segunda-feira, 29 de junho de 2009

São Pedro – “No nosso tempo é que era”



O envelhecimento apresenta um enorme conjunto de sintomas e, nalguns casos, declarámos-lhes uma autêntica guerra. Tinta para cabelos brancos ou viagra para a impotência (desculpem-me, disfunção eréctil que é mais "leve"), são apenas dois exemplos da nossa resposta.
No entanto, há um sintoma para o qual não encontrámos, ainda, uma resposta tecnológica ajustada. O sinal mais evidente de que estamos mesmo a ficar velhos é iniciarmos um diálogo afirmando algo do tipo:
- No meu tempo é que era.
- A música do meu tempo era um espectáculo. A dos nossos dias é só barulho.
- Não havia equipa que jogasse tão bem como aquela que tivemos naquele ano. Lembras-te?
Nestas situações, os jovens olham para nós com muita complacência e, claramente, deixam-nos com as memórias do passado, que, para eles são uma autêntica “seca”. O facto de ser professor ajuda-me a ter fortes convicções sobre esta matéria.
Vem tudo isto a propósito de mais uma festa do São Pedro na Póvoa que, na minha opinião, é das mais interessantes festas populares que conheço. Deve ser das poucas, por esse país fora, em que ainda é possível comer e beber em resultado da oferta dos particulares. Um pouco de boa disposição e atrevimento misturado com algum conhecimento do meio, é suficiente para provar a sardinha e o vinho.
Apesar de não ter uma tradição tão antiga como o seu enraizamento na sociedade faria supor, está nos genes de todos os poveiros e continua a provocar espanto a todos os que a vivem pela primeira vez. É o cheiro intenso a sardinha assada que perfuma toda a cidade e assinala, melhor do que uma placa, a entrada no local da festa. São as mesas e as cadeiras nos passeios, as fogueiras nas ruas, a sardinha a pingar e a caneca a entornar. São as rivalidades entre os bairros, as danças dos grupos organizados e, ainda mais bonito, os apoiantes que, na retaguarda, acompanham os dançarinos, cantando e dançando com enorme prazer, sendo apenas dispensáveis os cânticos típicos das claques de futebol. E, por fim, são os bailaricos com música típica da região, misturados com as autênticas discotecas ao ar livre da Caetano de Oliveira, por exemplo.
Quando nos apercebemos estamos a dizer:
- No meu tempo é que era. Não havia música barulhenta.
Nada mais falso. Quando éramos mais novos, também tínhamos a mania que as músicas eram pirosas e, se tivéssemos possibilidades, colocávamos os grupos pop/rock do nosso gosto. Deixemo-nos de conversas de velhos. Aceitemos a variedade musical que a festa nos proporciona e preocupemo-nos, apenas, em manter as fogueiras nas ruas, as mesas e as cadeiras nos passeios e a sardinha e o vinho à disposição de todos.
PS: As chaves são do belíssimo primeiro terço do Parque da Cidade que, sinceramente, deve ser bem aproveitado pelos poveiros nesta fase em que ainda não há construção do novo estádio.

