quarta-feira, 25 de novembro de 2009

A Pítia do Regime


Cada vez há menos paciência para ouvir, de quem usufrui de mordomias desproporcionadas para a dimensão do país, lições de macroeconomia. Expressões como moderação salarial, equilíbrio das contas públicas, competitividade, controlo da inflação e tantas outras, vindas de quem tem vindo, valem cada vez menos.
Apesar de reconhecer pertinência à generalidadedas questões levantadas, nota-se muita inabilidade na comunicação dessas evidências e, ainda mais grave, fica sempre a sensação que todos os sacrifícios feitos por quem trabalha não são canalizados para os desperdícios mas, quase sempre, para novos vícios, acabando tudo numa espécie de ciclo vicioso em que acaba sempre pior quem menos tem.
Vale a pena ler o artigo de opinião de Manuel Pina sobre o expoente máximo destas comunicações, o Dr. Vítor Constâncio, considerado pelo autor como uma espécie de Pítia do nosso regime.

domingo, 22 de novembro de 2009

A moda do “Take Away”



Todas as pessoas são livres de comer o que bem lhes apetecer. Comida tradicional portuguesa, pastas italianas, sopas e/ou saladas, produtos vegetarianos, fast-food e tudo o resto.
Todos são livres de comer onde lhes apetecer. Podem correr para casa e cozinhar, ir ao restaurante, telefonar e solicitar a entrega de comida em casa ou, como está agora muito na moda, comprar a comida nos Take Away, levando-a em sacos de plástico mais ou menos gordurosos.
É interessante verificar que o número de empresas que aplicam este conceito e se instalam na nossa cidade parece crescer na mesma proporção do aumento das dificuldades financeiras das famílias.
Somos cada vez mais pobres e endividados, mas não nos deslocámos à padaria para adquirir o pão e consumi-lo em casa. Tomámos o pequeno-almoço no café, gastando nesse momento mais do que muitos poderiam gastar, em média, durante todo o dia.
Somos cada vez mais pobres e endividados, mas não economizamos cozinhando em casa para a nossa família. Vamos aos restaurantes e, em alternativa e cada vez mais, aos Take Away afirmando, com aparente convicção, que essa decisão é muito mais económica do que a confecção em casa das nossas refeições.
Se continuarmos a estabelecer a relação entre a natureza do consumo e o grau de pobreza dos consumidores, continuamos a verificar que, salvo honrosas excepções, o desperdício ocorre também com “as pequenas vinganças” ou supostos “nivelamentos” para com os mais ricos e que se manifestam na aquisição, “em suaves prestações”, de telemóveis de última geração, plasmas com muitos centímetros e muitos outros aparelhos apelativos cujos encargos financeiros estão para essas famílias como os terríveis juros da dívida externa para os países menos desenvolvidos.

domingo, 15 de novembro de 2009

Pandemia ou paranóia?

Qualquer indivíduo minimamente informado conhece a força das indústrias de armamento e farmacêutica.
Recordo-me, como se fosse hoje, de um interessante artigo de Miguel Sousa Tavares, publicado, salvo erro, na desaparecida revista “Grande Reportagem”, em que ficava claramente demonstrada a relação entre o crescimento económico de muitos países industrializados, nomeadamente os EUA, e a indústria de armamento. Nesse artigo, era estabelecida a necessidade de “descarregar” as armas antigas e actuais para que pudessem ser produzidas e compradas as novas e, por esse motivo, as guerras acabavam por ser uma espécie de inevitabilidade. Era referido que, apenas para o trabalho de lóbi, eram canalizadas verbas impressionantes. São conhecidas as forças que se movem em torno dos negócios do armamento e que, por exemplo, levaram recentemente à condenação de várias figuras conhecidas da cena política francesa.
Sem ter a pretensão de afirmar que todo o processo que gira em torno da chamada “gripe A” se trata de um grande embuste, penso que vale a pena observar este filme, não tanto pelas ligações particulares entre o antigo Secretário de Estado do governo Donald Rumsfeld e a indústria farmacêutica, mas pela capacidade em questionar a eventual sobrevalorização da doença de modo a justificar a criação de condições para que, à semelhança do que acontece com as armas, a aquisição dos produtos farmacêuticos atinja os valores desejados e alimentem a necessidade de produção.

