domingo, 31 de maio de 2009

Sondagens Póvoa de Varzim (3)


Estatísticas são iguais a biquínis; o que revelam é sugestivo, mas o que escondem é essencial.
Aaron Levenstein



Em 2005, em simultâneo com a sondagem política referida no meu penúltimo post, houve, também, um inquérito sobre as rádios que os poveiros mais ouvem e os jornais locais que costuma ler. Sabem a resposta?
Em 2005, a Rádio Onda Viva, uma das parceiras da mega sondagem, era ouvida por tantos poveiros como os que ouviam em simultâneo a TSF, RFM, Renascença e Rádio Mar.
Não seria um exagero? Ou um biquini muito ousado?
A Voz da Póvoa, que funcionou como parceira ou teve acesso priveligiado à informação, era lida por mais de metade dos inquiridos, enquanto o PS, ou seja o Póvoa Semanário se ficava por 23,8% e o PC, desculpem-me, o CP (Comércio da Póvoa) com 13,6%.
No entanto, o estudo efectuado para a Rádio Onda Viva, em Maio de 2009, aponta para resultados completamente diferentes, mas sempre com a Rádio Onda Viva na liderança. Nesta sondagem, as quatro rádios referidas anteriormente (RFM, Renascença, TSF e Rádio Mar), já dobram o número de ouvintes da poderosa Onda Viva.
No que diz respeito aos jornais locais, os valores do Voz da Póvoa e do Póvoa Semanário já estavam muito aproximados (29, 1 e 20,5% respectivamente) quando a distância em 2005 era de cerca de 30%.
Em que é que ficámos?
Valerá a pena acreditar, ou o que está escondido é essencial?

sexta-feira, 29 de maio de 2009

Sondagens Póvoa de Varzim (2)

Sem qualquer tipo de validade científica e numa semana de sondagens, publico o resultado do inquérito proposto neste blog sobre o Plano de Pormenor para os terrenos do Varzim, CDP e Praça de Touros.

1. Deve ser aprovado, sem alterações, permitindo as ocupações e os índices propostos.
0 Votos – 0%

2. Deve ser aprovado permitindo as ocupações e os índices propostos depois de rectificadas as orientações da CCDRN.
2 Votos – 3%

3. Deve ser aprovado, permitindo as ocupações e os índices propostos, mas retirando a ideia da construção do centro comercial nos terrenos do Varzim.
2 Votos – 3%

4. Deve ser aprovado, diminuindo ligeiramente os índices propostos, mas propondo um tipo de edificação perpendicular à linha de costa.
1 Voto – 2%

5. Deve ser aprovado após uma razoável reformulação que inclua a diminuição ligeira dos índices propostos e que rejeite a construção do centro comercial.
5 Votos – 8%

6. Deve ser aprovado após uma profunda reformulação que inclua a diminuição do índice de construção na zona do Varzim e CDP para valores próximos do 1,2, que permita o Hotel com uma cércea bastante inferior à que está prevista e que rejeite a construção do centro comercial.
34 Votos – 54

