sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Um ano de descargas

Faz hoje um ano que publiquei o meu primeiro post do blog Descarga, justificando a minha opção de partilha dos textos através da Internet. Desde então, já publiquei um total de 119 artigos, abordando áreas diversas mas com uma certa ênfase nas questões locais.
Este foi o caminho que, em Fevereiro de 2009, entendi seguir para trabalhar, sobretudo, quatro áreas distintas.
Por um lado, o blog permitiu-me rever e aprofundar conhecimentos sobre áreas do meu interesse que, na sua esmagadora maioria, coincidem com conteúdos abordados na minha actividade profissional. Para publicar um artigo, há todo um trabalho preparatório que implica pesquisa, leitura, reflexão e, muitas vezes, tomada de posição. Posso afirmar que a primeira grande finalidade residia numa espécie de processo auto formativo que se tornava, para mim, mais importante dado que iria ser sujeito a uma espécie de interrupção das minhas actividades lectivas atendendo às minhas actuais funções na escola.
Por outro lado, ao escrever sobre assuntos mais pessoais pude reflectir e relembrar questões íntimas que me tocaram de modo especial e que, espero, tenham sensibilizado todas as pessoas que me são próximas, nomeadamente familiares e amigos chegados. Artigos como “Conversas em Família” ou “A Excepção” podem não ter gerado grande interesse geral mas são os mais importantes para mim, porque se relacionam com os meus pais e familiares mais próximos.
Outra área importante, e também mais pessoal, relacionou-se com a publicação meia dúzia de posts sobre a vila de Promar e sobre algumas das personagens que nela habitam, com destaque especial para o herói Guinchinho. Estes textos foram extraídos de um documento cuja execução me está a dar imenso prazer mas que, dificilmente, conseguirei dar por concluído. Este terceiro “sector de intervenção” funcionou, também, como espécie de ponte para a última grande área de intervenção, a local.
Esta era a mais simples de ser trabalhada e consistia na vontade de emitir opinião sobre muitos temas relacionados com a vida no nosso concelho, procurando divergir da espécie de “unanimismo” a que se assistia em redor do poder autárquico questionando, concretamente, algumas opções e decisões tomadas nestes últimos tempos. Nada me movia, nem move, pessoalmente, contra os responsáveis autárquicos, mas estava instalada uma ideia, que me parecia errada, de uma suposta infalibilidade dos seus actos que era bem visível na forma irritada e desproporcionada com que, alguns deles, reagiam a qualquer crítica ou pensamento divergente.
Tenho bem a noção de que a qualidade dos textos é discutível mas perdoem-me a pretensão de os ter publicado.
Não tenho dúvidas que a minha intervenção sobre os aspectos relacionados com o local nem corresponderam a uma gota de um imenso oceano mas aceitem estas minhas tomadas de posição que serviram, muito, para me sentir bem com a minha consciência.
O momento em que o Descarga faz um ano de idade é ideal para reflectir sobre a sua manutenção. Tenho outros projectos pessoais e tem que haver mais vida para além do blog. Apesar de sentir uma espécie de obrigação moral de o manter activo, entendo que, para me dedicar às outras iniciativas, faltar-me-á tempo para publicar com a mesma regularidade e, mais importante, com a mesma preparação e reflexão.
Sendo assim e em princípio, nos próximos tempos, apenas excepcionalmente publicarei novos artigos.
Reconhecendo que, em muitos momentos, os comentários tiveram enorme qualidade e pertinência, agradeço a participação de todos os que, concordando ou discordando, intervieram neste espaço de partilha e espero que, brevemente, encontremos novas formas de interacção que poderão passar, inclusivamente, pela reactivação do blog.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Santana Lopes tem razão