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Conversas em família



Num ano em que o nosso país passará por três processos eleitorais e em que, a verificar pelos resultados da abstenção do primeiro, se sente um certo descrédito nas instituições saídas da Revolução de Abril gosto de recordar um pequeno exemplo que ficou na minha memória e, de certeza, na de todos os meus irmãos. Era muito novo e não tinha uma compreensão do que se passava com o meu falecido pai quando, em alguns momentos do ano, colocava o seu vistoso cadeirão preto em frente à televisão e assistia, a menos de um metro de distância, a um dos programas mais aborrecidos que a televisão podia ter naquela altura. Não percebia a razão pela qual assistia a um monólogo perpetrado por um indivíduo cinzento, engravatado e com uns óculos bem vincados, ainda por cima numa altura em que a televisão era novidade, criatividade e inovação com exemplos como o programa Zip-Zip. Para quê perder tempo com um dos momentos mais chatos da caixinha mágica?
Com o auxílio dos meus irmãos mais velhos lá fui percebendo que aquele programa se chamava “Conversas em Família” e que o autor do monólogo era, nem mais nem menos, o Presidente do Conselho, Marcelo Caetano que justificava, com alguma regularidade, o inexplicável, ou seja o regime ditatorial. Conversa após conversa e o meu pai, isolado, desfazia o monólogo e exercia o contraditório num tom de voz não muito alto porque naquela época “as paredes tinham realmente ouvidos”. Questionava tudo, argumentava, levantava-se e voltava a sentar-se, ficava impaciente e acalmava.
- Temos que defender as nossas Províncias Ultramarinas, proclamava o Marcelo.
- Mas os vossos filhos ficam cá enquanto todos os outros vão para lá, respondia o João.
- Temos que defender a moral e os bons costumes, insistia o presidente.
- Mas quem atenta à moral e aos bons costumes é precisamente o poder instituído, alertava o meu pai.
O monólogo transformado em diálogo continuava e, aos poucos, fui-me apercebendo que tudo aquilo que queria era muito simples. Que não houvesse guerra, que não existissem presos políticos, que houvesse liberdade de expressão e opinião e que fosse possível uma sociedade nova, aberta e plural, que houvesse menos desigualdades sociais e que, algo que muito valorizava, lhe dessem a possibilidade de escolher os seus representantes. Nunca me esqueço do prazer que lhe dava colocar o seu papel na urna, mesmo que, feitas as contas finais, os resultados não correspondessem ao que esperava. Dava tanto valor ao exercício do poder de voto que, se fosse vivo, teria dificuldades em compreender o desinteresse que, cada vez mais, os portugueses colocam nos actos eleitorais.
Que saudades do meu pai!

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Auto-estima em alta?



No mês de Maio coloquei um post (Obama presidente de todos os poveiros) em que, resumidamente, considerava, que o actual Presidente da Câmara não era, como seria desejável, presidente de todos os poveiros. Entre outras coisas afirmei que no plano político lhe faltava humildade para compreender que, na Póvoa, nem tudo girava à sua volta.
Passadas poucas semanas, e com a leitura das últimas edições dos jornais locais, reforço esta minha convicção. No Voz da Póvoa, Vieira afirma: “Sou o presidente da Câmara que, em democracia, esteve mais tempo no poder. O que realizou mais obra e o que teve uma visão corajosa e audaz.” No Comércio da Póvoa reforça: "Neste mandato, a Póvoa teve o seu melhor período de sempre".
Combinando estas certezas com outras anteriores, como por exemplo quando, num programa da Praça da Alegria de 2008, o jornalista Jorge Gabriel lhe perguntou qual o grande dissabor de todos estes tempos de presidência, respondeu que não tem nenhum e que foi muito mais longe do que esperava, ficamos esclarecidos sobre a elevada auto-estima do nosso timoneiro.No entanto, apesar de todas as certezas, quando o questionam, por exemplo no Comércio da Póvoa sobre o bónus associado ao projecto Quintas e Quintas, replica afirmando que em Matosinhos foi superior (2,4 contra 1,8). Faz-me lembrar aquele aluno que quando questionado pelos pais sobre uma avaliação negativa, responde que o seu colega ainda obteve uma classificação inferior. Provavelmente a confiança não será assim tão forte como algumas das declarações públicas fazem supor.
Já li ou vi entrevistas a figuras de grande mérito, no plano nacional e internacional e nas áreas mais diversificadas e, de um modo geral, mostram-se confiantes sobre a sua obra, ressalvando quase sempre que é trabalho de uma equipa e não de uma só pessoa. No entanto, deixam sempre para os outros a opinião e eventual valorização do trabalho desenvolvido.

domingo, 21 de junho de 2009

Póvoa: é bom viver aqui!


