segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

O jornal da casa


Fonte da imagem: http://adevidacomedia.wordpress.com/2009/03/11/clube-dos-jornalistas/

O hábito da leitura de jornais foi, desde muito cedo, incutido em mim e nos meus irmãos, pelos meus pais, mais concretamente pelo meu pai. Recordo bem a rotina da sua chegada a casa, após mais um dia de trabalho no Porto. Não tinha tempo de pousar o jornal porque, pura e simplesmente, era abalroado por qualquer um dos meus irmãos. Aqueles pedaços de papel, numa época o Primeiro de Janeiro e mais tarde o Jornal de Notícias, eram tão valiosos que originavam, quase sempre, a sua fragmentação. Os meus irmãos disputavam, entre si e em função dos seus interesses, as diversas páginas do jornal que, provisoriamente, ficava decomposto mas, mais tarde e com enorme paciência, o meu pai voltava a ordená-lo como se fosse um importante documento para guardar.
Nos últimos anos de vida, fazia questão de comprar o Jornal de Notícias e criticar todas as pessoas que, com muita mais capacidade financeira do que ele, esperavam ansiosamente pela sua vez para lerem os “jornais da casa”, dado que o investimento na leitura, para eles, era supérfluo. Agora, sempre que vou a um café observo os comportamentos relativamente ao jornal da casa e constato que são, muitas vezes, os que têm mais recursos a sujeitarem-se a longas esperas para chegar a sua vez de ler o jornal, havendo até situações em que se atropelam para tomar a sua vez ou, como já me aconteceu, solicitarem o meu jornal de um modo brusco, ignorando que este foi por mim adquirido.
Estando muito mais próximo do consumerismo do que do consumismo e não sendo um fundamentalista da propriedade privada, estou muito tentado a oferecer uma moeda ao próximo chato que me interrompa com a pergunta:
-É o jornal da casa?

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

A importância da reabilitação urbana


Fonte da imagem:

Segundo dados referentes a 2009, disponibilizados recentemente, Portugal é dos países da União Europeia que, em termos absolutos e relativos, menos investe na reabilitação residencial. Enquanto, por exemplo, na Alemanha o sector da reabilitação representava 32% da produção total da construção, Portugal apresentava um peso quase residual de 6%. Esta infeliz tendência prolonga-se para os edifícios com outras funções, nomeadamente os que são utilizados pelo estado para funções políticas e administrativas que estão, em muitos casos, mal dimensionados e a necessitar de intervenções urgentes.
Constantemente, nas cidades, somos confrontados, com dinâmicas que levam à execução de novas construções e, infelizmente, é o próprio estado, através do poder central e local, que fomenta esta espécie de vício de “acabar uma construção e começar outra”. Com esta tendência, as zonas mais antigas das cidades degradam-se, acentuando a tendência para a desertificação e para o aumento de problemas sociais e de segurança.
A comunicação social refere, hoje, o eventual lançamento, em 2010, de um programa extraordinário de apoio à reabilitação urbana, que será bem-vindo, mas é necessário ter consciência que o desafio implicará um esforço de sucessivas gerações e de múltiplos agentes, públicos e privados.
Apesar de, felizmente, não sentirmos esses problemas com a dimensão e gravidade de outras cidades, parece-me indiscutível que, também na Póvoa, a regra geral de sucessivas novas edificações se aplica, tendo surgido recentemente uma alteração aos instrumentos de planificação para incentivar novas construções.
Torna-se urgente uma mudança radical de paradigma nas políticas para o sector da construção, valorizando o sector da reabilitação urbana. Essa alteração, poderia ter impactos positivos não só na qualidade de vida das cidades como também ao nível da criação de riqueza e de emprego. Procedendo a uma espécie de adaptação dos aspectos positivos do programa de remodelação das escolas secundárias referido no último post, poderiam surgir intervenções em edifícios públicos, permitindo o redimensionamento dos espaços que, de um modo geral, são exagerados, libertando recursos financeiros para a implementação desta nova política.
Reconheço que a tarefa é difícil e geracional e que, para a implementar, é necessária intervenção numa área sensível como o arrendamento. No entanto, e pelo exemplo de países mais desenvolvidos do que o nosso, o caminho não será o da permanente edificação de novas construções e o abandono da esmagadora maioria dos antigos.