7. Deve ser totalmente rejeitado.
19 Votos – 30%

quinta-feira, 28 de maio de 2009

Sondagens Póvoa de Varzim

“Factos são teimosos, mas as estatísticas são mais flexíveis.”
- Mark Twain

Durante esta semana tomámos conhecimento de uma sondagem DOMP/Rádio Onda Viva sobre as intenções de voto para as próximas eleições autárquicas.
Segundo a informação disponibilizada no site da Onda Viva os resultados prováveis do próximo acto eleitoral apontam para uma vitória esmagadora do actual presidente da Câmara com 50,4%, seguido do PS com 14,5%, CDS com 3,3%, CDU com 3,2% e BE 2,5%.
Tive conhecimento desta sondagem bem antes da sua divulgação através da blogosfera. Neste espaço sentia-se um certo sentimento de revolta dado que estes números, se “forem factos” sugerem, não só a manutenção da forte maioria absoluta como até a sua consolidação no caminho do tão ansiado, pelo actual poder, unanimismo quase absoluto,ficando de fora apenas alguns “bandidos” como eu.
Por outro lado, os dias anteriores tinham sido animadores para o candidato do PS, Renato Matos, que teve uma sessão de apresentação com a presença de muitos poveiros, que lhe poderia dar o ânimo necessário para a difícil tarefa que tem pela frente. Fica realmente a sensação de que esta sondagem é útil ao poder, já que é uma forma de afirmar qualquer coisa do tipo: “estás a animar-te, então leva lá com os números”.
Para tirar as dúvidas lançadas na "blogosfera local"que sugeriam, insistentemente, tratar-se de uma “encomenda”, consultei os resultados da sondagem efectuada pela mesma empresa em Julho de 2005 e constatei, sem grande surpresa, que atribuía a Silva Garcia, 16,7% das intenções de voto, quando, no acto eleitoral conseguiu 28,5% dos votos e, como sabemos, três vereadores. Isto apesar da ficha técnica apontar para uma margem de erro de 5%. Os factos são realmente teimosos mas a flexibilidade desta estatística exagera. Estranho. Das duas uma:
• Ou a sondagem estava realmente errada e, sendo assim, não há motivos para confiar nesta, nomeadamente quando atribui apenas 14,5% a Renato Matos.
• Ou o arquitecto conquistou, num espaço de tempo muito curto, quase todos os indecisos.
Não pensem que com este post, considero que vai surgir na Póvoa uma alteração política significativa. Aliás, entendo que a votação conseguida por Silva Garcia em 2005, no contexto em que estamos inseridos dominado por diversos mini poderes ao nível das freguesias e do associativismo, foi bastante significativo. A manutenção dessa base de eleitores, por parte do actual candidato do PS, é decisiva para que, num quadro de abandono, forçado pela lei, do “dinossauro” da Póvoa, seja possível, nas autárquicas de 2013 a desejável mudança.
Curiosamente e por falar em dinossauros, no jornal Póvoa Semanário de 13 de Julho de 2005, Macedo Vieira afirmava que “…se cumprir 16 anos de vida pública (está a acabar de cumprir), provavelmente darei por finda a minha intervenção autárquica” e Mário Almeida, da nossa vizinha Vila do Conde, dizia que, após o acto eleitoral de 2005, “iria preparar o caminho para deixar o município em boas mãos”.
Aguardámos a resposta, sabendo de antemão que nem um nem outro estão agarrados ao poder, mas que, provavelmente, Vieira prolongará a sua vida pública e autárquica e as boas mãos são apenas as do próprio Almeida.

terça-feira, 26 de maio de 2009

Nem tudo eram rosas em Promar



Apesar da forte coesão social existente na vila de Promar havia algumas excepções, sendo a mais importante a que era protagonizada pela família do senhor Plácido Fortes, industrial de conservas, que não permitia que os seus filhos contactassem com a plebe. Este empresário era proprietário da única grande unidade industrial da vila que, por sinal, tinha um grande impacto económico e social em toda a região. A empresa de conservas “Promarense” empregava três centenas de operários, sobretudo mulheres e na maior parte dos casos esposas de pescadores, que cumpriam rigorosos horários de trabalho, quase sempre em pé e em ritmos de trabalho que nem Taylor ou Ford conseguiriam imaginar. Este industrial vivia com a sua esposa, Dª Margarida, e com os seus seis filhos, num enorme casarão, na parte nascente da cidade, retirando-se e aos seus familiares de qualquer tipo de contacto com a população promarense, olhando desconfiado e de modo bastante crítico para as “misturas sociais” praticadas pelos seus colegas de nível social mais elevado. O dia-a-dia desta família era totalmente diferente da generalidade da população promarense evitando a frequência dos espaços públicos como cafés, lojas, restaurantes ou cinema. O casal deslocava-se para qualquer espaço em automóvel e motorista privativo e os filhos iam e vinham da escola através do mesmo sistema, provocando sempre olhares críticos de todos os colegas. A sensação dos habitantes de Promar era a de que, no casarão, existiam mais criados do que membros da família, sendo motivo de espanto o rigor e a rigidez com que eram tratados: fardas iguais, obrigatoriedade de regime de internato e muitos outros aspectos que tornavam a relação família – empregados, uma relação vertical, desigual, injusta e potenciadora de revolta.

sexta-feira, 22 de maio de 2009

Obama Presidente de todos os poveiros?