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

A excepção

O envelhecimento provoca, em todos nós, uma redução gradual das capacidades físicas e intelectuais. Podemos ser mais fortes nas questões relacionadas com a maturidade e em que a experiência é decisiva, mas falha-nos a visão, a audição, a destreza motora e de raciocínio e, por todos esses motivos, entramos num irreversível processo de declínio que está devidamente estudado pela comunidade científica.
No entanto essa comunidade desconhece um autêntico “Caso de Estudo” da nossa cidade que, por mera coincidência, é a responsável pela minha vinda ao mundo.
Faz hoje 86 anos. É o esteio sereno e indiscutível de uma família numerosa. Resistiu, com uma força arrepiante, às dificuldades que as circunstâncias da vida lhe colocaram, nomeadamente quando foi confrontada com a inevitabilidade da morte de entes queridos.
Ainda hoje, quando surgem novos problemas, revela uma força interior de tal forma anormal que a leva, muitas vezes, a confortar quem tinha a obrigação de dar conforto. A força, provavelmente encontrada numa fé muito segura em Deus, é tanta que, por vezes, até assusta. Considero-a um autêntico “rochedo sensível”, visto que a sua força e preocupação com os outros é indescritível.
Foi sempre muito positiva na forma como educou os filhos e como auxiliou na educação dos netos e, agora, dos bisnetos. Numa altura em que a palavra castigo imperava e a palavra reforço positivo não fazia parte do vocabulário em educação, contribuía, de modo incrível, para o reforço da auto-estima de todos os descendentes. Sabia, como ninguém, criar um clima de responsabilização individual que fazia com que não fossem necessárias normas rígidas para que, todos nós, crescêssemos bem. Não precisava de nos mandar estudar ou dizer a hora a que devíamos chegar a casa, após uma saída nocturna, porque tinha uma impressionante habilidade para estimular a nossa autonomia. Ainda agora, com os netos, procede de igual forma. Nas pequenas crises individuais, são normais as visitas para breves diálogos a sós que terminam, invariavelmente, com saídas muito mais animadas do que as entradas. Acredita, como mais ninguém, nas capacidades das pessoas que ama.
À medida que nos fomos tornando adultos, respeitou a nossa necessidade de espaço e, quando saímos de casa, preocupou-se apenas com o nosso bem-estar, não nos obrigando, como infelizmente acontece com muitos pais, a visitas regulares ou aos tradicionais almoços domingueiros. A frase que mais ouvíamos e que “não era dita da boca para fora” era:
- Não se preocupem em cá vir. O que preciso de saber é que estão bem!
Detentora de uma formação fortemente marcada pela influência da Igreja e possuidora de uma fé inabalável, aceitou, com toda a naturalidade, os caminhos diversificados seguidos pelos seus filhos, demonstrando capacidades relacionadas com a tolerância, que bem falta fazem a muitos dos responsáveis da hierarquia religiosa.
Juntamente com o meu pai, passou-nos valores que cimentaram toda a família e que, nos tempos actuais, necessitam, mais do nunca, de ser recuperados. Como vivemos uma época de sucesso a todo o custo, lucros fáceis, de aparências, de individualismo e de ausência de preocupações sociais, os valores da solidariedade, da discrição e da justiça têm que ser, não só proclamados, como defendidos no concreto. Enquanto muitos se orgulham do seu novo carro topo de gama ou do sucesso perene na bolsa, cada vez mais valorizo a sorte que tive em ter sofrido a sua influência, bem como a do meu falecido pai.
Só lhe encontro um defeito e que se relaciona com o enorme receio que os seus descendentes se dediquem a actividades de visibilidade pública. O receio da exposição corresponde, no fundo, a uma tentativa de protecção.
Será defeito? Ou não será, uma vez mais a sua enorme sabedoria a defender a importância da intervenção discreta?

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Comentários anónimos

Quando arranquei com o blog descarga tive, durante um período de tempo significativo, uma total ausência de “filtragem” dos comentários que ficavam automaticamente disponíveis para qualquer leitor. Muitas vezes o comentário foi tão ou mais importante do que o texto que o despoletou, criando-se várias situações dinâmicas que me pareceram interessantes.
O anonimato em si não me perturba. São inúmeras as situações da vida em que o anonimato está, ou esteve presente pela positiva. Territórios e épocas de maiores entraves à liberdade de expressão foram e são ambientes propícios às intervenções anónimas e importantes. O próprio acto de votar, como bem referiu um comentador, é um exercício onde o anonimato está presente, fazendo valer a ideia de que “o voto é secreto”.
A minha preocupação fundamental está no conteúdo do comentário. Como devem calcular, o carácter anónimo de alguns comentários associado, algumas vezes, a um registo pouco condizente com a tentativa de discussão séria de alguns problemas, levou-me a proceder à sua moderação, não publicando aqueles que se limitavam a insultar ou ameaçar os mais diversos actores dos temas abordados (incluindo o próprio autor), penitenciando-me, desde já, por eventuais falhas nessa tarefa.
Seria bastante interessante que estes comentadores anónimos que se limitam a ameaçar, a insultar, ou a fazer acusações graves, por vezes sem qualquer tipo de sustentação, seguissem o exemplo de alguns blogers ou leitores devidamente identificados que, quando participam neste blog, afirmam as suas opiniões e”dão a cara” por elas, mesmo que sejam, por vezes, duras e polémicas.
Atendendo a estes factos e indo de encontro a sugestões de alguns leitores do blog, solicito que os comentários tenham em conta, directa ou indirectamente, o assunto despoletado pelo post, e não, a divagação para assuntos laterais, e muito menos, para os insultos como, infelizmente, muitas vezes acontece.

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Petição pública



Petição Salvar Vidas através do Acesso Público a Desfibrilhadores Automáticos Externos (DAE)

Não há paciência



Não tenho apetência nenhuma para entrar na euforia justicialista que, por vezes, assola o nosso país. Compreendo bem a diferença entre suspeitas de um crime e a sua confirmação, após um processo em que a oportunidade de defesa existe, tal como acontece num país democrático. No entanto, a quantidade de casos que envolvem a promiscuidade entre detentores de cargos públicos, nomeadamente quadros superiores de grandes empresas públicas ou participadas pelo Estado, políticos e empresas privadas, começa atingir o limite do suportável.
Todos os factos relatados, durante estes dias, sobre o chamado caso “Face Oculta” e a recuperação dos hábitos amistosos do BPN mostra-nos que temos, não só um problema de competência, como também de seriedade de quem tem responsabilidades de nível hierárquico mais elevado.
Afinal os esquemas do Ezequiel Valadas não são ficção e alargam-se a diversos níveis de intervenção.