http://www.paulocalafate.com

Muitos dos leitores deste blog devem pensar que não tenho amor à minha terra, dado que estou, em muitas circunstâncias, numa posição de cepticismo. Hoje em dia, confunde-se muito crítica com falta de apreço ou de gosto por algo. Se alguém aponta uma falha de funcionamento, e infelizmente existem algumas que saltam à vista de todos, é logo associado a uma suposta falta de gosto pela terra que é, apesar de tudo, também sua.
Adoro a Póvoa de Varzim, cidade que vi nascer e crescer, tendo como ponto de origem uma pequena vila piscatória que, nos meses de Verão, sofria uma grande transformação devido à deslocação de milhares de pessoas que faziam da nossa localidade o seu ponto central de férias.
Este fim-de-semana, dei por mim a ver a nossa terra pelo prisma mais positivo possível. A aproximação ao solstício de Verão e a ocorrências de longos dias de tempo quente e seco permitiu-me recordar a qualidade de vida ao ar livre que nos possibilita. Noites longas e propícias para grandes caminhadas ao longo da renovada marginal. Praias com muita gente, mas em que todos couberam. Praias em que, jovens sucessores de gerações amantes do mar, cuja figura mais representativa é o meu amigo Zé Manel (Melrinho para os amigos), mergulharam, nadaram e surfaram até ao pôr-do-sol. Praias em que esses jovens jogaram “aos centros” sem incomodar todas as outras pessoas que se deliciaram com o sol e o mar. Praias em que se iniciaram e desfizeram namoros.
E o aspecto mais curioso, praias em que os “novos apoios” que ainda não abriram ao público cumpriram uma importante função social já que possibilitaram, para alguns dos nossos humildes visitantes, um espaço com muita sombra e com uma enorme base de madeira que foi invadida, permitindo o resguardo das lancheiras carregadas de comidas e bebidas, possibilitando-lhes, de certeza, um dia inesquecível. Os famosos piqueniques, neste fim-de-semana fizeram-se, não em frente às escolas Flávio Gonçalves ou Rocha Peixoto, mas nos novos apoios apenas com um senão, a vista para o mar foi dificultada por uma série de palitos de madeira demasiados próximos uns dos outros (pior só xadrez das esquadras)

sexta-feira, 19 de junho de 2009

O Melhor

Costuma-se dizer que uma imagem vale mais do que mil palavras. A leitura da imprensa nacional e local destes últimos dias leva-me, desta vez, a substituir as palavras por um curto, mas significativo, momento musical.

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Sobre a escolha dos Directores de Escola




Coloquei, recentemente, um curto post em que afirmava que, sob a capa de uma pretensa abertura à chamada comunidade educativa, as escolas começavam a sentir na pele alguma intromissão dos partidos políticos à qual não era alheia a transferência de algumas competências para o nível local, nomeadamente em matéria de contratação de pessoal. Os diversos "poderes locais" espalhados pelo nosso país, habituados a estabelecer relações de dependência que permitam algum controlo sobre os movimentos associativos e culturais, colocam agora as escolas no mesmo patamar de um clube de bairro. Isto é, em muitos casos, movem influências para escolher quem podem, sob certa forma, influenciar e não quem demonstra competência para o exercício do cargo. Portugal no seu pior, pode ser visto neste artigo do jornal Público do dia 14 do corrente mês. E notícias deste género, estão a surgir cada vez mais.

terça-feira, 16 de junho de 2009

Alfredo Graça

Quem diria
que algo me colocaria
em total sintonia
com a actual chefia

A Póvoa liderou
todo o tipo de doentes curou
o presidente acertou
no homem que homenageou

Alfredo Graça era singular
tinha um jeito peculiar
de falar e tocar
mas sobretudo de tratar

tem toda a importância
referir a elegância
que salienta a discrepância
com a actual era de ganância

domingo, 14 de junho de 2009

Invasão de Promar no Verão



A população que invadia Promar nos meses de Verão dividia-se, claramente, em dois grupos distintos:
• Um, constituído pelas famílias abastadas do "Vale do Ave" que transferiam-se de armas e bagagens para Promar, trazendo inclusivamente, empregadas quanto baste e deixando apenas na localidade de origem o patriarca da família, normalmente industrial têxtil ou de calçado, que aproveitava a ausência da esposa e filhos para, em muitos casos, passar três meses a fazer de conta que tinha muito trabalho que, afinal, consistia no reforço das facadas no seu matrimónio.
• Outro, formado pelos operários das fábricas do industrial tipo referido anteriormente, que poupavam o ano inteiro, privando-se de muita coisa importante como alimentação saudável, educação e ensino, para reunir os tostões necessários para alugar um pequeno quarto numa artéria próxima da praia onde, muitas vezes, ficavam famílias inteiras sem um mínimo de condições de higiene e de privacidade.