Infelizmente não. Obama não vai acumular.
Nunca tive especial simpatia pela instituição militar. Com todo o respeito por todos os que dela fizeram ou fazem parte, detesto as regras levadas ao exagero, os protocolos serôdios e as autênticas mordomias de que alguns beneficiam. Apesar do apreço pela Revolução dos Capitães que me permite opinar desta forma, entendo que, pior do que a organização em si, é a participação de alguns militares na vida político partidária, como se verificou, por exemplo, com a infeliz intervenção do General Spínola e da sua maioria silenciosa no período pós revolução ou de Otelo Saraiva de Carvalho nas lamentáveis FP25.
O General Ramalho Eanes, referido muitas vezes como um caso sério de honestidade que, contudo, nunca colheu, da minha parte, qualquer tipo de simpatia, fez uma afirmação, imediatamente a seguir à sua primeira eleição como Presidente da República em 1976, que entendo que é sábia e que se mantêm actual e devia ser aplicada nas diversas escalas de análise.
Eanes proclamou, após a vitória, que se tornou no Presidente de todos os portugueses e não apenas daqueles que nele votaram. Mário Soares, apesar de não morrer de amores pelo militar, repetiu o slogan de um modo tão natural que motivou reconhecimento de “velhos inimigos”: patrões e sindicalistas, comunistas e democratas cristãos, católicos e ateus.
No nosso concelho podemos ter participado em sucessivos actos eleitorais que deram vitórias mais ou menos expressivas ao actual Presidente da Câmara, podemos ter sondagens a dar-lhe vitórias esmagadoras mas nunca teremos, na minha opinião por culpa dele próprio, um presidente de todos os poveiros. No plano político, falta-lhe humildade para compreender que, na Póvoa, nem tudo gira em sua volta e carece de sensibilidade democrática para perceber que há poveiros, minoritários sem dúvida, que não se revêem na sua prática política e que nunca tiveram, da sua parte, um mínimo de abertura para uma eventual aproximação, em defesa dos superiores interesses da nossa terra. A sua prática encaixa como uma luva na Democracia da Grécia Antiga em que a prática do ostracismo, em relação aos adversários políticos, era frequente. Os seus opositores, quando se mostram ou votam de modo contrário ao que considera correcto, sentem logo essa característica, tendo já ocorrido a associação à ausência de unanimismo a “comportamentos esquizofrénicos”.
No relacionamento com os munícipes regista-se uma desigualdade no tratamento. Relembro, para os mais esquecidos, duas situações com características semelhantes e que tiveram um tratamento distinto. De desinteresse para uns e especial preocupação para outros.
1. Em 2004, quando um conjunto de moradores elaborou uma petição para tentar impedir a instalação de uma bomba de gasolina num parque de estacionamento situado numa zona próxima das suas habitações, não se mostrou sensível e, em conjunto com a sua esmagadora maioria, não atendeu às preocupações manifestadas.
2. Recentemente, já em 2009, quando confrontado com a possibilidade de mudança do local de entrada dos alunos da Escola Secundária de Rocha Peixoto, e apesar de revelar receios legítimos sobre a circulação nas horas de ponta, mostrou uma particular preocupação para com as queixas de alguns moradores da rua, que por sinal, é paralela e próxima à dos referidos residentes do primeiro caso.
Não se nota um tratamento diferenciado?

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Actual e universal

Apesar deste vídeo retratar uma situação concreta ocorrida com os abusos dos detentores dos cargos públicos no Brasil, poderia muito bem encaixar noutros países, incluindo na "Democracia de referência do nosso planeta" e noutras escalas de análise: global, regional, local, temática, etc. Num momento em que, pelo mundo fora e, naturalmente, no nosso país, a crise e o desemprego, por si só, já fracturam a sociedade, a ocorrência deste tipo de abusos origina a diminuição da já fraca coesão social e cria condições para a possibilidade de revolta admitida por muitos pensadores mais atentos.
Vale a pena ver este hino à indignação.


domingo, 17 de maio de 2009

Diz que é uma espécie de …discussão


Costuma-se dizer que para bom entendedor meia palavra basta. Por via das dúvidas vou usar, nas citações de alguns jornais locais, um pouco mais de meia palavra.


“Plano de Pormenor da Zona E54 - Discussão Pública de 17 de Abril a 19 de Maio.
Durante o período de discussão pública, qualquer reclamação, observação, sugestão ou pedido de esclarecimento deve ser apresentado por escrito, através do preenchimento de modelo próprio disponível no Posto de Turismo e entregue directamente na Secção de Gestão Documental, no edifício dos Paços do Concelho, ou a remeter por correio registado, endereçado ao Presidente da Câmara Municipal da Póvoa de Varzim – “Plano de Pormenor da Zona E54 do Plano de Urbanização da Póvoa de Varzim” – Praça do Almada, 4490-438 Póvoa de Varzim. Poderá ainda manifestar a sua opinião sobre esta proposta na página do município preenchendo on-line o Formulário de Participação.”
Portal da Câmara Municipal da Póvoa de Varzim

