sexta-feira, 10 de abril de 2009

O Precedente (Parte IV - Conclusão)


Tantos anos de pessimismo e exageros, levaram os poveiros a acreditar que as únicas medidas possíveis, relativamente à desordem urbana existente, seriam as de minimização dos impactos negativos da exagerada construção verificada anteriormente. Dado que não sendo possível desfazer muitos dos erros do passado, por exemplo, “deitar abaixo as torres”, o único caminho seria o da não repetição do mesmo tipo de falhas e, em simultâneo, o avanço de medidas que melhorassem a qualidade de vida dos poveiros. É neste contexto que deve ser entendida, por exemplo, a recuperação urbana de toda a zona litoral que permitiu reforçar a sensação de que realmente estava a ser feito o que efectivamente era possível, atendendo às condicionantes existentes.
No entanto, as soluções apresentadas foram, quase sempre, ao sabor de modas dos técnicos ligados à construção e romperam, em demasia, com as heranças paisagísticas e arquitectónicas do passado. A título de exemplo, diria que foram muitos os poveiros que ficaram insatisfeitos com a solução encontrada para o Passeio Alegre que ficou árido, monótono e sem vida, quando anteriormente demonstrava, através dos jardins, das cores e do próprio piso, precisamente o contrário. Aliás, este tipo de obras de descaracterização dos espaços e de rompimento com o passado são típicas não só da Póvoa como, infelizmente, de muitos municípios portugueses que, contrariamente ao que se verifica noutros espaços europeus, parece que adoram apagar tudo o que sejam marcas do passado a troco de uma suposta modernidade que se torna rapidamente efémera e cansativa. Esta situação é, ainda, mais grave porque, do ponto de vista teórico, no Plano de Urbanização da Póvoa, defende-se exactamente o contrário, ou seja o “reforço da identidade” da cidade. Apetece perguntar qual identidade?
A aceitação de que estava a ser feito aquilo que podia ser realmente trabalhado com todas as condicionantes existentes, originou, no nosso município, uma espécie de unanimismo, na minha opinião perigoso a que sempre resisti, em torno da figura do actual Presidente da Câmara, Dr. Macedo Vieira, e que conduziu a esmagadoras maiorias absoluta nas eleições autárquicas de 1997 e 2001.
No entanto, tal como aconteceu no passado, mas agora com estilo diferente que consistiu na leitura atenta dos instrumentos legais existentes e no estudo dos mecanismos permitidos pela lei para os tornear, a pressão imobiliária voltou a atacar em força no decurso do corrente século. A aprovação do projecto imobiliário, com um bónus de 50%, para o local onde, noutros tempos, esteve a empresa Quintas e Quintas, constituiu, na minha opinião e apesar da sua legalidade, uma má decisão de natureza política dado que surgiu como um grave precedente para o retorno de um tipo de construção que, esperávamos, tivesse ficado arredado do nosso município. Na verdade, do ponto de vista formal, era admissível um aumento do Índice de construção até 1,8, e os responsáveis do poder local, por maioria, decidiram atribuir o máximo possível nesse intervalo de variação. Esperava-se coragem política para resistir a este ataque, ou, pelo menos, a defesa de uma posição intermédia entre o 1,2 e 1,8 mas a resposta foi claramente negativa. A justificação apresentada na altura, de uma eventual vantagem da saída da fábrica do interior da cidade, não correspondia ao que se verificava no terreno na medida em que os inconvenientes ambientais da sua laboração eram bem menores do que os que estavam associados, por exemplo, ao movimento diário do Mercado Municipal ou do Pingo Doce. Relativamente ao outro eventual benefício, manutenção da actividade e de postos de trabalho, nem vale a pena escrever qualquer palavra, atendendo aos desenvolvimentos verificados.
Quando somos informados, na actualidade, dos projectos previstos, por exemplo, para as instalações de duas importantes instituições de utilidade pública (Varzim e Desportivo), compreendemos que a excepção se torne, cada vez mais, a nova regra, dado que a decisão anterior abriu caminho a esta e, eventualmente, novas situações penalizadoras para a tão desejada qualidade de vida da cidade. Como já foi admitido publicamente pelo Presidente da Câmara e passo a citá-lo, com base na edição do jornal Público do dia 1 de Abril deste ano (e não foi mentira):
"Sabíamos que o PP estaria condicionado. Na zona envolvente houve excessos e a fazer agora um plano com uma volumetria politicamente correcta com o índice 1,2 [o previsto no Plano Director Municipal, ou seja, sem a excepção do PU ficava ali um anão relativamente ao resto. Chegou-se a um ponto de equilíbrio". Assim, Varzim e CDP terão o mesmo índice (1,79 para um máximo de 1,8).”
Passadas várias décadas sobre os mandatos do Dr. Manuel Vaz pergunto:
O que mudou?
Vão continuar a nascer “gigantes” para encaixarem bem com os grandalhões?
Se outras organizações/instituições tiverem assédios idênticos por parte de fortes grupos ligados à construção e apresentarem projectos concretos como reagirá o poder político?
É este o modelo de crescimento urbano desejado?
Não terá chegado a altura de mostrar a nossa indignação?