Os contextos institucionais levam muitas vezes as pessoas a defender o indefensável. Quando estamos dentro da lógica de um clube desportivo, de um partido político ou de outro tipo de organização que ultrapasse a nossa vida profissional comportamo-nos, muitas vezes, com pouca racionalidade e, quando damos por ela, estamos a justificar o injustificável. Minimizamos a violência no desporto se ela foi protagonizada por adeptos do clube do nosso coração e apoiamos uma decisão do partido da nossa simpatia mesmo que, no íntimo, a consideremos errada.
Se repararmos, no contexto profissional, trabalhamos muitas vezes mal com os nossos “correligionários” e bem com os colegas que, em muitas situações, apresentam uma ideologia ou preferência clubística diferente. Encontramos neles uma prática com a qual nos identificamos e acabamos por ter a unir-nos, para além da maior ou menor empatia, um determinado conjunto de valores que ultrapassam quaisquer amarras partidárias, religiosas, clubísticas ou de outro tipo. Nesse contexto estamos, eventualmente e em muitos casos, muito mais próximos de um conjunto de valores com os quais nos identificamos e que, em grande parte, resultam da influência da família que funciona como elemento essencial de qualquer sociedade.
Sendo assim, desta vez, Santana terá acertado. Ele bem diz que anda por aí e terá afirmado no último Conselho Nacional do PSD que “há pessoas que podem pertencer ao mesmo partido, mas não à mesma família”.
Quem diria!
Eu a citar Santana Lopes!

sábado, 13 de fevereiro de 2010

13 de Fevereiro de 1965



Esta data de 13 de Fevereiro deve, independentemente dos defeitos que o general sem medo possuía, ser lembrada como um momento negro da ditadura. Foi neste dia que Humberto Delgado caiu numa cilada montada pela PIDE e por Rosa Casaco e foi assassinado em território espanhol.
Sempre que se comemora algo sobre a figura do General Humberto Delgado, seja a sua morte ou a sua famosa frase “obviamente demito-o” ou ainda a entusiástica recepção que o povo do norte lhe proporcionou num comício na cidade do Porto em 14 de Maio de 1958, recordo-me de um episódio contado, pacientemente e diversas vezes, pelo meu pai a mim e aos meus irmãos e que se relaciona com as “ultimas presidenciais directas” do estado Novo, ou seja com a eleição presidencial de 1958.
Naquele ano, o meu pai era professor primário na freguesia do Muro e foi requisitado para presidir à única mesa de voto daquela freguesia e, como gostava de lembrar, pelo menos nessa mesa de voto o general sem medo esteve a ganhar por um a zero, dado que o presidente da mesa tinha o privilégio de ser o primeiro a exercer o seu direito de voto. Contava-nos sempre que, se houvesse verdade no escrutínio, Humberto Delgado tinha saído vencedor tal era a adesão da população e a vontade de mudança. Explicava-nos, de seguida e através de vários exemplos ocorridos na sua mesa de voto, como o regime se perpetuava no poder através da “batota em massa” que, por incrível que pareça, ainda é usada actualmente noutros actos eleitorais de outras realidades.
Um dos aspectos que referia sempre relacionava-se com a constante entrada e saída do espaço próximo da mesa de voto de vários membros da ANP (partido único da época) de modo a condicionar a população e, um pouco à semelhança de algum caciquismo que ainda impera em muitas freguesias rurais nos nossos dias, a tentar “obrigar ao voto nos mesmos de sempre”. Na opinião de muitos destes fervorosos adeptos do regime, os eleitores que ainda não tinham ido votar e mesmo os que já tinham falecido que eram “conhecidos dos membros da ANP”, deviam ter alguém a exercer o direito de voto por eles, ou seja os correligionários políticos, dado que “eram dos nossos”.
Terá sido desta forma e de outras semelhantes, sobretudo com mesas amigas, que se concretizou a mega fraude eleitoral de 1958.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Justiça?