Seg, 04 Mai 2009 21:23
Macedo Vieira admite alterações no Plano Pormenor
“À margem da reunião de Câmara desta tarde, Macedo Vieira, presidente da autarquia poveira, lembrou que projecto imobiliário apresentado para os terrenos do Varzim e do Desportivo, inserido no novo Plano de Pormenor que a Câmara está a preparar para a zona, poderá sofrer alterações.
O edil lembrou que ainda decorre o processo de discussão pública sobre este processo, e que só no final será tomada a decisão definitiva.
“Trata-se de uma proposta de um gabinete de arquitectura que a Câmara subscreveu, mas tal não significa que o iremos aprovar. Vamos ver a sensibilidade da sociedade poveira e só depois iremos tomar a decisão final”, frisou Macedo Vieira, acrescentando: “Não há, da nossa parte, soluções definitivas, por isso tudo pode mudar…”, lembrou o autarca.”
Póvoa Semanário On-Line


Qui, 08 Mai 2009 03:38
“No final da sessão …confirmou que, em traços gerais, não vê necessidade de se fazer alterações ao Plano apresentado.”

Póvoa Semanário On-Line

“Macedo Vieira considera Plano “genial” e encerra a discussão.
Uma ideia genial, solução excelente, com um índice que equilibra a cidade e um desenho muito bom.
Desta forma o presidente da Câmara da Póvoa , Macedo Vieira, deu, assim, na quinta-feira (dia 7 de Maio), praticamente por encerrada a discussão sobre o plano de pormenor.”
Publicado na edição impressa do Comércio da Póvoa de 14 de Maio de 2009

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Os Clubes da Póvoa / Plano de Pormenor





Nestas últimas semanas tenho procurado informar-me sobre toda a problemática que envolve a intervenção no espaço do Varzim, Clube Desportivo da Póvoa e Praça de Touros. Estive presente nas duas sessões realizadas até ao momento, revi algumas notas e registos sobre a aprovação do Plano de Urbanização em 2005, li com muita atenção os artigos e entrevistas produzidos na imprensa e blogosfera poveira e segui, atentamente, as declarações e entrevistas dos presidentes dos dois clubes envolvidos em todo o processo.
Na teoria, e apesar de ter defendido neste blog soluções diferentes - ver filme do post anterior, compreendo a posição dos órgãos sociais dos clubes que aproveitaram esta situação para verem os seus terrenos valorizados e reunirem condições financeiras para “deslocalizar” os equipamentos desportivos para áreas mais afastadas mas que podem ser ajustadas às necessidades de espaço que a actividade desportiva exige.
O Presidente do Varzim deixa sempre, de uma forma muito clara, que o que está em jogo é a possibilidade de concretização da “engenharia financeira” referida no post anterior e, concorde-se ou não, percebe-se a “luta” pelo índice próximo de 1.8. Afirma que os erros urbanísticos na Póvoa “são mais do que muitos” e, por isso, não considera justo o relevo que este caso está ter.

Já no que diz respeito à posição do Presidente do Clube Desportivo da Póvoa, surgem-me imensas dúvidas dado que, se bem percebi aquando de uma das suas intervenções, tentou, enquanto profissional ligado à construção, ser o escolhido para a elaboração do plano de pormenor, numa posição que me parece, no mínimo, altamente discutível.
A ser verdade, um distanciamento do cargo de Presidente do Clube Desportivo da Póvoa tinha-lhe ficado muito bem, até porque, contrariamente ao habitual, surgiu uma segunda lista no último acto eleitoral do clube. Não o fazendo na altura apropriada podem facilmente surgir dúvidas sobre as preocupações centrais aquando da elaboração da proposta: defesa dos interesses do clube a que preside ou valorização do conteúdo do seu projecto para a zona E54, numa perspectiva profissional?
Por outro lado, apesar de não ser o autor da versão escolhida, defende, com enorme convicção, a solução encontrada que, segundo ele, “irá alavancar” o processo de edificação do Parque da Cidade, vendo apenas rosas onde muitos vislumbram espinhos, nomeadamente na transformação que o projecto de parque começa a sofrer, tornando-se, cada vez mais, num projecto desportivo que poderá levar à diminuição das condições físicas e ambientais para funcionar, também, como área de lazer.