sexta-feira, 12 de junho de 2009

Novamente Promar


Imagem extraída de: www.joanfabian.net/photography3.asp

Promar era uma pequena povoação costeira com cerca de quinze mil habitantes fixos mas que, nos meses de Verão, duplicava devido, sobretudo, à sua capacidade polarizadora e atractiva que assentava num relevo plano, num clima ameno, numa água do mar limpa e rica em iodo, num areal dominado por partículas grossas, ainda não totalmente desfeitas pelos longos processos erosivos, na existência de um conjunto interessante de serviços pessoais e recreativos muito simples mas eficazes, nos quais se enquadrava um forte comércio tradicional, e numa população simpática e hospitaleira que funcionava como um autêntico paraíso para os habitantes das localidades do interior, muito marcadas pela presença da indústria têxtil, que, nas suas terras, nunca conseguiam usufruir da qualidade de vida que Promar lhes possibilitava.

terça-feira, 9 de junho de 2009

Homenagens



Como vamos entrar num período fértil em homenagens, decidi recuperar um artigo colocado neste blog em Fevereiro deste ano.


O nosso país é, cada vez mais, o país das homenagens. Homenageamos políticos detentores de cargos públicos, párocos, arquitectos, engenheiros, médicos, economistas, juízes, advogados, professores, futebolistas, dirigentes desportivos e a lista nunca acaba.
Dizemos mal dos nossos políticos e não acabam as sessões de grande reconhecimento.
Reconhecemos a inadaptação da Igreja aos tempos actuais e louvámos acção de padres e bispos.
Criticámos as modas áridas que descaracterizaram as nossas vilas e cidades mas organizámos festas de homenagem para arquitectos e engenheiros.
Lamentámos a falta de carinho e de respeito pela vida com que muitas vezes somos confrontados em situações de doença e participámos nas homenagens aos médicos e outros técnicos de saúde.
A economia está um caos. O desemprego, a falta de crescimento económico a ausência de uma estratégia de desenvolvimento económico sustentado é evidente e contribuímos para o reconhecimento público de muitos economistas e gestores.
Queixámo-nos da lentidão do nosso sistema de justiça e estamos, o ano inteiro, a assistir a actos de enorme solenidade e reconhecimento dos agentes do sector. Afirmámos, com uma segurança impressionante, que os nossos alunos não aprendem nada e prestamos homenagens emocionadas aos professores.
Criticámos a falta de qualidade do nosso futebol bem como dos decrépitos dirigentes desportivos e venerámos os agentes desse desporto.
Todos dirão que muitas dessas homenagens são justas, porque, felizmente, em todas as profissões e cargos referidos há excelentes exemplos. Concordo apenas com uma das premissas, isto é há, efectivamente políticos sérios, párocos com obras sociais importantes, bons arquitectos, excelentes médicos e investigadores, juízes justos, advogados sérios, professores que nasceram para ensinar e atletas dotados de especiais aptidões para a actividade desportiva. No entanto, se fizermos uma listagem das homenagens formais e organizadas constatámos, infelizmente, que apenas alguns dos bons exemplos foram distinguidos.
Muitos dos exemplos de excelência vivem as homenagens no seu quotidiano, pela forma como abraçam causas e profissões e pelo reconhecimento permanente que sentem quando contactam com todos aqueles que beneficiaram da sua sabedoria e rectidão. Não necessitam de qualquer tipo de formalização das suas boas práticas e não vêem com bons olhos a organização de eventos que, na sua opinião, são desnecessários. Verificam-se até situações em que o potencial homenageado não consegue inverter a dinâmica criada para o distinguir e fica na situação de desconfortável de assistir ao aproveitamento do seu nome.
Grande parte dos indivíduos de indiscutível mérito não assiste, no seu tempo de vida, ao reconhecimento das suas capacidades dado que, muitas vezes, ousam questionar e enfrentar as poderosas organizações que controlam e despoletam esses eventos (o exemplo de José Saramago é paradigmático). Para estes, quando muito, haverá, daqui a alguns ou muitos anos as famosas homenagens a título póstumo que, não tenho dúvida, fazem “saltar do caixão” os destinatários.
Muitos dos medíocres que imperam na nossa sociedade e que fazem o culto da personalidade polarizam, em seu torno, essas homenagens criando condições para que os seus eternos vassalos se encarreguem de organizar a merecida festa de reconhecimento e veneração que, vista com distanciamento, pode ser confundida, por exemplo, com um simples jantar partidário ou com uma das acções das festas típicas das localidades.

