quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Fim do ano



Estamos quase a entrar no ano de 2010. Quando era miúdo, adorava que o tempo passasse depressa. A entrada no novo ano tornar-me-ia mais velho e aproximava-me do cumprimento de muitos dos meus pequenos sonhos. O passar dos anos tinha como consequência o aumento da autonomia que se traduzia em factos concretos como poder sair até mais tarde, ir de férias com os amigos, ter mais possibilidade de não ser barrado à entrada das discotecas ou do cinema para “maiores de 18” e, no início da idade adulta, a aproximação ao mercado de trabalho e à aspiração suprema da autonomia pessoal e financeira. Na infância e adolescência os anos tiveram muito mais que 365 dias e quem disser o contrário está enganado.
De alguns anos a esta parte tudo mudou. A percepção do tempo alterou-se profundamente. Repentinamente, os anos começaram a encurtar-se e, neste momento, têm muito menos que os 365 referidos pelos astrónomos. Os eventos ou momentos que marcam a nossa sociedade, como por exemplo o Natal e o fim de ano, surgem em espaços de tempo cada vez mais curtos. Já que não posso retomar o ritmo mais lento das duas primeiras décadas para viver ainda por muitos anos, resta-me aproveitar tudo o que de bom a vida me proporciona e brindar a uma ano de 2010 com muita saúde porque, apesar de ser uma frase feita, corresponde ao essencial da nossa vida.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Recordações de Natal



A recordação não tem apenas que ser exacta; tem que ser também feliz. Recordar não é, de modo algum, o mesmo que lembrar. Por exemplo, alguém pode lembrar-se muito bem de um acontecimento, até ao mais ínfimo pormenor, sem contudo dele ter propriamente recordação.
Soren Kierkegaard, in 'In Vino Veritas'

Há coisas difíceis de explicar. Quanto mais envelheço mais agnóstico fico e, paradoxalmente, mais gosto do Natal. Estou cada vez mais convencido que, nascemos, vivemos e morremos e que, para além disso, não haverá nada de especial. Nem céu, nem inferno e muito menos purgatório. Nem anjos nem demónios. Ninguém pode dar respostas. Mas, talvez pelas recordações de uma infância feliz e de uma época de grande convívio familiar, faço todos os possíveis para recordar e perpetuar a festa do Natal, contactando a família, colaborando nas tarefas de preparação da ceia, escolhendo as prendas com especial cuidado e, entre outras coisas, fazendo sempre o presépio que está associado às imagens deste post.
Desses tempos de infância recordo a banda desenhada da última ou penúltima página do jornal que começava a contar uma história de Natal a partir dos meses de Outubro ou Novembro. Era autenticamente devorada por mim e pelos meus irmãos.
Recordo, com enorme saudade, a chegada a casa do meu pai, após um dia duro de trabalho, e do início da construção do presépio. Durante uma semana, entre as dezanove e as vinte horas, eu funcionava com ajudante de carpinteiro, para lhe passar os instrumentos de modo a que ele produzisse um excepcional presépio de madeira e cortiça.
Recordo, com imenso prazer, a azáfama da preparação da comida típica da época bem como dos “roubos” efectuados de parte das delícias produzidas.
Recordo o sapato junto da chaminé e, algumas horas mais tarde, os presentes correspondentes.
Tenho muitas mais recordações do Natal e, por esse motivo e apesar do meu agnosticismo, faço os possíveis por “recriar” partes do que vivi, tentando envolver os meus familiares. No entanto, os tempos são outros e, muito provavelmente, aquilo que faço não será tanto para eles mas sim para mim porque se trataram, sem dúvida, de momentos de grande felicidade.
Aproveito para desejar um feliz Natal a todos os que se habituaram a ler e participar neste espaço.