domingo, 10 de maio de 2009

Plano de Pormenor Zona E54



Não gostaria de me tornar repetitivo mas, para escrever sobre este Plano de Pormenor, é necessário enquadrar a discussão num âmbito mais global que se relaciona com o crescimento urbano da nossa cidade. Esta contextualização, torna-se ainda mais importante porque está em jogo, não só, a zona do Varzim, CDP e Praça de Touros, como também as características do futuro parque da cidade que, por este andar, acabará por necessitar, também, de “vários pisos” para caberem todos os equipamentos que lá se pretende instalar.
Como referi, no artigo “O Precedente”, o presente século promoveu uma espécie de retoma do desvario construtivo, através do massacre (minimizado pela actual crise financeira) a que o espaço da antiga fábrica Quintas e Quintas está a ser sujeito, resultante da excepção que, na minha opinião, erradamente foi concedida. A partir daquele momento, a actual liderança autárquica ficou bastante condicionada na capacidade de regular o ordenamento urbano e é, nesse contexto, que deve ser entendida aprovação do Plano de Urbanização (publicado em Janeiro de 2006) que no artigo 40 – alínea hhh, já incluía a possibilidade de atribuição de uma bonificação de 50% ao índice de referência (1.2) para a zona E54. O condicionamento dos responsáveis políticos tornou-se ainda mais visível pelo facto de estarem em jogo pretensões de um clube, o Varzim, que é bastante querido de todos mas que pretende, somente, a engenharia financeira que lhe permita tentar resolver os seus problemas estruturais. Dá-me a sensação que as prioridades estão trocadas. Isto é, não estamos a colocar como objectivo central a busca de soluções urbanísticas para aquela área mas sim a ajudar a resolver o problema atrás referido.
No entanto, podemos ser fervorosos adeptos do Varzim e do CDP mas, antes de tudo, somos amantes da nossa cidade e da qualidade de vida que ela nos pode proporcionar e, por isso, fazia muito mais sentido não possibilitar índices de construção tão elevados para aquela zona e, em contrapartida, disponibilizar a utilização do Estádio Municipal ao Varzim de modo a que este clube, eventualmente, conseguisse libertar os recursos financeiros para introduzir as melhorias necessárias no Estádio Municipal e construir o seu espaço para treinos como chegou a ser defendido por ilustres poveiros. Esta opção seria inteligente, até pela evidência do que se passou no nosso país com a construção da maior parte dos estádios para o Euro 2004. Como é do conhecimento geral, tem uma utilização bastante reduzida e nem conseguem gerar recursos para a sua manutenção. Agora, na Póvoa, passaremos a ter dois estádios, separados por algumas centenas de metros. Realmente o que é importante é que exista actividade, que surjam negócios e que haja construção, muita construção. Mas a quem interessa todo este fervor construtivo? Não é, de certeza, à generalidade dos nossos munícipes nem à qualidade dos nossos espaços públicos.
Neste momento estamos a discutir, se é que efectivamente podemos utilizar esta expressão, o Plano de Pormenor para toda a zona. Todo o estudo está feito para encontrar forma de justificar aquilo que, na minha opinião, é injustificável. A título de exemplo, na volumetria sugere-se uma solução de compromisso entre a parte norte e nascente e alinha-se o novo hotel pela cércea do prédio do farol como se não pudesse haver outra solução; na estabilidade formal refere-se um desenho de equilíbrio em que as novas construções possam obliterar (ocultar) a desordem existente e fala-se numa “Sala de Estar Urbana” que muitos especialistas questionam em termos de volumetria e de orientação, sendo muito criticada a opção por um edifício exageradamente comprido e alto que o insuspeito jornal Voz da Póvoa comparou a um “comboio gigante descarrilado”.
A verdade é que o processo que levou à edificação das torres na zona da frente marítima é visto, nos nossos dias e por muitos poveiros, como um grave erro que comprometeu as gerações seguintes e agora, apesar de avisados, os actuais responsáveis políticos irão “completar o serviço” ocupando de modo semelhante, mas adaptado às modas e tempos actuais, o único espaço livre daquela zona.
A verdade é que, uma vez mais, nos tentam passar a ideia de que o espaço vai ficar muito agradável quando estiver concluído, mas o que vemos é o convite à excessiva concentração de pessoas e veículos numa zona que, por natureza, já os atrai. A ideia do centro comercial, apesar de a perceber na perspectiva dos promotores do negócio, é, na minha opinião, completamente descabida para a qualidade de vida em toda aquela zona e é das poucas alterações que ainda espero que se possa fazer, a bem da cidade. Aliás, o parecer negativo dado pela Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte resulta muito da preocupação com os impactes do referido centro.
A verdade é que todo este processo se assemelha a uma espécie de política de facto consumado que, aparentemente, está a levantar na opinião pública poveira insatisfação e, pelo menos, manifestação da sua indignação. Espero, sinceramente, que este sentimento se faça sentir de modo mais forte para, pelo menos, minimizar as pretensões demolidoras existentes para aquele espaço.
Apesar de reconhecer que isso não vai acontecer, gostava muito que o estudo da intervenção a efectuar sofresse uma reviravolta total, que fizesse não só baixar os índices de construção e as volumetrias exageradas como também fosse suficientemente criativo para propor um espaço de união entre o mar e a cidade, mudando o paradigma da intervenção que poderia ficar imortalizado numa espécie de Memorial dos erros urbanísticos efectuados nas últimas décadas que relembrasse sempre as gerações vindouras da importância do planeamento, do ordenamento e do desenvolvimento sustentável.