Os sucessivos intérpretes da democracia portuguesa, renascida após a Revolução de Abril, procuraram, ao longo destas últimas décadas, valorizar a profunda alteração no funcionamento das instituições, destacando sempre o importante princípio da separação dos poderes que, entre outros aspectos, permite distinguir a actividade de produção executiva e legislativa da judicial. Vivemos anos a mais num sistema em que o poder judicial se confundia de tal modo com o executivo que mais parecia um instrumento ao serviço de quem detinha o poder.
No entanto, a gigantesca tarefa de “construção da democracia”, está a colocar-nos perante uma sensação de que a justiça, pura e simplesmente não funciona, abrindo espaço para correntes de opinião contrárias aquele sagrado princípio de separação dos poderes. Parece-me que o grande desconhecimento do funcionamento da justiça que é agravado pela utilização sistemática de uma terminologia que nunca é “traduzida” para o cidadão comum, a enorme distância entre muitos agentes da justiça e a população em geral e as constantes alterações legislativas que os sucessivos governos produzem contribuem muito para a incompreensão e desalento que muitos portugueses sentem.
Por outro lado, a sensação transportada para muitos portugueses de que, no geral, a justiça se preocupa pouco com as vítimas e muito com os direitos de todos os que são ou poderão vir a ser acusados, acentua a desconfiança. Por fim, a ideia também instituída, reforçada por muitos casos mediáticos, de que quem tem poder político ou económico consegue lidar bem com a justiça, enquanto todos os que não têm tantos recursos sentem mais dificuldades para resolver os seus problemas, provoca mesmo o descrédito.
A melhoria do funcionamento deste sector torna-se, assim, fundamental para que a própria democracia se defenda de todas as tentações populistas, até porque já se começa a sentir a defesa de uma espécie de desvario punitivo que não nos torna muito diferentes de alguns fundamentalismos que tanto criticamos noutros países e culturas.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

9 de Fevereiro

Durante anos a fio, o 9 de Fevereiro era apenas um dia como outro qualquer. Não o associava a nada de especial como, no fundo, acontece a muitos dias do ano. No entanto, em 1996, o dia 9 de Fevereiro passou a ser uma data festiva e feliz devido ao nascimento do meu filho mais novo. Este dia, a par do 15 de Outubro que corresponde ao aniversário do meu filho Tiago foi, durante anos, associado apenas a aspectos positivos.
Contudo, por uma incrível e infeliz coincidência, em 9 de Fevereiro de 2000 morre o meu pai e, a partir dessa data, temi uma espécie de obstrução natural aos festejos do aniversário do Tomás.
Mas, aquilo que parecia ser um constrangimento, tornou-se rapidamente numa espécie de reforço da vontade de festejar. Apesar de não estar cá, o meu pai participa.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Machadês

Quando estamos a formar opinião sobre um indivíduo conseguimos, na maioria dos casos, aproximar-nos gradualmente das suas características. Ficamos a saber se revela muitas ou poucas capacidades, se é mais ou menos nervoso ou mais ou menos seguro de si.
No entanto, há casos em que ficamos numa situação de dúvida, baloiçando entre extremos impensáveis como sejam a possibilidade de estarmos perante alguém com fortes limitações ou, pelo contrário, com uma inteligência invulgar.
Vem estas considerações a propósito de um conhecido treinador de futebol, que usa e abusa de um vocabulário rebuscado mas que, provavelmente, terá muitas mais capacidades do que aquelas que muitos lhe atribuem.
Não querendo tirar essa questão a limpo, há um dado que me parece indiscutível e que se relaciona com o enorme sentido de humor que, goste-se ou não, acaba por revelar. As suas últimas declarações sobre a catequese, infelizmente ainda não disponíveis no Youtube, a propósito de um jogo de futebol no passado fim-de-semana em que a sua equipa terá sido prejudicada pela arbitragem, são um enorme contributo para a boa disposição e colocam em destaque um estilo inimitável que já merecia ter, pelo menos nas redes sociais em que qualquer facto origina a criação de grupos de apoiantes, um conjunto organizado de fãs incondicionais.
Na falta desse vídeo, recuperemos o dicionário machadês.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