domingo, 20 de dezembro de 2009

Presépios



Adoro presépios. A construção de um presépio está sempre envolta em saudosismo. No fundo, o que muitos adultos fazem é substituir os legos da sua infância, pelos bonecos de barro e os pedaços de musgo e cortiça. Recriar, através de diversos materiais, o ambiente, o vestuário, as figuras, as actividades económicas do período do ano zero é algo que me delicia. Com um pouco de empenho e imaginação, acabamos por fazer uma espécie de viagem no tempo e abstraímo-nos do quotidiano barulhento e truculento em que vivemos. Apesar da falta de jeito para “trabalhos manuais” e do meu agnosticismo (voltarei a esta questão no próximo post) faço todos os anos o presépio e, sempre que posso, vejo os que foram feitos por familiares, amigos e mesmo desconhecidos. De todos os que vejo, gostaria de destacar a autêntica obra-prima de engenho, arte, persistência e bom gosto que é o presépio do senhor Manuel Fonseca. Pode ser visto na sua casa, na rua de Sencadas, nº 521, em A-Ver-O-Mar.
Quem é apreciador, não deve perder a oportunidade, deslocando-se à exposição que se situa, um pouco para noroeste do Estádio Municipal, tendo o cuidado de ir ao Domingo à tarde ou, em alternativa, acertando com o autor, uma visita de grupo.Pode obter mais informação aqui, no site da Câmara Municipal da Póvoa de Varzim.
Nota importante: Não tenho qualquer comissão associada à elaboração deste post.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

O cacique

A palavra cacique está associada a lideranças indígenas de várias regiões da América do Sul. No nosso país este conceito tem evoluído para chefias locais que, a troco de favores, conseguem controlar as decisões de voto de um grande número de eleitores. O tema do caciquismo, ou seja da influência política dos caciques, surge com muita frequência no nosso país, tendo sido vários os líderes partidários nacionais que, nos últimos actos eleitorais e partindo do famoso “défice democrático da Madeira”, se manifestaram contra o caciquismo. No continente, a figura que melhor encaixou no conceito foi a de Avelino Ferreira Torres que, felizmente, tem perdido influência.
Mas, infelizmente, o caciquismo está bastante enraizado. O cacique da actualidade exerce o poder de forma autoritária e não se contenta com o exercício do poder executivo. Não conseguindo controlar o poder judicial, não lhe reconhece autoridade para ser julgado por ele e, quando é condenado, afronta a autoridade do juiz de uma forma que o comum do cidadão tem dificuldade em entender. Mas o cacique, pretendendo controlar tudo e todos, afronta os que conseguem resistir. Intimida-os e, normalmente, escolhe os elos mais frágeis e expostos dos opositores para ferir todos os que ousam resistir. Para essa tarefa utiliza todos os meios. Contacta-os directamente e tenta assustá-los, manda recados por outras pessoas, boicota o sucesso das actividades económicas das suas empresas intervindo na tentativa de diminuição do número de clientes, impede-os de frequentar determinados espaços e de obter certos serviços pela simples razão de estarem associados aos “inimigos". Por outro lado premeia, através da sua sistemática presença e benção, todos os que cobardemente lhe prestam vassalagem e, aspecto mais preocupante, cada vez mais se atreve a funcionar com investigador e juiz, substituindo-se às estruturas que, num Estado de Direito, têm essas competências. Incrivelmente, em muitos casos já foi condenado pelo poder judicial e nem esse aspecto o envergonha e demove de se constituir como justiceiro, qual Rambo do novo século.
O caciquismo, muito mais perto de si do que imagina!

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Mais receita?



A Câmara Municipal da Póvoa de Varzim aprovou uma alteração ao índice de construção, na área envolvente da via B e em Agro-o-Velho, de 0,5 para 0,7 e, nalguns casos, 0,8 de modo a que, segundo o Presidente da Câmara, “os processos para construção sejam viáveis do ponto de vista financeiro”. Esta decisão enquadra-se na aprovação, pela maioria PSD e pelo representante do CDS, das alterações ao Plano de Urbanização da Póvoa.
Naturalmente, a força política da oposição, o Partido Socialista, manifestou-se contra, argumentando que o objectivo central da maioria é “aumentar a receita através do licenciamento de prédios mais altos”.
Sendo certo que a maioria das receitas municipais resulta dos impostos gerais transferidos directamente do orçamento de estado, não deixa de ser também verdade que a lógica de muitos dos responsáveis do poder local assenta muito na autorização de novas construções. A garantia de maiores receitas para as autarquias e, por vezes, outras causas menos claras associadas frequentemente aos beneficiados pelas alterações dos planos estão na base dessa lógica. Por esses motivos e atendendo a que o parque urbano por ocupar é enorme, faz cada vez mais sentido a discussão, levantada por inúmeros especialistas que defendem a necessidade de alterar radicalmente o financiamento das autarquias, bem como resolver, de vez, o problema do arrendamento urbano. Só com a conjugação dessas duas variáveis seria possível incentivar e desviar, de modo significativo, a actividade das empresas de construção civil para tarefas de recuperação urbana e não, como teima em acontecer, de implementação sistemática de novas construções que despoletam muito do que é associado negativamente ao poder local.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