segunda-feira, 8 de junho de 2009

As eleições para o Parlamento Europeu - Resultados

Tal como se previa, o acto eleitoral deste Domingo foi dominado pelos elevados níveis de abstenção e, por isso, todos os partidos devem fazer uma leitura muito cuidadosa, porque podem surgir alterações significativas em actos eleitorais mais participados.
Em todo o caso há vencedores e derrotados. Principal perdedor, o Partido Socialista e o seu líder, José Sócrates. Não só não acertaram na escolha do cabeça de lista, que se mostrou inábil e atirou pedras para o ar numa altura em que muitos colegas da mesma área política apresentam telhados de vidro finíssimo, como também ainda não perceberam que, se teimarem em apresentar como modelo para o país a obra feita pela equipa do Ministério da Educação, irão de derrota em derrota até à derrota final nas legislativas.
No domínio dos vencedores destacaria três. Um partido e duas personalidades.
Comecemos pelas personalidades e por Paulo Rangel, do PSD, que teve o mérito de, sozinho, afrontar todo o poder (e nós, por experiência própria do nosso concelho, já sabemos o que é a sua força), seguir uma linha de orientação autónoma e coerente (ver caso Dias Loureiro) e conseguir uma vitória significativa. Nuno Melo do CDS/PP que a par dos partidos de esquerda, teria legitimidade para abordar o caso BPN, dada a sua brilhante participação na Comissão Parlamentar de Inquérito, mas que não o fez, contentando-se em derrotar as sondagens que lhe atribuíam sempre valores quase residuais. O terceiro vencedor é o Bloco de Esquerda, partido onde muitos descontentes depositaram o seu voto, que triplicou o número de deputados europeus elegendo, surpreendentemente, Rui Tavares que deixará de nos presentear com as suas interessantes crónicas da última página do Público.

sábado, 6 de junho de 2009

As eleições para o Parlamento Europeu


No próximo Domingo, dia sete de Junho, realizam-se as eleições para o Parlamento Europeu. Desde 1979 que este parlamento resulta de uma eleição directa e, após a entrada de Portugal na União Europeia, temos participado em sucessivos actos eleitorais que costumam ter um denominador comum: a reduzida afluência às urnas.
Após a euforia da primeira participação, em 1987, com uma afluência de 72,42%, a participação tem sido cada vez menor e, nos dois últimos actos eleitorais, situou-se, mesmo, abaixo dos 40%.
Este desinteresse resulta, em grande parte, do nosso “sentimento menos europeu e mais nacional” e de um processo de construção europeia em que o papel dos cidadãos é desvalorizado, procurando, quase que artificialmente, impor um modelo que, para além de complexo, é pouco conhecido. Na verdade a rejeição do Tratado de Lisboa, através do “Não Irlandês” levou a União para um caminho de ainda maior distanciamento das pessoas, dado que está a tentar ultrapassar esta dificuldade da pior maneira possível, ou seja através de mecanismos que desmobilizem o envolvimento dos simples habitantes.
Tal como acontece no parlamento português há, no europeu, uma espécie de alternância política entre dois grandes grupos centrais (socialistas e Populares/democratas) que conduz muitos eleitores à ideia de que o seu voto não alterará a correlação de forças e não alterará muito as políticas existentes.
Apesar deste desinteresse, compreensível, não nos podemos esquecer que nos próximos cinco anos serão discutidos temas, sobretudo relacionados com o ambiente, a energia, o emprego e os apoios sociais, para além dos financeiros e económicos, que poderão levar à aprovação de medidas importantes para a tentativa de implantação, em todo o espaço europeu, de modelos de desenvolvimento mais sustentáveis, factos que poderão acabar por beneficiar o nosso país. Na história do parlamento europeu há alguns exemplos de deputados, muitas vezes de pequenos grupos, que se distinguiram através dum trabalho intenso por uma Europa mais igual e mais amiga do ambiente. Nesse sentido, e praticamente apenas nesse, valerá a pena procurar informação e, eventualmente, votar.

