quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Paz Negra

Todos os anos, salvo erro desde 1999, a Póvoa de Varzim promove, numa desinteressada parceria público/privada, um evento chamado “Encontro pela Paz” que terá surgido como uma espécie de resposta ao repto lançado pela ONU que considerou o ano 2000, como o “Ano Internacional para a Cultura da Paz”
O Encontro pela Paz tem como principais objectivos: ”Sensibilizar a população para a importância crucial do envolvimento de todos na promoção de uma cultura de Paz, criar hábitos de partilha, celebração e de troca de experiências positivas, promover uma acção orientada, sem diferenças de raça, credo ou condição sócio-económica e consolidar uma tradição de Paz.”
Todos os anos, a organização deste este evento desencadeia um conjunto de iniciativas (porquê tantas?) que, passam por espectáculos, marchas, cordões humanos e pelo lançamento para o mar das flores brancas recolhidas para a taça da paz.
Detesto esta actividade, apesar de reconhecer que alguns dos participantes estarão imbuídos de um espírito sincero de paz e de bom relacionamento entre todos. Trata-se de uma actividade absolutamente dispensável dado que propicia um sem número de equívocos e de dúvidas legítimas e não reforça, de modo algum, as boas práticas, não sendo por isso eficaz no seu propósito. Comecemos pelos equívocos:
Incomoda-me viver numa terra em que os adversários políticos não se respeitam mas conseguem lançar pétalas brancas para o mar
Incomoda-me ver autarcas vestirem, por altura do Natal, a pele de anjos quando no decorrer do ano declaram guerra a quem tem a coragem de pensar diferente.
Incomoda-me ver no site da Câmara a pomba branca quando o símbolo mais ajustado seria uma ave mais agressiva que traduzisse a intimidação provocada pelos sucessivos processos em tribunal contra poveiros cuja falha é não lerem pela mesma cartilha que o poder.
Estou farto de branco.
Vamos às dúvidas:
Incomoda-me pensar nos custos que esta organização deve ter.
Incomoda-me imaginar que, à custa da paz, possam surgir interesses muito particulares a sobreporem-se ao interesse público.
Incomoda-me pensar que, se calhar, este evento já apresenta uma estrutura idêntica a muitas outras ligadas ao desporto, ao lazer e ao associativismo e que servem, sobretudo, para facilitar os mecanismos de perpetuação no poder.

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Novas Oportunidades - pequeno contributo