O centésimo

Muito perto de completar dez meses de existência, surge hoje o centésimo post do blog Descarga. Procurei, neste curto período, emitir opinião sobre temas diversos, havendo uma forte incidência dos artigos sobre educação, sociedade e, sobretudo, política local que, isoladamente, absorveu mais de 1/3 do total. Senti que, em termos de interesse dos leitores, este era o assunto de maior preferência e que despoletava maior participação. Sobre este aspecto, e apesar da posição pública que assumi no último acto eleitoral, continuarei a escrever emitindo a minha opinião de forma livre o que não invalida a existência de uma linha orientadora que, naturalmente, corresponde às minhas opiniões.
Outro dos aspectos que me levou a avançar com este blog relaciona-se com a necessidade de me obrigar a reflectir sobre temas que me interessam, não só em termos pessoais como também para o exercício da minha actividade profissional, dado que implicam leitura, pesquisa, reflexão e, muitas vezes, tomada de posição sobre alguns assuntos coincidentes com a minha actividade de professor. Muitos dos temas tratados neste blog, nomeadamente os que se relacionam com o país, a cidade, o ambiente, o planeamento e ordenamento do território fazem parte dos currículos das disciplinas que lecciono e, por esse motivo, estabelecer uma ligação mais concreta desses conteúdos com a realidade constitui, para mim, uma indiscutível vantagem.

sábado, 5 de dezembro de 2009

Climategate


Nos últimos dias surgiram um conjunto de notícias segundo as quais um dos principais centros de pesquisa sobre o aquecimento global, o Climate Research Unit da Universidade “East Anglia”, envolveu-se de tal modo na tese do aquecimento global que utilizou os piores meios para a sua defesa. A manipulação da informação, através da valorização das teses próximas das do centro ou desacreditação e desvalorização das que contrariavam a ideia do aquecimento global causado pela actividade humana, terá sido frequente. A rejeição de artigos de outros cientistas e a pressão para a demissão de editores de jornais importantes também terá ocorrido.
Numa altura em que se discute um eventual acordo em Copenhaga e em que se negoceia, hipocritamente, a compra e venda de emissões de CO2, que contribui para o aumento do fosso norte/sul, a divulgação deste “Climategate” origina, na população em geral, um sentimento de insegurança sobre um tema bastante consensual que aponta para a necessidade de impedir que as actividades humanas contribuam para o aquecimento global e para as mudanças climáticas da actualidade.
Apesar da coincidência deste caso surgir num momento em que se podem tomar decisões importantes para a Terra e, por esse motivo, poder ser enquadrado numa espécie de lóbi contra todos os que tem lutado contra o aquecimento global, as divisões simplistas entre os “bons” e os “maus” que, na área do ambiente muitas vezes ocorrem devem, pelo menos, ser analisadas com menos paixão e mais racionalidade.

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Sobre a Mudança de Instalações do Clube Desportivo da Póvoa