sábado, 16 de janeiro de 2010

Remodelação da Rocha Peixoto


Imagem: Póvoa Semanário

No dia 2 de Julho publiquei, neste espaço, um post, em que elogiava o programa de remodelação das escolas secundárias, levantando porém algumas questões relacionadas com os eventuais custos de manutenção dos novos equipamentos.
Na mesma semana em que, formalmente, se procedeu à inauguração da “nossa” Escola Secundária de Rocha Peixoto foi dado a conhecer à imprensa um relatório da OCDE que elogiava este programa, nomeadamente no que diz respeito ao aproveitamento de fundos europeus, rapidez de execução e modernização dos espaços. Este projecto de remodelação poderá funcionar, segundo o mesmo relatório, como “modelo para aplicação internacional”.
O dia 16 de Janeiro é um dia marcante para todos os que sentem a escola, quer sejam alunos, professores, funcionários, pais e restantes membros da comunidade educativa. No entanto, apesar da satisfação em trabalhar num espaço renovado, gostaria de referir que, no relatório da OCDE, se apontam algumas dúvidas sobre os custos a longo prazo de “energia, limpeza e manutenção” que, espero, não se confirmem. No essencial, essas dúvidas são as mesmas que, no nosso quotidiano profissional, apontamos e que foram lançadas no referido post de Julho.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Catástrofe no Haiti

Sempre que estamos um pouco mais distraídos, a natureza coloca-nos à prova, através da sua força e imprevisibilidade. As catástrofes associadas a causas naturais acompanham a história do homem, funcionando como espécie de “marcador” e de auxiliar de memória do enquadramento temporal. Pompeia, destruída e soterrada pela erupção do vulcão Vesúvio em 79 d.C, marca um momento importante da história da civilização e o terramoto de 1755 ainda hoje funciona como ponto de referência para a nossa história.
Parece que estas catástrofes naturais actuam propositadamente nos locais onde as infra-estruturas apresentam menor capacidade e onde o grau de desenvolvimento dos países é menor, dificultando as iniciativas de apoio e recuperação. Toda a informação sobre o terrível sismo no Haiti coloca-nos perante a impotência do homem perante algumas forças da natureza e o que nos resta é poder contribuir, de algum modo, para que haja condições para o auxílio.
Dois elementos da AMI já estão a caminho do país para fazer um levantamento das necessidades no terreno e, entretanto, a Cruz Vermelha e a Cáritas portuguesas disponibilizaram uma pequena verba para ajuda de emergência e abriram contas específicas para prestar apoio. A ajuda pode ser prestada da seguinte forma:
Cruz Vermelha Portuguesa: donativos nas caixas multibanco ou através do netbanco, na opção "pagamento de serviços", marcando 20999 na entidade, e 999 999 999 na referência; pode ainda ser feito depósito ou transferência bancária nas contas da Cruz Vermelha Portuguesa - Fundo de Emergência, disponíveis em nove instituições bancárias.
Cáritas Portuguesa: donativo na conta Cáritas Ajuda Haiti, com o NIB 003506970063000753053, da Caixa Geral de Depósitos. Pode utilizar também este link.

