segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Guinchinho II

Pus-lhe o nome de Guinchinho porque apesar de forte e entroncado media apenas um metro e sessenta, facto que o desgostava imenso e lhe criava alguns complexos que eu normalmente aproveitava de forma maldosa. Para além de baixote, era trigueiro e estava cada vez mais escuro dado que ano após ano recebia a radiação solar através de uma pele cada vez mais carregada de iodo, sempre que aquela estava à disposição. Fazia praia de Janeiro a Dezembro, tomando sempre grandes banhos alternados com exercícios físicos como flexões, abdominais ou dorsais. Cada ano que passava executava esses exercícios com menor amplitude e intensidade. A sua silhueta era uma presença constante da praia rivalizando muitas vezes com as estátuas espalhadas pela vila. Para além do mar revelava uma grande paixão pelo futebol, jogando nas camadas jovens do Promarense na posição de defesa esquerdo. Segundo o seu treinador, tratava-se de um atleta “empenhado, raçudo, tecnicamente evoluído que apoiava bem o ataque”. No entanto, os colegas de equipa estavam sempre a culpá-lo pelos seus dois pontos fracos: a dificuldade no jogo aéreo devido à baixa estatura e a reduzida velocidade causada, provavelmente, pela vida pouco regrada. Ficava irritadíssimo sempre que os adversários faziam um golo de cabeça à sua beira ou atiravam a bola para a frente, para lhe ganhar vários metros na corrida. No entanto, como era duro e gostava pouco desse gozo, recorria, com muita frequência, aos encostos, às rasteiras e outros tipos de faltas grosseiras para parar os betinhos que tinham a mania que corriam muito ou que eram muito altos.

Sem comentários:

Enviar um comentário