipo muito especial porque apresentava um conjunto de características muito difíceis de encontrar noutro promarense. Apesar de filho de pescador (o seu progenitor era um destemido e respeitado mestre) não revelava a vocação do seu pai e, apesar de gostar muito do mar, apreciava sobretudo a actividade lúdica que proporcionava e não a produtiva. Dado que era um nadador exímio, um rapaz corajoso e um apreciador do sol e dos banhos do mar, fez um curso de nadador salvador e, todos os verões, tomava conta de uma parte significativa da praia, estando sempre atento aos banhistas menos ágeis, às crianças, aos idosos e, sobretudo, às meninas que circulavam na linha da maré. Apesar de conseguir arranjar, com grande auxílio dos famosos calções vermelhos e da camisola branca SN (Socorro a Náufragos) estampada, algumas namoradas, ninguém o pode acusar de não cumprir o seu dever. Foram muitas as situações em que salvou banhistas atirando-se a mares tempestuosos com a mesma coragem que ilustres antepassados que, por todo o litoral português, se lançaram a tarefas de salvamento. Guinchinho era um miúdo que adorava o mar e o peixe no prato. Detestava o trabalho de pescá-lo e, por isso, foi encontrando expedientes diversos para atrasar as experiências com o pai na embarcação “Nossa Senhora do Socorro”. Por seu lado o pai, profundo conhecedor dos perigos da actividade acabava por aceitar a falta de iniciativa do seu filho, desejando-lhe um futuro mais seguro e, naturalmente, em terra. No entanto, o Guincho tinha uma ambição bem diferente. Pretendia ser “Fuzileiro Naval”, aguardando pelo momento apropriado para o conseguir. Esperava que, quando fosse para a tropa, ficasse destacado naquele grupo militar especial de modo a subir um importante degrau na escadaria de uma vida que, pretendia, de íntima ligação com o mar e com a aventura.

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Protecção nas praias


Imagem de: http://garatujando.blogs.sapo.pt/

Aproveitei o penúltimo dia deste mês para fazer praia no meu local de eleição na Póvoa, no seguimento da Avenida Santos Graça. Como era o último Domingo de Agosto assisti, com enorme prazer, a situações que me fizeram lembrar outros tempos, em que os “banhistas” muito pouco habituados ao contacto com o mar, tomavam banho vestidos, agarrados às cordas que prendiam o pipo e alguns, mais corajosos, aventuravam-se a nadar, com a cabeça bem levantada e fora da água.
No entanto, com o decorrer do dia, o prazer foi substituído pela apreensão. Em primeiro lugar, um desses banhistas ficou sem pé, e não fosse a imediata intervenção de dois poveiros que se encontravam nas proximidades e, provavelmente, teria acontecido uma fatalidade. Todas as pessoas que se encontravam por perto lamentaram a inexistência de qualquer tipo de actuação por parte dos nadadores salvadores que, apesar da bandeira amarela, não executavam trabalho preventivo. Lembramo-nos, com saudade e reconhecimento, do modo diferente de actuar, muito atento e interventivo, que antigos nadadores salvadores impunham na tarefa de vigiar as praias. Aliás, o meu próximo post, será precisamente sobre um grande nadador salvador de Promar chamado Guinchinho.
Durante a tarde, da apreensão passei para o desassossego total já que, com a descida da maré, começaram a surgir novos grupos de visitantes que corriam, a velocidades estonteantes pelo areal até à água, mergulhando de modo totalmente descoordenado para um mar pouco profundo e rodeado de penedos que pareciam aguardar ansiosamente pela tragédia. (Não será possível uma pequena placa informativa?)
Fui para casa, a lembrar-me dos documentários do National Geographic em que os crocodilos, bem escondidos, aguardam que os animais se atrevam a atravessar o rio.