domingo, 10 de janeiro de 2010

Estratégia para as cidades

Na edição do jornal Público do passado dia 3 de Janeiro, surgiu um interessante artigo sobre a ausência de estratégia que a esmagadora maioria das cidades portuguesas revela. Baseado nos estudos de uma equipa liderada pelo Vice-reitor da Universidade do Minho, José Mendes, investigador na área do Planeamento Regional, o artigo refere que, de um modo geral, as cidades portuguesas investiram quase só nas infra-estruturas básicas e nos equipamentos e, passados tantos anos, continuam a fazer o mesmo. Segundo José Mendes, as cidades já deveriam estar, há muito tempo, a utilizar o dinheiro disponível no quadro comunitário de apoio menos em obras físicas e mais em iniciativas imateriais que permitam a construção de uma forte identidade e especificidade e que, com isso, atraiam mais empresas e fixem mais pessoas, sobretudo jovens e talentosas, que são condições essenciais para o desenvolvimento económico e social do espaço em que vivem. Utilizando a imagem da linguagem informática afirma que, salvo honrosas excepções, as cidades têm o seu “hardware” montado mas, em contrapartida, como não apostam nas pessoas, não fazem correr o “software”, ficando condenadas ao insucesso. Aponta algumas excepções como Óbidos e Guimarães, várias vezes citadas neste blog, que conseguiram encontrar os seus “pontos fortes” e, desde então, não param de os potenciar.
Na minha opinião, e tal como tenho referido várias vezes neste espaço, a nossa cidade, apesar do seu potencial, enquadra-se bem na regra definida por José Mendes.
O trabalho de identificação dos nossos pontos fortes está feito?
Estão identificadas as nossas especificidades?
É segura a nossa identidade?
É clara e conhecida a visão que os responsáveis autárquicos têm para a cidade e concelho?
Na minha opinião, infelizmente não!
Tal como a generalidade das cidades portuguesas preocupou-se apenas e só com as “obras”, ou seja com o “Hardware”. No que diz respeito ao reduzido “investimento nas pessoas” desenvolve, há tempo a mais, uma série de iniciativas rotineiras, desenquadradas de uma visão estratégica de potenciação do desenvolvimento e de valor altamente discutível, que culminam, no final do ano, com o autêntico desperdício de energias e de recursos e que funciona como espécie de “cereja no topo do bolo” do actual poder, o circunspecto Encontro pela Paz.
No entanto, a nossa cidade e concelho apresentam um conjunto de condições que, devidamente aproveitadas e trabalhadas, poderiam originar uma realidade mais distinta e desenvolvida. A vizinhança do mar, a grande linha de costa, a história rica e muito associada à actividade piscatória, as praias com uma beleza especial, o contraste actividade piscatória/jogo, diversão nocturna/casino/outros, o porto de pesca e a marina, o clima ameno e o relevo suave, a fertilidade do solo de algumas freguesias, a inserção na Área Metropolitana do Porto, a proximidade de cidades importantes e com forte pólos universitários, a existência de um desses pólos no nosso território e a facilidade de deslocação para as empresas e jovens universitários que optem por se instalar no nosso concelho, são apenas alguns dos elementos dispersos que poderiam contribuir, com o cimento correcto, para um concelho muito mais dinâmico, desenvolvido e atractivo.
Não chega definir um ou vários slogans e espalhá-los em cartazes publicitários. É preciso trabalhar uma ideia de cidade e desenvolver um conjunto de acções que permita, passo a passo, a concretização dessa ideia, mudando completamente a actividade rotineira que caracteriza o nosso concelho. Infelizmente, estamos condenados, nos tempos mais próximos, a continuar as obras pelas obras, inundando-nos de “Hardware” sem aproveitamento e perdendo tempo e oportunidade para desenvolver as acções que já se impunham há muito tempo.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Curiosidade

No nosso país, a maioria das pessoas que se candidatam, com sucesso, a um cargo público, abandonam o nome que habitualmente usavam. A partir do momento em que são eleitos ou escolhidos, e para além das inúmeras alterações no visual, surge uma autêntica revolução ao nível da grafia e do som. Assim, ministros, deputados, autarcas e gestores deixam de ser tratados pelos seus nomes habituais, normalmente o primeiro e o último, e passam a ser conhecidos pelo nome, ou conjunto de nomes que melhor combine. Esta situação faz com que, muitas vezes, afirmemos desconhecer o novo responsável pelo cargo X ou Y e, afinal, trata-se do conhecidíssimo Tone. É o marketing político em acção, e em vez do antigo Tone, Xico ou Manel, surgem, através de um autêntico passe de mágica, o Ferreira de Campos, o Carvalho Amorim ou o saudoso Teixeira da Cunha.

sábado, 2 de janeiro de 2010

A questão do preço da água


Um dos temas mais em foco nos últimos tempos foi o do preço da água. No último acto eleitoral esta questão esteve presente no debate político em muitos municípios, incluindo no da Póvoa de Varzim. Também na definição do tarifário para 2010, houve discussão, controvérsia e decisões diferentes. Uns, seguindo as orientações “liberalizadoras” do Plano Estratégico de Abastecimento de Água e de Saneamento de Águas Residuais (PEAASAR II) e do famoso princípio do utilizador pagador, optaram por continuar a reflectir no consumidor os custos globais que estão a montante da sua produção, enquanto outros, fundamentando as suas decisões nas preocupações sociais, optaram por utilizar uma maior fatia do orçamento municipal para compensar os referidos custos. Houve ainda outros, como Vila Nova de Gaia, que optaram por “soluções de compromisso” alargando os escalões de pagamento tentando favorecer as famílias mais carenciadas.
Aproveitando a forte discussão a que este tema foi sujeito no nosso concelho, convido-vos a emitir opinião no inquérito disponibilizado neste blog.