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Promar: Verdade ou Ficção? (continuação)



Dado que estas casas assentavam em terrenos que, de um modo geral, apresentavam grandes dimensões era bastante usual que, à medida que os filhos casavam, se procedesse a uma ampliação das casas de origem ou, na maior parte das vezes, se construíssem casas mais pequenas no quintal onde ficavam a morar as segundas gerações. Este facto era repetido através de sucessivas gerações o que originava dois tipos de consequências antagónicas; uma, negativa mas que raramente acontecia e que se relacionava com o aumento de conflitualidade inerente à maior concentração no espaço e à diminuição da independência dos diferentes casais e outra, positiva, que resultava do estabelecimento de relações de proximidade, cumplicidade e amizade que favorecia autênticas práticas comunitárias que, por sua vez, possibilitavam interessantes sinergias nos afectos e no trabalho. As crianças, por exemplo, tinham a sorte de poder usufruir de uma vida ao ar livre, dentro
dos terrenos dos seus familiares, nas diversas ruas do bairro norte e mesmo em áreas muito mais afastadas porque, a vida em comunidade permitia que “todos tomassem conta de todos”, sendo certo que eram as mulheres que controlavam as entradas e as saídas dado que os homens aproveitavam todo o tempo disponível para a pesca artesanal. A esmagadora maioria dessas crianças usufruiu de uma liberdade impressionante dado que, desde cedo, se habituaram a brincar na rua aos mais diversos jogos com destaque natural para o fiquinha, as escondidas, o peão, o botão, o estrancela, o aí vai galgo e o futebol com bola de trapos ou, excepcionalmente, com uma bola de borracha “apreendida” aos miúdos mais ricos, na maior parte das vezes aos filhos dos industriais que sazonalmente, no Verão, vinham a banhos para Promar. A liberdade daquelas crianças era algo de fantástico dado que muitas delas limitavam-se a passar por casa nas horas de almoço, lanche ou jantar e aproveitavam o restante tempo não só para brincar como para interagirem com o mar, sobretudo na zona do pequeno porto de pesca, onde mergulhavam dos pontões mais altos para as águas profundas com uma destreza e coragem invulgares. De seguida deitavam-se nas rochas aquecidas pelo sol ou no areal e assistiam à entrada e saída das embarcações onde os pais, tios, primos e irmãos mais velhos ganhavam as suas vidas sobretudo na pesca costeira. Todas estas crianças ambicionavam uma vida exactamente igual à dos pais pedindo, com frequência, para os acompanharem, solicitação que raramente era satisfeita pelos progenitores que, melhor do que ninguém, conheciam os perigos do mar.
As casas da primeira linha sobre mar eram autênticas vivendas, com amplas divisões e interessantes espaços verdes, sendo ocupadas, em parte pela população mais rica da vila que, no entanto e de um modo geral, tinha grande orgulho da globalidade do espaço e não apenas nos seus territórios. Outra parte dessas vivendas era propriedade de alguns industriais do vale do Ave que, com a acumulação da riqueza proporcionada por várias gerações, tinha capacidade financeira para as adquirir.
Na verdade Promar era, ao contrário de muitas outras localidades, uma vila de forte coesão social dado que todos se conheciam e os habitantes que não se dedicavam directamente à pesca tinham, necessariamente, de comungar dos modos de vida enraizados na vila que eram fortemente marcados por aquela actividade económica. Na prática verificava-se que, na maioria dos casos, os restantes promarenses gostavam do modo de vida dominante determinado, em grande parte, pela classe piscatória, pelo que se reviam na espécie de liderança natural exercida pelos pescadores. Salvo raras excepções, os filhos dos comerciantes abastados, médicos, professores, engenheiros, juristas e outras profissões mais exigentes em termos de percurso académico, brincavam com os miúdos da classe piscatória, havendo por parte dos pais a perfeita noção que o convívio só traria benefícios, sobretudo na aquisição de competências relacionadas com a autonomia, o espírito de iniciativa e, numa frase, a preparação para a vida. Do mesmo modo os pescadores demonstravam orgulho e uma sincera humildade, ao constatar que a interacção entre todos os miúdos era bem aceite pelos grupos profissionais das classes sociais mais favorecidas. Muitas vezes acontecia que, sobretudo médicos e professores, aconselhassem os pescadores sobre a melhor forma de tratar as respectivas famílias, nomeadamente as esposas e filhos, reconhecendo, muitas vezes, as suas fraquezas e limitações, principalmente quando se tratava de repartir tarefas da casa que, de um modo geral, eram vistas como obrigatórias para as mulheres.