sábado, 15 de agosto de 2009

Altura City



Há muitos anos que, durante a primeira quinzena de Agosto, mudo-me de armas e bagagens e com a minha família, para uma pequena localidade chamada Altura. É a segunda maior freguesia do concelho de Castro Marim com apenas 2000 habitantes de população residente. No entanto, à semelhança da Póvoa, recebe muita população vinda de diversos pontos do país e do estrangeiro, revelando, contudo, alguma resistência ao “progresso” que invadiu a nossa cidade.
Não tem muitos dos serviços que a Póvoa disponibiliza, mas, em contrapartida, oferece-nos um areal imenso, sem construções, e um mar delicioso.
Em terra, não sendo perfeita e sentindo-se algumas dificuldades no funcionamento da ETAR (sina que me persegue) e tendo, também, a sua “Torre”, o Eurotel, ainda dominam habitações unifamiliares e edifícios baixos, pouco volumosos e típicos da região.
Não foi pressionada, como grande parte das terras do litoral algarvio, pela construção e resistirá, talvez mais alguns anos, à inevitável invasão do “progresso e modernidade”. Nessa altura, terei que encontrar outro espaço por explorar para carregar as minhas baterias.
Consegui, nestes quinze dias, resistir à tentação da escrita e, atendendo aos últimos desenvolvimentos, vou ter que regressar ao Descarga, quanto mais não seja para justificar a minha tomada de posição sobre as eleições autárquicas que se avizinham.

sexta-feira, 31 de julho de 2009

Eu gosto é do Verão

Vou de férias com a prancha na mão. Na outra levo o portátil, não vá dar-se o caso de me apetecer blogar. Vou tentar resistir e não comentar as próximas declarações sobre salmonelas, confrarias e afins. Vou-me contentar, e não é pouco, com a leitura dos blogues da minha lista e vou reler, pelo menos, o livro “A Festa do Chibo” de Vargas Losa, porque cada vez mais sinto esta obra actual e universal e aplicável em diferentes escalas de análise.
Espero regressar refrescado e rejuvenescido para participar, discreta mas activamente, nos importantes momentos que se avizinham.


segunda-feira, 27 de julho de 2009

Salmonelas, contenham-se!!!



A declaração política apresentada pelo presidente e pelos vereadores eleitos pelo partido social-democrata, na reunião de Câmara do passado dia seis de Julho sobre a questão das salmonelas, é um documento infeliz, agressivo e demonstrativo de uma certa falta de “sentido de estado” e de respeito pelo funcionamento das instituições.
Para além de, na minha opinião erradamente, retomar uma discussão que não devia interessar à sua própria agenda política dado que a ETAR ainda não é uma realidade, emprega um tom irónico, triunfal, e até avassalador que é muito difícil de entender como resultado de uma reflexão política discutida e avaliada. Alguma da terminologia utilizada até seria compreensível num contexto de debate político numa reunião de Câmara ou da Assembleia, mas dificilmente encaixa numa declaração política desenvolvida racionalmente.
Expressões como “(…) E ninguém, com medo do bicho, se atrevia a perguntar-lhe por que aparecia aqui, e não mais a sul, nem mais a norte” ou “O mérito da visita da salmonela só não foi um exclusivo dessa diligente técnica de saúde pública porque uma conhecida confraria política(…)” são demonstrativas de uma forma de fazer política que pede meças a alguns responsáveis sobejamente conhecidos da nossa praça e cujo expoente máximo é o presidente do Governo Regional da Madeira.
Mas a cereja no topo do bolo deste documento é a apologia do unanimismo em torno da “verdade absoluta” do poder, várias vezes referida, por mim, neste blog e que tem tradução no último período da declaração: “O caso é tão evidente quanto é certo que, nesta matéria, os demais partidos da oposição souberam, responsavelmente, conter-se.”
Poveiros: confiem na qualidade do nosso poder e, não se esqueçam, contenham-se.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Caridade

