quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

O cacique

A palavra cacique está associada a lideranças indígenas de várias regiões da América do Sul. No nosso país este conceito tem evoluído para chefias locais que, a troco de favores, conseguem controlar as decisões de voto de um grande número de eleitores. O tema do caciquismo, ou seja da influência política dos caciques, surge com muita frequência no nosso país, tendo sido vários os líderes partidários nacionais que, nos últimos actos eleitorais e partindo do famoso “défice democrático da Madeira”, se manifestaram contra o caciquismo. No continente, a figura que melhor encaixou no conceito foi a de Avelino Ferreira Torres que, felizmente, tem perdido influência.
Mas, infelizmente, o caciquismo está bastante enraizado. O cacique da actualidade exerce o poder de forma autoritária e não se contenta com o exercício do poder executivo. Não conseguindo controlar o poder judicial, não lhe reconhece autoridade para ser julgado por ele e, quando é condenado, afronta a autoridade do juiz de uma forma que o comum do cidadão tem dificuldade em entender. Mas o cacique, pretendendo controlar tudo e todos, afronta os que conseguem resistir. Intimida-os e, normalmente, escolhe os elos mais frágeis e expostos dos opositores para ferir todos os que ousam resistir. Para essa tarefa utiliza todos os meios. Contacta-os directamente e tenta assustá-los, manda recados por outras pessoas, boicota o sucesso das actividades económicas das suas empresas intervindo na tentativa de diminuição do número de clientes, impede-os de frequentar determinados espaços e de obter certos serviços pela simples razão de estarem associados aos “inimigos". Por outro lado premeia, através da sua sistemática presença e benção, todos os que cobardemente lhe prestam vassalagem e, aspecto mais preocupante, cada vez mais se atreve a funcionar com investigador e juiz, substituindo-se às estruturas que, num Estado de Direito, têm essas competências. Incrivelmente, em muitos casos já foi condenado pelo poder judicial e nem esse aspecto o envergonha e demove de se constituir como justiceiro, qual Rambo do novo século.
O caciquismo, muito mais perto de si do que imagina!

10 comentários:

  1. Basta ler " as Pupilas do senhor reitor" de júlio dinis..para perceber o "caciquismo autárquico" português...aquel personagem Joãozinho da Pedrizes acham que se asse,melha a quem da vossa aldeia?

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  2. Julio Dinis, grande escritor Português, sim senhor.

    Gostei especialmente de ler "Os Fidalgos da Casa Mourisca". O Renato gostou desse?

    Peço desculpa ao autor do blog por este desvio ao asunto principal.

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  3. Parece-me que alguém não vai gostar de lêr este post...

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  4. Não sei qual é o pior. O cacique ou o vassalo. Os que gostam de agradar ao chefe ainda se comportam de modo menos digno do que o próprio chefe?

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  5. Anónimo:adoro ler júlio dinis...é sempre actual...e já centenário...Claro que já não temoa aquelas damas, nem aqueles cavalheiros...mas temos aquele Povo anónimo que é sublimemente retratado pelo escritor...Gosto também de Julío Dantas, Ramalho Ortigão e de Oliveira Martins... Antero de Quental é bem mais dificil de acompanhar mas igualmente interessante...Do Eça...gosto pouco...é bem melhor o Camilo Castelo Branco...

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  6. Excelente post. O poder enraizado não é bom para a sociedade, independentemente do partido e da localidade em causa.

    Não sei quem foi pior, se Avelino Ferreira Torres, se Fátima Felgueiras. Felizmente, a ambos o povo souber dizer "NÃO" nas urnas.

    Eu acho que o caciquismo é inimigo do desenvolvimento de uma sociedade.

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  7. O cacique é normalmente um medíocre. Teme os que lhe são intelectualmente superiores. Obteve o protagonismo não por mérito próprio, mas por favores e benesses que concedeu a muitos que o rodeiam. Não confia em ninguém porque não tem amigos. Os que lhe são mais próximos são os primeiros que o abandonam quando cai. Esse é o seu maior medo: cair. Por isso faz tudo, mesmo tudo, expondo-se ao ridículo, para se perpetuar no poder. Só dessa forma consegue obter algum respeito que ele, como medíocre, encara como veneração.
    É uma espécie em vias de extinção. Vai subsitindo porque a justiça em Portugal infelizmente não funciona.

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  8. Excelente comentário o do anónimo das 11.07. Continuo a achar que vai haver um individuo qualquer que, do seu gabinete no fundo da rua da Junqueira, não vai gostar nada de ler este post.

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  9. Pois é, isto de se ver nos outros o caciquismo é algo que infelizmente não conseguimos nunca ver em nós próprios, mesmo que sejamos os maiores caciques do burgo ou da terrióla, ou do grupo desportivo, ou da associação social e recreativa, ou do grupo politico ou da secção politicó-partidária concelhia, etc, etc, etc...

    Na verdade a nossa cultura de coitadinhos, de pobres diabos, de analfabetos, de incompetentes e incapazes leva-nos a recorrer aos favores de terceiros sempre que precisamos e é aí que começa o caciquismo e a corrupção. Eles andam por aí, são muitos, eu diria que somos quase todos nós os que mesmo que bem intencionados e desinteressadamente estendemos a mão a quem nos pede ajuda porque temos poder de decisão ou de influencia sobre os decisores que interessam a quem nos faz o pedido; É claro que favor com favor se paga e quando os favores se multiplicam em cadeia as interdependencias vão crescendo e crescendo na medida em que famos fazendo favores ou recebendo favores e é assim que se fabricam os caciques, os favorecidos vão comentando com os amigos e com os vizinhos, o reconhecimento público vai crescendo e crescendo e um pequeno cacique ao fim de arduo trabalho de relações humanas vai-se transpormando num Armando Vara, ou num Dias Loureiro que até conseguem fazer amizade com a raleza espanhola e com a alta sociedade americana, pois meus amigos, bem vistas as coisas que seria dos coitadinhos dos portugueses se não existissem os caciques em Portugal???

    jlv

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  10. É verdade o caciquismo anda próximo. Não vão mais longe, olhem para a vila.

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