terça-feira, 5 de maio de 2009

Promar: Verdade ou Ficção?


Após semanas em que se falou tanto em construções na areia, em edifícios volumosos e índices de construção exagerados para a zona "por explorar" da marginal, apeteceu-me recuperar Promar (publicado em Março deste ano). Na 5ª feira avançarei com a caracterização daquela localidade, desenvolvendo mais as relações sociais existentes naquela vila.


Promar

Situada no norte de Portugal é, sem dúvida, uma localidade milenária que terá, segundo os historiadores locais, apresentado várias designações que culminaram, no Século XVI, com o nome definitivo de Promar. Historicamente, trata-se de uma povoação com forte ligação ao mar e que, desde sempre, sentiu necessidade de efectuar grandes esforços para conseguir vincar dado que a população, por um lado, se dedicou muito à actividade piscatória tendo necessidade de enfrentar mares tempestuosos para conseguir o sustento das diversas famílias e, por outro, foi sempre sujeita ao pagamento de quantias significativas ao poder monárquico. Ao contrário de muitas outras, nunca conseguiu, no tempo da monarquia, qualquer tipo de isenção de pagamento impostos pelo que teve necessidade de trabalhar, não só para sobreviver como também para pagar a autorização para existir enquanto aglomerado populacional. Nunca foi uma povoação rica e, talvez por esse motivo, o seu crescimento até 1970 foi sempre ligeiro o que não permitiu o aparecimento de estruturas na vila que colidissem com as raízes históricas. As ruas, ao longo do centro histórico junto à Igreja de Nossa Senhora de Fátima, eram estreitas e apresentavam um desenho irregular a fazer lembrar, pela forma e traçado, as localidades do Alentejo e Algarve de forte influência muçulmana. Nalguns pontos as ruas eram de tal forma estreitas que as janelas de casa vizinhas permitiam a observação do que se passava na casa alheia, facto que, por um lado, fazia diminuir a privacidade mas, por outro, fomentava o estabelecimento de relações de proximidade entre as diversas famílias. Os edifícios deste centro eram bonitos, imponentes, com um, dois ou três pisos no máximo, e lá se concentrava a maioria dos serviços públicos, as principais lojas comerciais e alguma função residencial de classes mais favorecidas. Junto à praia e mais para norte, estabelecia-se uma malha de ruas paralelas à linha de costa que eram intersectadas perpendicularmente por outras que se ligavam à zona nascente, com um traçado muito mais geométrico, do tipo pombalino, que lhe davam um potencial de crescimento bastante interessante. Estas ruas, com excepção da que estava na primeira linha do mar, eram servidas por casas térreas, muito simples, onde a classe piscatória vivia de um modo bastante feliz dado que, a reduzida dimensão das casas, permitia uma percepção ampla da linha de horizonte e, mais importante, uma vista permanente sobre o mar.
Se observássemos a vila do ponto mais alto (na Igreja de Nossa Senhora de Fátima) constatávamos a sua interligação natural com o mar e a sua invulgar beleza que a tornariam mais tarde num lugar de forte pressão urbanística à qual, infelizmente, não foi capaz de resistir. O nome de Promar reflectia aquela simbiose, dado que o conjunto da vila estava intimamente associado ao mar através das cores, dos cheiros e dos ruídos. O azul vivo do Atlântico e do céu na Primavera e no Verão promoviam alegria, o prazer e gosto pela vida. O cheiro persistente a maresia era melhor do que qualquer água-de-colónia tornando Promar irresistível e afrodisíaca. O ruído das fortes ondas a embater na costa associado aos tons cinzentos do céu e do mar que dominavam o Outono e o Inverno integravam um tipo de beleza completamente diferente, talvez ainda mais encantadora que a do Verão.
Tratava-se, sem dúvida, de uma localidade com um potencial de tal modo elevado que, com uma visão de médio e longo prazo e um crescimento ordenado, sustentado e livre dos especuladores, rivalizaria com todas as “maravilhas do mundo” que possam existir e tornaria sempre felizes os seus habitantes bem como os seus visitantes.
Publicada por Luís Gonzaga Castro em 23:41

8 comentários:
Anónimo disse...
Ficção.