Os tempos actuais são cada vez mais difíceis para a generalidade dos portugueses que, como sabemos, estão sujeitos a uma crise económica sem precedentes que está a provocar o aumento assustador do desemprego e, consequentemente, das manchas de pobreza e até de fome.
Paralelamente, tomámos contacto com um grande número de iniciativas que, supostamente, pretende fazer face a este agravamento das condições sociais em que o país vive. Algumas, partem da iniciativa dos diversos níveis de poder: central, regional e local e outras encaixam naquilo a que vulgarmente apelidamos de caridade.
Desde muito novo que tenho muita dificuldade em compreender a esmagadora maioria das acções de caridade. Não vejam esta minha posição como sendo egoísta, invejosa ou pretensiosa. Resulta antes da enorme dificuldade em encontrar, ao longo do meu tempo de vida, exemplos de práticas indiscutíveis caritativas.
Recordo-me dos tempos de infância e da realidade da minha, então linda, vila em que esposas das famílias mais poderosas se entretinham, e o termo correcto é mesmo esse, entreter, a ajudar o próximo, reunindo, sobretudo na época natalícia, algumas roupas e brinquedos para as franjas mais empobrecidas da população poveira. Alguns maridos, tinham uma prática, no seu quotidiano, que em muitos casos, contribuía para a referida pobreza, como, por exemplo, baixíssimos salários nas suas empresas e mesmo, alguns anos mais tarde, instigação à aceitação de rescisões de contrato injustas e, nalguns exemplos conhecidos de todos os poveiros, acompanhadas de fortes mecanismos de coacção.
Tendo noção que para algumas dessas mulheres estarei a ser injusto, parece-me indiscutível que seria preferível que as ditas famílias tivessem canalizado as suas energias para, no dia-a-dia, práticas mais correctas, menos potenciadoras da pobreza e da exclusão proporcionando, quase de certeza, a existência de uma sociedade mais coesa do ponto de vista social.
No entanto, temos que reconhecer que, infelizmente, nas últimas décadas muitas das acções de caridade foram para níveis absolutamente inaceitáveis dado que o conceito de caridade como ajuda desinteressada, foi completamente adulterado por situações em que “novos poderosos” participam em acções caritativas tendo como objectivo principal todo o tipo intenções menos a da ajuda ao próximo. Os objectivos que saltam à vista de todos vão desde a tentativa de obtenção de dividendos políticos, à integração em determinados grupos sociais ou organizações ou apenas e só a oportunidade de ser notícia, desejavelmente com imagens de vestidos ou fatos bonitos nos jornais.
Apesar de me identificar, sem qualquer tipo de dúvida, com os ideais de liberdade de escolha proporcionados pela longínqua Revolução de Abril tenho de reconhecer que muitos dos eleitos pelo povo desvirtuaram completamente as regras de decência que deviam estar presentes no serviço de causas públicas. Alguns deles, conseguem destacar-se nas acções de caridade dos nossos dias porque, pura e simplesmente, criaram esquemas vários de favorecimento pessoal no relacionamento com algumas empresas dependentes de obras ou serviços dos organismos públicos e, por esse motivo, não têm qualquer tipo de dificuldade em desviar recursos para acções concretas de caridade. Muitas vezes, no calor de uma reunião ou jantar com muitos potenciais eleitores, prometem, de forma aparentemente instintiva, concretizar algumas dessas acções caritativas utilizando recursos públicos ou até, coitados, dinheiro dos seus próprios bolsos.
Em todos estes momentos onde podemos situar as acções altruístas?
Por todas estas razões dou um enorme valor a todos os indivíduos, crentes ou não, enquadrados por Missões, Organizações Não Governamentais ou mesmo a título individual que, por esse mundo fora e de modo totalmente anónimo, participam em acções de ajuda ao próximo em situações bastante difíceis, muitas vezes associadas a regiões de guerra, fome ou, simplesmente, de pobreza e exclusão.

terça-feira, 21 de julho de 2009

Avaliação Simplex



Imagem extraída de ocantinhodaeducacao.blogspot.com/




Como é do conhecimento público, a equipa do Ministério da Educação produziu um sistema de avaliação que, depois de forte contestação dos professores nos dois últimos anos, foi sucessivamente simplificado até à situação actual em que “se faz de conta que há uma avaliação”.
Esse sistema, basicamente, assenta na ideia da fixação de objectivos individuais que, um pouco por todo o país, não são mais do que uma “cópia e cola” de uma série de generalidades que estão na lei ou nos projectos educativos das diversas escolas. Para além disso há um momento reflexivo, de autoavaliação dos professores, que culmina a suposta avaliação.
Na prática nada mudou nas escolas. Quem era dedicado e profissional continuou a dar o máximo pelos seus alunos, independentemente de ter ou não participado no “faz de conta” da entrega dos tais objectivos individuais. Só que no momento em que procedeu ao trabalho reflexivo, ou seja, quando fez a sua autoavaliação, foi confrontado com dois tipos de respostas do “Directores das Escolas”:
Em muitas, os professores foram avaliados e são aceites os documentos de autoavaliação dos professores., independentemente de terem ou não entregue os objectivos individuais.
Noutras, dirigidas por zelosos funcionários das extensões da burocracia, os professores não foram avaliados dado que não entregaram as tais cópias dos objectivos individuais do “faz de conta”.
Perante esta tremenda injustiça local, regional e nacional, o Ministério da Educação não dá resposta que corrija as desigualdades de tratamento de situações idênticas, refugiando-se numa suposta autonomia das escolas que não é mais do que um autêntico “assobiar para o ar”.
Entretanto, verificámos que, no nosso concelho, essa desigualdade de tratamento já está instituída e este post é inteiramente dedicado a todos os colegas a quem está a ser recusada a avaliação pelo simples facto de não terem entregue os papéis da farsa.