A gestão da água



Uma das questões que se discute, cada vez mais, é a da gestão da água. Nota-se, nas mais diversas escalas, uma preocupação crescente sobre este tema, havendo uma forte pressão para que a água se torne uma importante “fonte de negócio”, fazendo parte dos conteúdos de grandes empresas transnacionais.
No nosso país a discussão sobre a gestão e distribuição domiciliária da água começa a fazer-se. Segundo dados do Ministério do Ambiente, a esmagadora maioria dos modelos de gestão da água nos municípios está associada aos Serviços Municipais das próprias Câmaras. A criação de Serviços Municipalizados de Água ou de Empresas Municipais para a gestão da água em baixa é muito pouco frequente. Contudo, principalmente desde 2006, surgiu uma nova realidade no modelo de gestão e que consiste na concessão a privados como acontece, por exemplo, na vizinha Vila do Conde.
Estas concessões permitem a entrega de serviços públicos a empresas privadas que, ao procederam à sua exploração e gestão, tentarão, como é natural, obter lucros, facto que tem originado muitas críticas de forças políticas e organizações de cidadãos que consideram a água um bem comum que nunca deveria sair da esfera pública. No entanto, há quem defenda que, atendendo à ineficiência da gestão de muitos desses serviços públicos, poderá ser mais vantajosa a referida concessão dado que algumas empresas privadas poderão, estruturalmente, reunir melhores condições para combater os desperdícios tão associados a muitas empresas públicas.
Reconheço que, para a generalidade dos autarcas, a tentação da concessão por períodos mais ou menos alargados deve ser enorme, atendendo à disponibilidade económica e financeira que permite no curto prazo. Apesar de defender uma economia em que a livre iniciativa e o empreendedorismo sejam valorizados, parece-me que, pela sua especificidade, sensibilidade e valor estratégico, esta deveria ser uma área a manter na esfera pública, desde que se reunissem todas as condições para possibilitar a eficiência da gestão.
Desse modo seria possível, para além de cuidar das questões ambientais, encontrar um equilíbrio entre as preocupações de sustentabilidade económica e financeira das entidades gestoras e as de sustentabilidade social. Seria possível não comprometer, por um lado, a saúde dessas empresas e, por outro, sustentar a indispensável coesão social que, como sabemos, é fundamental para o desenvolvimento de qualquer país ou região.
No sentido de antecipar uma discussão que, estou certo, fará parte da agenda política um pouco por todo o país e no nosso concelho onde o actual presidente defendeu, publicamente, a manutenção na esfera pública, convido-vos a procurar formar opinião sobre tema e votar no inquérito disponibilizado no Descarga.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

O jornal da casa


Fonte da imagem: http://adevidacomedia.wordpress.com/2009/03/11/clube-dos-jornalistas/

O hábito da leitura de jornais foi, desde muito cedo, incutido em mim e nos meus irmãos, pelos meus pais, mais concretamente pelo meu pai. Recordo bem a rotina da sua chegada a casa, após mais um dia de trabalho no Porto. Não tinha tempo de pousar o jornal porque, pura e simplesmente, era abalroado por qualquer um dos meus irmãos. Aqueles pedaços de papel, numa época o Primeiro de Janeiro e mais tarde o Jornal de Notícias, eram tão valiosos que originavam, quase sempre, a sua fragmentação. Os meus irmãos disputavam, entre si e em função dos seus interesses, as diversas páginas do jornal que, provisoriamente, ficava decomposto mas, mais tarde e com enorme paciência, o meu pai voltava a ordená-lo como se fosse um importante documento para guardar.
Nos últimos anos de vida, fazia questão de comprar o Jornal de Notícias e criticar todas as pessoas que, com muita mais capacidade financeira do que ele, esperavam ansiosamente pela sua vez para lerem os “jornais da casa”, dado que o investimento na leitura, para eles, era supérfluo. Agora, sempre que vou a um café observo os comportamentos relativamente ao jornal da casa e constato que são, muitas vezes, os que têm mais recursos a sujeitarem-se a longas esperas para chegar a sua vez de ler o jornal, havendo até situações em que se atropelam para tomar a sua vez ou, como já me aconteceu, solicitarem o meu jornal de um modo brusco, ignorando que este foi por mim adquirido.
Estando muito mais próximo do consumerismo do que do consumismo e não sendo um fundamentalista da propriedade privada, estou muito tentado a oferecer uma moeda ao próximo chato que me interrompa com a pergunta:
-É o jornal da casa?