11 de Março de 2009 9:32
Anónimo disse...

Alguma coisa me diz que a Póvoa assumiu grande parte destas caracteristicas há 20 ou 30 anos atrás!

11 de Março de 2009 22:12
Anónimo disse...
Ficção!

12 de Março de 2009 13:34
Anónimo disse...
As duas abordagens são possíveis. É tudo uma questão de imaginação, experiência de vida e o desejo de um litoral menos acossado e comprometido.

12 de Março de 2009 14:36
José Luís Castro disse...
Não se sabe o que aconteceu a Promar mas, por mim falo, espero que se tenha mantido assim: ampla, próxima de todos e abraçada pelo mar. Como assim gostava que tivesse ficado a minha cidade mas decidiram povoar a primeira de linha de mar com prédios altíssimos e horríveis, assim como a Avenida Mouzinho que, após requalificação, mostra ainda mais ferozmente a fealdade dos edifícios que a compõem...E é triste, porque basta ver fotografias de há não muito tempo atrás para se perceber que a beleza já passou por aqui...mas não ficou. E agora, não sei com que propósito, tapam-nos o mar com "mamarrachos" que não nos fazem falta. Porque a realidade é esta, de acordo com o POOC ou não, quem precisa de mais bares em cima da praia? quem precisa de mais casas de banho? E se assim é, porque não vemos isto em mais local nenhum...?Destruir o que poderia ser um local lindíssimo é falta de inteligência pura e simples. Ordenar esta cidade, enchê-la de vida e não de turismo de garrafão, devolver-nos o nosso mar e a nossa praia, nada disto me parece, sinceramente, uma tarefa que exija uma visão extraordinária, um génio criativo de grande raridade. É simples, é só sentir...

12 de Março de 2009 16:24
rui oliveira disse...
Não posso estar mais de acordo contigo. Eu não sou da Póvoa, mas lembro-me de vir cá, há quarenta anos atrás, andar de bicicleta à volta do casino... e como esta cidade era diferente...
Bom post, Luís

12 de Março de 2009 18:08
Anónimo disse...
Em primeiro lugar, não considero que a história de Promar seja mera ficção, é uma visão (talvez utópica) que poderia perfeitamente ser realidade, caso os interesses politico/partidarios não se sobrepusessem aos interesses da comunidade Poveira. Não penso que, por exemplo, o executivo camarârio tenha interesses económicos ao autorizar a instalação destas infra-estrutuas, mas considero que consegue atribuir uma visão falsa do que é o turismo da Póvoa de Varzim.

Lamento profundamente que, em vez de requalificar as infra-estruturas já existentes na primeira linha de costa, se proceda à construção de 'mamarrachos' e à colocação de barracas que ocupam grande parte do arenal.

E quem são os principais beneficiados? Famílias provenientes de Guimarães, Barcelos, Braga, Famalicão, etc. É muito bonito dizer que a Póvoa é um enorme pólo turistico, mas vamos analisar os factos: Há uns anos estas famílias alugavam as casas mais antigas como, por exemplo, as da Rua António Graça.

Todavia, nos dias de hoje, vêm de carro de manhã e voltam para as suas localidades à noite. O quê que a Póvoa ganha com este tipo de turista que cá não deixa sequer um centimo? Que enche e suja a praia, mas que segundo o Dr. Macedo Veira, sustenta a economia Poveira durante o período balnear?

Quem sustenta a economia Poveira durante o período balnear e durante o resto do ano são os Poveiros!!! É preciso encontrar solucções para potencializar este tipo de turismo ou, por outro lado, criar um plano de fumento desta actividade económica que passe, em primeiro lugar, pela defesa dos interesses dos Poveiros.

Stif

13 de Março de 2009 15:26
Larose disse...
E melhor eu não diria!
.....alguém sabe de quem são as acções daquela nova bomba de gazolina mesmo aqui emfrente ao Modelo da Póvoa? ...Por acaso era preciso maia bombas, ainda por cima junto a zona habitacional!?!?!?!
E o parque de cadidade será que ainda é terminado neste século?