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Caça à multa


Num destes fins-de-semana assisti a uma situação que, no mínimo, é caricata. Estava a regressar a casa e assisti a uma autêntica caça à multa por parte de um membro da Polícia Municipal. Na rua Conselheiro Abel Andrade, que estabelece a ligação entre a Escola Secundária Eça de Queirós e a Avenida Mousinho de Albuquerque, e num Sábado completamente parado em termos de trânsito, pelo menos naquela parte da cidade, estavam dois ou três carros estacionados de uma forma perpendicular à própria rua. Os proprietários eram, provavelmente, turistas que não tinham grande, ou mesmo nenhum, conhecimento do local. No entanto, no piso, estavam marcações antigas que sugeriam aquele tipo de estacionamento e, nem depois de confrontado com esse facto, o agente refreou o seu ímpeto punitivo. Mais importante do que multar os referidos carros, seria elaborar um relatório sobre a situação para que fosse corrigida e não voltasse a induzir em erro os nossos visitantes.
No entanto, esta azáfama da Polícia Municipal, dificilmente pode ser enquadrada numa função reguladora do trânsito já que, nesta e noutras situações, actua sobre quem menos perturba. Aliás, se fossem coerentes, nem precisavam de sair das suas próprias instalações para usar o reboque, já que o estacionamento dentro do parque do antigo quartel é feito, por muitos, de forma abusiva.
Mas esta questão da caça à multa, vai muito para além do exercício profissional de um agente e só pode ser enquadrada, em termos estratégicos e mesmo tácticos, na necessidade de obrigar os automobilistas a usar um dos “ex libris” da cidade, ou seja o caríssimo parque de estacionamento da Avenida Mousinho de Albuquerque.

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Para variar, boas notícias



Depois de uma polémica despoletada pelo Presidente da Câmara da Póvoa de Varzim sobre a qualidade das águas do nosso mar, que teve tanto de descuidada como de desnecessária, fomos informados que, em princípio, teremos a Estação de Tratamento de Águas Residuais a funcionar dentro de um ano. (ver aqui)
Trata-se, sem dúvida, de uma boa notícia para o nosso concelho e para Vila do Conde. Iremos assistir, provavelmente nas festividades do São João/São Pedro, a mais uma inauguração de uma grande obra que, naturalmente, omitirá todos os erros do processo, nomeadamente a teimosia na insistência em soluções ultrapassadas que, felizmente, não foram financiadas pela União Europeia, "obrigando" os responsáveis dos dois concelhos a procurar esta solução conjunta.

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Mecanismos de perpetuação no poder