quinta-feira, 4 de junho de 2009

Eleição ou Escolha dos Directores de Escola?


Imagem retirada do blogue "Movimento Escola Pública"

O Ministério da Educação anunciou, com enorme satisfação, que cerca de 85% dos Directores das escolas já estavam escolhidos. Reconhecendo a importância da formação específica para o exercício do cargo, temo que a ênfase dada a esse aspecto, desvalorizando outros, como as qualidades humanas, a capacidade de liderança e de trabalho em equipa, transformem as escolas num espaço, em que os novos directores serão uma espécie de extensão dos diversos poderes políticos que, a nível local, se habituaram a controlar as instituições que estão inseridas nos respectivos espaços geográficos.
Felizmente, em muitas escolas foram escolhidos profissionais com enorme sentido crítico da própria legislação que os enquadra e, nesse caso, poderão funcionar de modo mais livre, desenvolvendo os seu Projecto Educativo sem a necessidade de quaisquer tipos de subserviências. Mas, pelos vistos, noutros locais a “Guerra” já começou. Clique aqui e leia os dois últimos parágrafos desta ligação.
Neste caso podemos dizer que o feitiço se virou contra o feiticeiro, já que quem aprova a lei é o PS nacional e quem se queixa é o PS local.

terça-feira, 2 de junho de 2009

Sondagens Póvoa de Varzim (ainda)

Na passada quinta-feira, 28 de Maio, publiquei um artigo sobre sondagens na Póvoa. Um comentário, publicado em regime de anonimato no dia 1 de Junho, sugeria incoerência da minha parte dado que a sondagem previa uma vitória do candidato do PSD que se veio a verificar e não foi referida no blog. Gostaria que os leitores constatassem que apenas me limitei a salientar a maior assimetria registada entre os valores da sondagem e os resultados que se registaram de facto.
Nesse mesmo artigo afirmo que derrotar o actual poder é uma espécie de “missão impossível”, o que significa reconhecimento da correlação de forças existente, tendo mesmo valorizado o resultado obtido por Silva Garcia e a dificuldade que qualquer candidato tem em derrotar os “dinossauros” da nossa vida política.(Aliás, espero publicar proximamente um artigo sobre seus mecanismos de perpetuação no poder)
Mas para que todos os dados possam ser trabalhados e não restem dúvidas, resolvi acrescentar este post que me parece bastante elucidativo.
A sondagem de 2005 previa 56,9% para Macedo Vieira (PSD) e, na eleição, o candidato obteve 54,2% (-2,7%)
Para Jorge Machado (CDU) apontava para um resultado de 3,1% e, depois de contados os votos, obteve 3,9%. (+0,8%)
A Carlos Mateus (CDS) apontava-se para, apenas, 2,4% e, no acto eleitoral, obteve 7,4% (+5%)
Para Rocha Pereira (BE) previa-se 1,7% e o resultado final foi de 2,5% (+0,8%)
Por fim, para Silva Garcia (PS), havia uma previsão de 16,7%, quando o resultado final foi de 28,5% (+ 11,8%)
Como podem constatar, a sondagem pecou por defeito para todos os candidatos da oposição e por excesso para o candidato do regime. Só que, na minha opinião, apesar da significativa assimetria entre a previsão e o resultado de Carlos Mateus, o dado mais relevante foi o desvio excessivo entre a previsão para Silva Garcia e o resultado final.
É só fazer as contas, como diria o Eng.º Guterres.