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

A importância da reabilitação urbana


Fonte da imagem:

Segundo dados referentes a 2009, disponibilizados recentemente, Portugal é dos países da União Europeia que, em termos absolutos e relativos, menos investe na reabilitação residencial. Enquanto, por exemplo, na Alemanha o sector da reabilitação representava 32% da produção total da construção, Portugal apresentava um peso quase residual de 6%. Esta infeliz tendência prolonga-se para os edifícios com outras funções, nomeadamente os que são utilizados pelo estado para funções políticas e administrativas que estão, em muitos casos, mal dimensionados e a necessitar de intervenções urgentes.
Constantemente, nas cidades, somos confrontados, com dinâmicas que levam à execução de novas construções e, infelizmente, é o próprio estado, através do poder central e local, que fomenta esta espécie de vício de “acabar uma construção e começar outra”. Com esta tendência, as zonas mais antigas das cidades degradam-se, acentuando a tendência para a desertificação e para o aumento de problemas sociais e de segurança.
A comunicação social refere, hoje, o eventual lançamento, em 2010, de um programa extraordinário de apoio à reabilitação urbana, que será bem-vindo, mas é necessário ter consciência que o desafio implicará um esforço de sucessivas gerações e de múltiplos agentes, públicos e privados.
Apesar de, felizmente, não sentirmos esses problemas com a dimensão e gravidade de outras cidades, parece-me indiscutível que, também na Póvoa, a regra geral de sucessivas novas edificações se aplica, tendo surgido recentemente uma alteração aos instrumentos de planificação para incentivar novas construções.
Torna-se urgente uma mudança radical de paradigma nas políticas para o sector da construção, valorizando o sector da reabilitação urbana. Essa alteração, poderia ter impactos positivos não só na qualidade de vida das cidades como também ao nível da criação de riqueza e de emprego. Procedendo a uma espécie de adaptação dos aspectos positivos do programa de remodelação das escolas secundárias referido no último post, poderiam surgir intervenções em edifícios públicos, permitindo o redimensionamento dos espaços que, de um modo geral, são exagerados, libertando recursos financeiros para a implementação desta nova política.
Reconheço que a tarefa é difícil e geracional e que, para a implementar, é necessária intervenção numa área sensível como o arrendamento. No entanto, e pelo exemplo de países mais desenvolvidos do que o nosso, o caminho não será o da permanente edificação de novas construções e o abandono da esmagadora maioria dos antigos.

sábado, 16 de janeiro de 2010

Remodelação da Rocha Peixoto


Imagem: Póvoa Semanário

No dia 2 de Julho publiquei, neste espaço, um post, em que elogiava o programa de remodelação das escolas secundárias, levantando porém algumas questões relacionadas com os eventuais custos de manutenção dos novos equipamentos.
Na mesma semana em que, formalmente, se procedeu à inauguração da “nossa” Escola Secundária de Rocha Peixoto foi dado a conhecer à imprensa um relatório da OCDE que elogiava este programa, nomeadamente no que diz respeito ao aproveitamento de fundos europeus, rapidez de execução e modernização dos espaços. Este projecto de remodelação poderá funcionar, segundo o mesmo relatório, como “modelo para aplicação internacional”.
O dia 16 de Janeiro é um dia marcante para todos os que sentem a escola, quer sejam alunos, professores, funcionários, pais e restantes membros da comunidade educativa. No entanto, apesar da satisfação em trabalhar num espaço renovado, gostaria de referir que, no relatório da OCDE, se apontam algumas dúvidas sobre os custos a longo prazo de “energia, limpeza e manutenção” que, espero, não se confirmem. No essencial, essas dúvidas são as mesmas que, no nosso quotidiano profissional, apontamos e que foram lançadas no referido post de Julho.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Catástrofe no Haiti