Todas as pessoas que me conhecem bem sabem o carinho que nutro pelo Clube Desportivo da Póvoa. Participei, de modo intenso e nas funções mais diversas, na sua vida durante mais de vinte anos. Interrompi a minha participação activa porque, sendo professor e trabalhando regularmente em horários mistos mas com forte componente nocturna, não podia dar o acompanhamento necessário como treinador, coordenador ou dirigente.
Nunca me arrependi de qualquer momento passado no clube, tendo este sido fundamental em todo o meu processo formativo. Ao contrário do que muitas vezes se diz nestas circunstâncias, recebi muito mais do clube do que dei. Não recebi em dinheiro, mas em aquisição de competências que foram e são importantes na minha vida pessoal, profissional e institucional. Quanto ao meu contributo, não serei a pessoa mais indicada para falar nele, mas orgulho-me imenso do trabalho desenvolvido em conjunto com muitos amigos de diversas gerações.
As circunstâncias da vida mudam e, naturalmente, passei a ter muito menos contacto, aparecendo no clube apenas para pagar as quotas e para ver alguns jogos, sobretudo da modalidade a que estive mais ligado, o basquetebol. Nos últimos anos, em virtude do meu filho mais novo praticar aquela modalidade no clube, voltei a frequentar mais regularmente as instalações, nomeadamente o pavilhão e apercebi-me, gradualmente, das mudanças implementadas, principalmente ao nível dos recursos humanos utilizados que se tornaram, cada vez mais, “importados”.
Neste “meu regresso ao clube” acompanhei, como podia, todo o processo de eventual transferência das instalações desportivas para o parque da cidade. Gostaria muito de ter estado presente na última assembleia-geral mas, em virtude da minha actividade profissional as noites, de segunda a sexta-feira, estão bastante ocupadas. O não ter estado presente, não significa que não tenha interesse e opinião sobre o tema e não tenha acesso ao conteúdo da discussão e das decisões tendo, inclusivamente, solicitado à direcção do clube autorização para consulta do dossier existente à data das decisões da referida assembleia. Falei, também, com vários sócios com opiniões diversas sobre este assunto, procurando contextualizar melhor toda esta problemática.
Como é do conhecimento dos leitores deste blog, tomei uma posição inequívoca sobre todo o processo associado à zona E54, manifestando-me, como poveiro, contra a aprovação do Plano de Pormenor que, na minha opinião, deu mais um contributo para uma nova “machadada” no ordenamento do nosso território.
No entanto, após a aprovação pela Assembleia Municipal, entendo que será muito difícil ao Clube Desportivo da Póvoa efectuar uma opção estratégica diferente e que não assente na “transferência” das instalações. Esta convicção baseia-se no simples facto de sempre ter existido uma enorme dependência financeira do clube em relação à autarquia e, como esta se empenhou nesta solução, dificilmente lidaria bem com uma opção do clube que contrariasse a sua. Ao aprovar essa estratégia, na última assembleia-geral, o CDP, associa-se à onda migratória acabando por, como afirma José Ricardo em corajoso artigo publicado no Póvoa Semanário de 11 de Novembro, ser empurrado para o Parque da Cidade. Nesse artigo, José Ricardo faz uma abordagem completamente diferente à que está instituída, apontando o caminho do crescimento e rentabilização do espaço já existente como uma alternativa à transferência de instalações. Também Carlos Mateus, em interessante artigo de opinião registado na primeira edição de Novembro do Voz da Póvoa, lança várias questões pertinentes que deviam merecer, pelo menos, o reforço da discussão.
É para mim bastante claro que as razões apontadas pela direcção carecem de sustentação. Na verdade, o que mais me incomoda neste processo é a ausência de uma fundamentação segura para as alterações propostas, dando-se um autêntico “salto no escuro” para uma nova realidade que, tirando as imagens interessantes elaboradas por programas de desenho, ninguém sabe bem qual é. Analisando os números disponibilizados pela direcção, abdica-se de duas das mais seguras e importantes fontes endógenas de receitas actuais, o parque de estacionamento e piscina exterior, em troca de perspectiva de crescimento da receita fixa à custa de novas valências, como a clínica, o health club e o restaurante, partindo do pressuposto que vai correr tudo bem e que vai ser fácil encontrar os parceiros estratégicos para esses empreendimentos. Por outro lado, é apontado um “modelo de negócio” em que, no final e após a venda dos terrenos actuais e a aquisição dos novos, associada à execução das diversas valências previstas, surge uma pequeníssima “folga” de pouco mais de 200 mil euros. Para estes números baterem de tal modo certo (refira-se que estamos a falar de mais de 12 milhões de euros para a venda dos terrenos e um valor ligeiramente inferior para a compra dos novos e respectivas edificações), dá a sensação que, como é apanágio do nosso concelho, se vai construir em função da eventual disponibilidade financeira possibilitada pela venda e não em função das necessidades do clube. Apesar de não ser gestor nem economista, atrevo-me a questionar esta opção optimista, arriscada e absorvente de todos os capitais que o clube pode gerar. Não seria mais sensato elaborar um plano que desse resposta às razões enunciadas para justificar a transferência, mas que garantisse segurança perante a incerteza do mercado e que acautelasse futuras derrapagens?
Para além de todas as dúvidas que acabo de enunciar e não querendo colocar em causa a seriedade de ninguém, continuo a pensar, como defendi anteriormente neste blog (no post de 13 de Maio de 2009 intitulado “Os Clubes da Póvoa / Plano de Pormenor”), que seria muito mais correcta a abertura da possibilidade de outros arquitectos apresentarem, sem custos para o clube, eventuais propostas através, por exemplo, de uma espécie de “concurso de ideias de arquitectos amigos do clube” porque, desta forma, o processo seria mais transparente e, no caso de não aparecer qualquer proposta, seria melhor entendida, por todos os sócios, a dedicação “profissional” do presidente do clube nesta matéria.