Estou velho. Sou professor do ensino secundário desde Novembro de 1981, altura em que esta profissão ainda não era sinónimo de desemprego. Na verdade, no ano lectivo 1981/82 conciliei os meus estudos na Universidade do Porto com a actividade docente numa simpática escola de Esposende. Por incrível que pareça, o exercício da profissão e a conclusão da licenciatura, não só não se mostraram incompatíveis como funcionaram como elemento estruturante da minha formação geral dado que aperfeiçoei capacidades relacionadas com o empenho, a persistência, a organização e a valorização do essencial em detrimento do acessório.
Desde essa altura, e apesar do exercício de praticamente todos os cargos possíveis numa organização escolar, habituei-me a trabalhar com dezenas e dezenas de alunos, nos primeiros anos eram mesmo centenas, dado que houve escolas em que ainda leccionei para turmas com mais de quarenta elementos.
Reconhecendo muitas vantagens inerentes ao exercício desta profissão, nomeadamente em termos de flexibilidade horária para o trabalho da componente não lectiva, que me permitiram orientar a vida para um quotidiano mais saudável que muitos colegas que optaram por outras profissões, tenho, também, que salientar que se trata, ao mesmo tempo, de uma profissão de enorme desgaste dado que o trabalho com jovens é, por natureza, complexo e denso. Por outro lado o clima de conflitualidade que teima em persistir no sistema educativo acentua o cansaço e, infelizmente, tem levado nestes últimos tempos ao abandono de excelentes profissionais que me habituei a ver como autênticas referências e modelos a seguir.
Após dezenas de anos a trabalhar sempre com tantos alunos fui confrontado, pelo Conselho Executivo da minha escola, com a necessidade de aprender uma nova profissão, dado que fui indicado para funcionar como profissional RVC, no âmbito do programa Novas Oportunidades, dado que na minha actual escola passou a existir um dos muitos Centros Novas Oportunidades.
Estou, no fundo, a começar a exercer uma nova profissão sem que esse facto tenha correspondido a uma vontade própria, dado que, apesar de todo o desgaste, aquilo que, claramente, gosto de fazer, penso que razoavelmente -perdoem-me a imodéstia, é trabalhar com os alunos e estar no espaço da sala de aula. Embora compreenda os motivos que levaram a direcção da minha escola a incluir-me, a tempo inteiro, na equipa do nosso CNO, continuo a lamentar a alteração profissional a que fui sujeito.
Como os tempos actuais não são de reivindicações mas de valorização do emprego (aliás, por maneira de estar, também seria difícil que tivesse outra atitude) iniciei-me nesta aventura das Novas Oportunidades, apanhando um “barco em andamento” que, podemos dizer, está para os adultos como o Magalhães para as crianças. Na verdade, eu e os meus colegas iniciámos esta nova etapa sentindo que pisávamos terrenos armadilhados dado que as opiniões dos políticos e dos fazedores de opinião se situavam num ou noutro extremo da avaliação possível. Isto é, de um lado tínhamos os que consideravam este programa Novas Oportunidades excelente para a Educação de adultos enquanto outros o associavam apenas às estatísticas e ao facilitismo.
A publicação dos links para os vídeos “Gandas Oportunidades” e “Novas Oportunidades - Só Virtualidades?” pretende, precisamente, marcar o contraste entre estas duas formas extremas de observação da mesma realidade/fenómeno.
O curto período de trabalho nesta iniciativa permitiu-me contactar, de muito perto, com estas duas sensibilidades.
Muitos dos responsáveis do programa (ou a ele associados pela formação) falam da iniciativa de um modo extremado em que só há uma verdade, a da excelência do programa. Em alguns momentos do meu percurso formativo e, felizmente, apenas com alguns dos responsáveis senti que havia uma repetição de slogans definitivos, do tipo “quem não está por mim está contra…” e não havia tanto a capacidade de demonstrar que este tipo de oferta era a que melhor se adequava à realidade da nossa população adulta.
Um conjunto significativo de portugueses, talvez a grande maioria, pensa exactamente o contrário associando o programa apenas ao facilitismo e ao trabalho para a obtenção de resultados estatísticos demonstrando, em muitas situações, uma grande ignorância acerca das possibilidades associadas à iniciativa. Esta ignorância, por incrível que pareça, está associada a algumas das nossas mentes brilhantes e fazedoras de opinião que, nomeadamente no que diz respeito ao acesso ao ensino superior demonstram desconhecimento e superficialidade.
Torna-se assim importante que, algures entre os dois extremos, se encontre uma posição mais ajustada, em que se valorize todos os casos de certificação de adultos que, efectivamente conseguiram ao longo da vida adquirir as competências chave previstas para a conclusão do ensino secundário e que o regresso à escola possibilitou a sua demonstração. Para isso é fundamental que os centros apoiem este regresso dos adultos à escola mas, em simultâneo, sejam rigorosos nas formas de avaliação, nem que, para isso, não consigam cumprir as metas definidas pela ANQ.
Outro aspecto importante relaciona-se com a necessidade de associar estas iniciativas à produtividade, contribuindo para a melhoria das práticas de todos os adultos nos seus postos de trabalho e nas suas empresas.
Um último ponto importante para reflexão relaciona-se com a necessidade de investir, cada vez mais, na escolaridade básica porque, não havendo mudanças significativas na sua qualidade, estaremos a remediar um problema no topo que não deixará de ser alimentado pela base.

Novas Oportunidades - Só Virtualidades?