Sempre que estamos um pouco mais distraídos, a natureza coloca-nos à prova, através da sua força e imprevisibilidade. As catástrofes associadas a causas naturais acompanham a história do homem, funcionando como espécie de “marcador” e de auxiliar de memória do enquadramento temporal. Pompeia, destruída e soterrada pela erupção do vulcão Vesúvio em 79 d.C, marca um momento importante da história da civilização e o terramoto de 1755 ainda hoje funciona como ponto de referência para a nossa história.
Parece que estas catástrofes naturais actuam propositadamente nos locais onde as infra-estruturas apresentam menor capacidade e onde o grau de desenvolvimento dos países é menor, dificultando as iniciativas de apoio e recuperação. Toda a informação sobre o terrível sismo no Haiti coloca-nos perante a impotência do homem perante algumas forças da natureza e o que nos resta é poder contribuir, de algum modo, para que haja condições para o auxílio.
Dois elementos da AMI já estão a caminho do país para fazer um levantamento das necessidades no terreno e, entretanto, a Cruz Vermelha e a Cáritas portuguesas disponibilizaram uma pequena verba para ajuda de emergência e abriram contas específicas para prestar apoio. A ajuda pode ser prestada da seguinte forma:
Cruz Vermelha Portuguesa: donativos nas caixas multibanco ou através do netbanco, na opção "pagamento de serviços", marcando 20999 na entidade, e 999 999 999 na referência; pode ainda ser feito depósito ou transferência bancária nas contas da Cruz Vermelha Portuguesa - Fundo de Emergência, disponíveis em nove instituições bancárias.
Cáritas Portuguesa: donativo na conta Cáritas Ajuda Haiti, com o NIB 003506970063000753053, da Caixa Geral de Depósitos. Pode utilizar também este link.

