segunda-feira, 13 de julho de 2009
Mecanismos de perpetuação no poder
Nesta minha curta experiência com o Descarga, tenho que, frequentemente, fazer pesquisa para que os artigos colocados mereçam a confiança do grupo que visita este espaço, como também para colocar seriedade nas opiniões que dou, pretendendo que tenham o máximo de sustentação possível. Nesta tarefa de procura da informação, e quando abordo temas de política local, consulto regularmente o conteúdo das actas das reuniões de Câmara e, sinceramente, está lá implícita, e até explícita, a razão, atendendo ao paradigma actual, pela qual o poder, depois de conquistado, é facilmente mantido.
No meu círculo de amigos dizem-me, frequentemente, que “o processo é igual em todo o lado: local, regional e nacional”. Acredito que assim seja, mas, na minha opinião, a nossa terra e o nosso país seriam bem melhores se o paradigma da actuação fosse completamente diferente. Menos conjuntural e mais estrutural.
Se os leitores consultarem, aleatoriamente, as actas, constatarão que a tarefa centra-se, muito, no atendimento às pretensões de um número enorme de instituições desportivas, culturais, musicais e mesmo religiosas, que solicitam os apoios mais diversos, muitas vezes monetários, e que, invariavelmente, vêem atendidos seus pedidos.
Só para dar um exemplo, na reunião do dia 15 de Março de 2004, foram atribuídos, entre subsídios globais ou parciais, apoios a iniciativas e até à regularização de despesas com uma sede de um “clube de bairro”, valores que, no seu conjunto, ultrapassam os 65000 euros.
Não me atrevo a colocar em causa a bondade e a importância das instituições apoiadas que, muitas vezes com muita dedicação, possibilitam aos nossos munícipes a prática desportiva e o acesso a eventos culturais ou religiosos. No entanto, atrevo-me a discordar desta forma de governar casuística e muito pouco estrutural e que não aborda, do ponto de vista estratégico, o essencial do que devia ser o conteúdo das discussões de um órgão de tão grande importância. Dá-me a nítida sensação que o executivo, neste contexto, responde a solicitações e não consegue antecipar as reflexões e decisões que se justificam.
Faria muito mais sentido produzir um levantamento das necessidades de todas essas instituições solicitando-lhes, num momento preciso do ano, a entrega dos respectivos planos de actividades com calendarização prevista, tipo de apoio solicitado e respectiva fundamentação para que, numa apreciação global por parte da autarquia, se decidissem os apoios a disponibilizar, segundo critérios bem definidos e conhecidos de todos. Desta forma criar-se-iam importantes sinergias e, mais importante, impulsionava-se uma cultura de responsabilização, através da comprovação das “iniciativas acordadas”, que combateria o desperdício e libertaria verbas para intervenções noutras áreas, nomeadamente na social.
Por outro lado, e voltando à questão da manutenção do poder, a forte ligação estabelecida com todas essas instituições cria, sem dúvida, uma espécie de rede, que torna felizes um grande número de conterrâneos que, perdoem-me a dureza, a troco dos sorrisos e da simpatia no momento de um evento ou da entrega de uma braçadeira com a inscrição “organização”, ou “staf” como está agora na moda, de uma prova, por exemplo, de futebol inter-freguesias, atletismo ou ciclismo, origina uma cumplicidade com o actual poder que, depois, tem tradução nos actos eleitorais. Acresce a esta rede, o elevado número de funcionários da Câmara que, em muitos casos, têm uma forte ligação aos seus superiores. A enorme dependência da imprensa local das verbas publicitárias da autarquia contribui, também, para aquilo a que chamo “perpetuação no poder”.
Na minha opinião é muito difícil desmontar esta rede, o que torna a disputa eleitoral, por parte de quem realmente quer ser oposição e intervir neste estado das coisas, um acto de cidadania, de enorme coragem e, acima de tudo, de muita, mas mesmo muita solidão.
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Sistematicamente ouvimos da boca dos nossos políticos que é com enorme sacrifício que ficam mais um mandato para acabarem a obra iniciada ... O nível intelectual deles é tão elevado que preferem sair 'escorraçados', por imposição da lei, que a sair pelos seus próprios meios e a bem.
ResponderEliminarSugestão para desmontar essa rede: os vereadores da oposição votarem contra e denunciarem a situação. Como eles votam sempre a favor, por medo político, a decisão é unânime e não é vista como criticável. Os mecanismos de poder perpetuam-se quando os dois lados da barricada estão sistematicamente de acordo, nesta questão dos subsídios. Assim é difícil.
ResponderEliminarPor falar em perpetuação do poder, observe-se a politização que tem sido feita nas instituições...
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