sábado, 21 de fevereiro de 2009

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Homenagens

Como Homenagens
             O nosso país é, cada vez mais, o país das homenagens. Homenageamos políticos detentores de cargos públicos, párocos, arquitectos, engenheiros, médicos, economistas, juízes, advogados, professores, futebolistas, Dirigentes desportivos ea lista nunca acaba.
             Dizemos mal dos nossos politicos e acabam não como sessões de grande reconhecimento.
             Reconhecemos uma inadaptação da Igreja aos tempos actuais e louvámos acção de bispos e padres.
             Criticámos como modas Áridas que descaracterizaram como nossas vilas e cidades mas Organizamos festas de homenagem para arquitectos e engenheiros.
             Lamentamos a falta de carinho e de respeito pela vida muitas vezes com que somos confrontados em situações de doença e participamos nas homenagens aos médicos e outros técnicos de saúde.
             A economia está um caos. O desemprego, a falta de crescimento económico a ausência de uma Estratégia de desenvolvimento económico sustentado é evidente e contribuímos para o Reconhecimento Público de muitos economistas e gestores.
             Lentidão da Queixámo-nos do nosso sistema de justiça e estamos, o ano inteiro, a assistir a actos de enorme solenidade e reconhecimento dos agentes do sector.
             Afirmámos, com uma segurança impressionante, que os nossos alunos não aprendem nada e prestamos homenagens aos professores emocionadas.
             Criticámos a falta de qualidade do nosso futebol bem como dos decrépitos Dirigentes Desportivos e venerámos os agentes desse desporto.
             Todos dirão que muitas dessas homenagens são justas porque, felizmente, em todas as profissões e cargos Referidos há excelentes exemplos. Concordo apenas das premissas com uma, isto é há, serios efectivamente políticos, párocos com obras sociais importantes, arquitectos bons, excelentes investigadores e médicos, juízes justos, serios advogados, professores para ensinar que nasceram e atletas dotados de aptidões especiais para uma actividade desportiva . No entanto, se fizermos uma listagem das homenagens formais e organizadas Constatamos, infelizmente, que apenas alguns dos bons exemplos foram distinguidos.
Muitos dos exemplos de excelência Vivem como homenagens não seu quotidiano, pela forma como profissões e abraçam causas e pelo reconhecimento permanente que todos sentem quando contactam com Aqueles que beneficiaram da sua sabedoria e rectidão. Não necessitam de qualquer tipo de formalização das suas boas práticas e não vêem com bons olhos a organização de eventos que, na sua opinião, são desnecessários. Verificam-se até situações em que o potencial homenageado não consegue inverter uma dinâmica criada para o distinguir e fica na situação de desconfortável de assistir ao aproveitamento do seu nome.
Grande parte dos indivíduos de indiscutível mérito não assiste, no seu tempo de vida, ao Reconhecimento das suas capacidades dado que, muitas vezes, Enfrentar e ousam questionar as poderosas Organizações despoletam e que controlam esses eventos (o exemplo de José Saramago é paradigmático). Para estes, quando muito, haverá, daqui a alguns ou muitos anos como famosas homenagens a título póstumo que, não tenho dúvida, saltar "fazem do Caixão" Destinatários OS.
Muitos dos mediocres que imperam na nossa sociedade e que fazem o culto da personalidade polarizam, em seu torno, essas homenagens Criando Condições para que os seus eternos vassalos se encarreguem de organizar uma merecida festa de Reconhecimento e veneração que, distanciamento com o Vista, pode ser confundida, por exemplo, com um simples jantar partidário ou com uma das Acções das festas típicas das localidades.

Mais vale tarde do que nunca

Está muito na moda falar mal da Internet. Critica-se o seu uso excessivo e obsessivo. Lamenta-se o total descontrolo do acesso das crianças e adolescentes. Proclama-se a Internet como um dos fenómenos responsáveis pela suposta "degradação moral e social" das sociedades modernas e não falta quem afirme que a navegação excessiva obstaculiza as boas práticas nomeadamente de actividades lúdicas e desportivas. Discute-se a reduzida qualidade de muitos materiais produzidos e nem é necessário falarmos das questões relacionadas com a facilidade de acesso a conteúdos impróprios para os mais novos e das redes de criminalidade associada à pedofilia.
No entanto há, sem dúvida, aspectos positivos que nem sempre são valorizados e, neste caso, relacionam-se com a possibilidade de qualquer indivíduo escrever abertamente sobre os assuntos que lhe interessem, mesmo que a qualidade dos seus textos seja reduzida.
No meu caso, o gosto pela escrita sempre existiu. Possivelmente fraca e, por isso, sempre guardada nas minhas capas, gavetas, disquetes, pens ou outro sítio bem escondido.
Sempre que escrevo, principalmente quando o faço sobre situações que me parecem injustas ou até mesmo escandalosas, tenho uma óptima sensação de alívio que me traz uma tranquilidade indescritível.
É, portanto, neste contexto de catarse que devem ser entendidos todos os textos publicados estabelecendo ligação com o próprio nome do blog.
Tendo noção de que, apesar do anonimato, não posso escrever sobre situações concretas sem possuir meios de prova, tentarei, neste espaço, reflectir de um modo mais abstracto sobre casos/tipo que tanto poderão corresponder a factos ocorridos na minha querida cidade da Póvoa de Varzim como em qualquer outro espaço.