Nesta minha curta experiência com o Descarga, tenho que, frequentemente, fazer pesquisa para que os artigos colocados mereçam a confiança do grupo que visita este espaço, como também para colocar seriedade nas opiniões que dou, pretendendo que tenham o máximo de sustentação possível. Nesta tarefa de procura da informação, e quando abordo temas de política local, consulto regularmente o conteúdo das actas das reuniões de Câmara e, sinceramente, está lá implícita, e até explícita, a razão, atendendo ao paradigma actual, pela qual o poder, depois de conquistado, é facilmente mantido.
No meu círculo de amigos dizem-me, frequentemente, que “o processo é igual em todo o lado: local, regional e nacional”. Acredito que assim seja, mas, na minha opinião, a nossa terra e o nosso país seriam bem melhores se o paradigma da actuação fosse completamente diferente. Menos conjuntural e mais estrutural.
Se os leitores consultarem, aleatoriamente, as actas, constatarão que a tarefa centra-se, muito, no atendimento às pretensões de um número enorme de instituições desportivas, culturais, musicais e mesmo religiosas, que solicitam os apoios mais diversos, muitas vezes monetários, e que, invariavelmente, vêem atendidos seus pedidos.
Só para dar um exemplo, na reunião do dia 15 de Março de 2004, foram atribuídos, entre subsídios globais ou parciais, apoios a iniciativas e até à regularização de despesas com uma sede de um “clube de bairro”, valores que, no seu conjunto, ultrapassam os 65000 euros.
Não me atrevo a colocar em causa a bondade e a importância das instituições apoiadas que, muitas vezes com muita dedicação, possibilitam aos nossos munícipes a prática desportiva e o acesso a eventos culturais ou religiosos. No entanto, atrevo-me a discordar desta forma de governar casuística e muito pouco estrutural e que não aborda, do ponto de vista estratégico, o essencial do que devia ser o conteúdo das discussões de um órgão de tão grande importância. Dá-me a nítida sensação que o executivo, neste contexto, responde a solicitações e não consegue antecipar as reflexões e decisões que se justificam.
Faria muito mais sentido produzir um levantamento das necessidades de todas essas instituições solicitando-lhes, num momento preciso do ano, a entrega dos respectivos planos de actividades com calendarização prevista, tipo de apoio solicitado e respectiva fundamentação para que, numa apreciação global por parte da autarquia, se decidissem os apoios a disponibilizar, segundo critérios bem definidos e conhecidos de todos. Desta forma criar-se-iam importantes sinergias e, mais importante, impulsionava-se uma cultura de responsabilização, através da comprovação das “iniciativas acordadas”, que combateria o desperdício e libertaria verbas para intervenções noutras áreas, nomeadamente na social.
Por outro lado, e voltando à questão da manutenção do poder, a forte ligação estabelecida com todas essas instituições cria, sem dúvida, uma espécie de rede, que torna felizes um grande número de conterrâneos que, perdoem-me a dureza, a troco dos sorrisos e da simpatia no momento de um evento ou da entrega de uma braçadeira com a inscrição “organização”, ou “staf” como está agora na moda, de uma prova, por exemplo, de futebol inter-freguesias, atletismo ou ciclismo, origina uma cumplicidade com o actual poder que, depois, tem tradução nos actos eleitorais. Acresce a esta rede, o elevado número de funcionários da Câmara que, em muitos casos, têm uma forte ligação aos seus superiores. A enorme dependência da imprensa local das verbas publicitárias da autarquia contribui, também, para aquilo a que chamo “perpetuação no poder”.
Na minha opinião é muito difícil desmontar esta rede, o que torna a disputa eleitoral, por parte de quem realmente quer ser oposição e intervir neste estado das coisas, um acto de cidadania, de enorme coragem e, acima de tudo, de muita, mas mesmo muita solidão.

sexta-feira, 10 de julho de 2009

Lembram-se do exutor submarino?


Imagem extraída do arquivo de http://www.peliteiro.com/




Procurei resistir à tentação de escrever sobre este tema, mas não consegui. O tom duro com que o Presidente da Câmara da Póvoa se dirigiu à Delegada de Saúde obriga-me, neste espaço, a tomar posição. Não questiono o aspecto muito particular das “obrigações” da Delegada, nomeadamente da interpretação das circulares da Direcção Geral de Saúde, mas sim a “legitimidade moral” para exercer a crítica numa área em que, claramente e para mim, apresenta debilidades.
Se existe sector onde o principal responsável político da nossa autarquia devia ser comedido, era precisamente na questão do tratamento dos resíduos que são despejados directamente no mar. Gostaria de recordar que, durante muitos anos, foi defendida, pelos responsáveis, uma opção que, já na altura era vista por muitos como tudo, menos como solução.
Defenderam, com enorme convicção, um exutor submarino que lançaria a”porcaria” no alto mar que depois, com a sua imensidão e força, se encarregaria de “limpar”. Acompanhei todo o processo e recordo-me que, já naquela época, especialistas na matéria afirmavam que esse tratamento primário não resolveria o problema e, se a memória não me engana, esse projecto não foi apoiado pela União Europeia porque já se estava na fase do incentivo aos tratamentos mais avançados para este tipo de problemas.
Os elevados custos desses tratamentos implicavam, inevitavelmente, sinergias que, felizmente, vieram a ser procuradas mais tarde, surgindo a solução conjunta para a Póvoa e Vila do Conde de construção de uma ETAR. Aguardemos que se construa rapidamente e deixemo-nos de guerras, que nos desviem do essencial da questão, até porque, é uma obra importantíssima para a Póvoa e vai ficar pronta com, pelo menos, uma década de atraso.