quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Recordações de Natal



A recordação não tem apenas que ser exacta; tem que ser também feliz. Recordar não é, de modo algum, o mesmo que lembrar. Por exemplo, alguém pode lembrar-se muito bem de um acontecimento, até ao mais ínfimo pormenor, sem contudo dele ter propriamente recordação.
Soren Kierkegaard, in 'In Vino Veritas'

Há coisas difíceis de explicar. Quanto mais envelheço mais agnóstico fico e, paradoxalmente, mais gosto do Natal. Estou cada vez mais convencido que, nascemos, vivemos e morremos e que, para além disso, não haverá nada de especial. Nem céu, nem inferno e muito menos purgatório. Nem anjos nem demónios. Ninguém pode dar respostas. Mas, talvez pelas recordações de uma infância feliz e de uma época de grande convívio familiar, faço todos os possíveis para recordar e perpetuar a festa do Natal, contactando a família, colaborando nas tarefas de preparação da ceia, escolhendo as prendas com especial cuidado e, entre outras coisas, fazendo sempre o presépio que está associado às imagens deste post.
Desses tempos de infância recordo a banda desenhada da última ou penúltima página do jornal que começava a contar uma história de Natal a partir dos meses de Outubro ou Novembro. Era autenticamente devorada por mim e pelos meus irmãos.
Recordo, com enorme saudade, a chegada a casa do meu pai, após um dia duro de trabalho, e do início da construção do presépio. Durante uma semana, entre as dezanove e as vinte horas, eu funcionava com ajudante de carpinteiro, para lhe passar os instrumentos de modo a que ele produzisse um excepcional presépio de madeira e cortiça.
Recordo, com imenso prazer, a azáfama da preparação da comida típica da época bem como dos “roubos” efectuados de parte das delícias produzidas.
Recordo o sapato junto da chaminé e, algumas horas mais tarde, os presentes correspondentes.
Tenho muitas mais recordações do Natal e, por esse motivo e apesar do meu agnosticismo, faço os possíveis por “recriar” partes do que vivi, tentando envolver os meus familiares. No entanto, os tempos são outros e, muito provavelmente, aquilo que faço não será tanto para eles mas sim para mim porque se trataram, sem dúvida, de momentos de grande felicidade.
Aproveito para desejar um feliz Natal a todos os que se habituaram a ler e participar neste espaço.

3 comentários:

  1. Bom Natal e regresso em força em 2010.

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  2. Neste Natal quero aqui deixar um voto de solidariedade ao ourives de S. Romão do Coronado, a mais recente vitima das politicas do PS.
    Um cidadão que para defender a sua vida e o resultado de toda uma vida de trabalho, dispara contra um conjunto de assaltantes e é constituido arguido. A justiça protege os assaltantes.
    Acho patéticos os politicos com alta sensibilidade social mas que têm seguranças para os proteger, desconhecendo as dificuldades do cidadão comum.
    É Natal, mas não é para todos.

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  3. Sem dúvida, as alegrias de Natal, enquanto
    crianças felizes, manifestam-se nas idades que se seguem. É uma revelação de amor de ateus, agnósticos e religiosos.
    O amor, a solidariedade e o humanismo não são património de nenhuma confissão, mas de uma manifestação mental que, necessariamente, não necessita do veículo de uma religião.
    - Faz o bem, nunca na esperança de recompensa mas no dever consciente, que encontrarás e elevarás o sentido da vida.
    Boas Festas.
    C. Soares

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