domingo, 10 de janeiro de 2010

Estratégia para as cidades

Na edição do jornal Público do passado dia 3 de Janeiro, surgiu um interessante artigo sobre a ausência de estratégia que a esmagadora maioria das cidades portuguesas revela. Baseado nos estudos de uma equipa liderada pelo Vice-reitor da Universidade do Minho, José Mendes, investigador na área do Planeamento Regional, o artigo refere que, de um modo geral, as cidades portuguesas investiram quase só nas infra-estruturas básicas e nos equipamentos e, passados tantos anos, continuam a fazer o mesmo. Segundo José Mendes, as cidades já deveriam estar, há muito tempo, a utilizar o dinheiro disponível no quadro comunitário de apoio menos em obras físicas e mais em iniciativas imateriais que permitam a construção de uma forte identidade e especificidade e que, com isso, atraiam mais empresas e fixem mais pessoas, sobretudo jovens e talentosas, que são condições essenciais para o desenvolvimento económico e social do espaço em que vivem. Utilizando a imagem da linguagem informática afirma que, salvo honrosas excepções, as cidades têm o seu “hardware” montado mas, em contrapartida, como não apostam nas pessoas, não fazem correr o “software”, ficando condenadas ao insucesso. Aponta algumas excepções como Óbidos e Guimarães, várias vezes citadas neste blog, que conseguiram encontrar os seus “pontos fortes” e, desde então, não param de os potenciar.
Na minha opinião, e tal como tenho referido várias vezes neste espaço, a nossa cidade, apesar do seu potencial, enquadra-se bem na regra definida por José Mendes.
O trabalho de identificação dos nossos pontos fortes está feito?
Estão identificadas as nossas especificidades?
É segura a nossa identidade?
É clara e conhecida a visão que os responsáveis autárquicos têm para a cidade e concelho?
Na minha opinião, infelizmente não!
Tal como a generalidade das cidades portuguesas preocupou-se apenas e só com as “obras”, ou seja com o “Hardware”. No que diz respeito ao reduzido “investimento nas pessoas” desenvolve, há tempo a mais, uma série de iniciativas rotineiras, desenquadradas de uma visão estratégica de potenciação do desenvolvimento e de valor altamente discutível, que culminam, no final do ano, com o autêntico desperdício de energias e de recursos e que funciona como espécie de “cereja no topo do bolo” do actual poder, o circunspecto Encontro pela Paz.
No entanto, a nossa cidade e concelho apresentam um conjunto de condições que, devidamente aproveitadas e trabalhadas, poderiam originar uma realidade mais distinta e desenvolvida. A vizinhança do mar, a grande linha de costa, a história rica e muito associada à actividade piscatória, as praias com uma beleza especial, o contraste actividade piscatória/jogo, diversão nocturna/casino/outros, o porto de pesca e a marina, o clima ameno e o relevo suave, a fertilidade do solo de algumas freguesias, a inserção na Área Metropolitana do Porto, a proximidade de cidades importantes e com forte pólos universitários, a existência de um desses pólos no nosso território e a facilidade de deslocação para as empresas e jovens universitários que optem por se instalar no nosso concelho, são apenas alguns dos elementos dispersos que poderiam contribuir, com o cimento correcto, para um concelho muito mais dinâmico, desenvolvido e atractivo.
Não chega definir um ou vários slogans e espalhá-los em cartazes publicitários. É preciso trabalhar uma ideia de cidade e desenvolver um conjunto de acções que permita, passo a passo, a concretização dessa ideia, mudando completamente a actividade rotineira que caracteriza o nosso concelho. Infelizmente, estamos condenados, nos tempos mais próximos, a continuar as obras pelas obras, inundando-nos de “Hardware” sem aproveitamento e perdendo tempo e oportunidade para desenvolver as acções que já se impunham há muito tempo.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Curiosidade

No nosso país, a maioria das pessoas que se candidatam, com sucesso, a um cargo público, abandonam o nome que habitualmente usavam. A partir do momento em que são eleitos ou escolhidos, e para além das inúmeras alterações no visual, surge uma autêntica revolução ao nível da grafia e do som. Assim, ministros, deputados, autarcas e gestores deixam de ser tratados pelos seus nomes habituais, normalmente o primeiro e o último, e passam a ser conhecidos pelo nome, ou conjunto de nomes que melhor combine. Esta situação faz com que, muitas vezes, afirmemos desconhecer o novo responsável pelo cargo X ou Y e, afinal, trata-se do conhecidíssimo Tone. É o marketing político em acção, e em vez do antigo Tone, Xico ou Manel, surgem, através de um autêntico passe de mágica, o Ferreira de Campos, o Carvalho Amorim ou o saudoso Teixeira da Cunha.

sábado, 2 de janeiro de 2010

A questão do preço da água


Um dos temas mais em foco nos últimos tempos foi o do preço da água. No último acto eleitoral esta questão esteve presente no debate político em muitos municípios, incluindo no da Póvoa de Varzim. Também na definição do tarifário para 2010, houve discussão, controvérsia e decisões diferentes. Uns, seguindo as orientações “liberalizadoras” do Plano Estratégico de Abastecimento de Água e de Saneamento de Águas Residuais (PEAASAR II) e do famoso princípio do utilizador pagador, optaram por continuar a reflectir no consumidor os custos globais que estão a montante da sua produção, enquanto outros, fundamentando as suas decisões nas preocupações sociais, optaram por utilizar uma maior fatia do orçamento municipal para compensar os referidos custos. Houve ainda outros, como Vila Nova de Gaia, que optaram por “soluções de compromisso” alargando os escalões de pagamento tentando favorecer as famílias mais carenciadas.
Aproveitando a forte discussão a que este tema foi sujeito no nosso concelho, convido-vos a emitir opinião no inquérito disponibilizado neste blog.