19 comentários:

  1. Não projectos, não PU's, não há prtecção da cidade e dos cidadãos. Há é interesse na especulação imobiliária com tudo o que isso envolve, que já sabemos o que é e nem vale a pena referir. Os políticos, alguns, querem finalmente criminalizar essa actividade: a do enriquecimento ilícito. Mas, como são políticos, tudo ficará na mesma.

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  2. Na Madrugada será igual?

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  3. Perante este tipo de situações irão continuar as maiorias absolutíssimas?
    É tempo de ter coragem para mudar e impedir, na Póvoa (autárquicas) e a nível nacional (legislativas), o poder absoluto que nunca reconhece o erro e apenas vê virtudes em tudo o que faz.
    É tempo dos poveiros experimentarem outras soluções , pelo menos, obrigarem à negociação e ao compromisso com os outros partidos.
    É tempo de fazer escolhas diferentes.

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  4. Conheço as palavras aqui supracitadas como uma realidade a que não será fácil fugir, embora seja forçoso contrariar. Os exageros praticados pelos políticos sem apreciação do interesse da história local e desportiva, nem dos Poveiros, precisam ser mais expostos e comentados. Plagiando uns outdoors colocados em locais estratégicos da nossa cidade: “BASTA”.

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  5. http://povoa7.blogspot.com/

    Novo blog sobre a Póvoa, visitem!

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  6. Desafio:

    Caros cibernautas.
    Em contra ciclo do que aqui e noutros blogues tem sido escrito, rogo para que aceitem este desafio:
    Temos assistido com muita frequência, talvez até um pouco em exagero ao descontentamento real dos Poveiros sobre os eleitos para “administrarem” a autarquia, clubes e associações da nossa cidade. Eu inclusive.
    O que deixo agora aqui para convosco partilhar, é um desafio em que todos possamos lembrar e citar, feitos notáveis exercidos pelos mesmos que aparentemente são sempre as “vitimas” destes blogues. Convido inclusivamente os autarcas e dirigentes a apresentarem ou nos lembrarem, feitos que nos façam voltar a confiar no poder que concedemos nos actos eleitorais.
    Este desafio pode até ser engraçado e uma mais valia para o futuro. Penso que o pessimismo vivido sobre crise e a corrupção é de certa forma derrotista.
    Sinto que é necessário uma lufada de confiança.
    Estou a contar com a vossa participação, pois ainda é possível alterar alguns acontecimentos futuros para que no amanhã outros não digam o mesmo de nós.

    Obrigado.

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  7. A Póvoa de Varzim tem;

    - Marginal para passear a pé ou de ciclomotor com mais de 5 kms;
    -Parques de estacionamento no centro da cidade;
    - Piscinas para usufruto da população (até piscina olímpica);
    - Campo de golfe;
    - Campo de tiro;
    - Pavilhões multi-usos com excelentes condições;
    - Casino;
    - Restauração de grande reconhecimento local e nacional;
    - Vários parques infantis intervalados pela cidade;
    - Dois clubes locais de referência nacional (CDP E VSC), entre outros de menor dimensão;
    - Praias com a bandeira azul;
    - …………

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  8. Quem será o Manuel? O Macedo? O Aires? O Diamantino? Ou um Acessor?

    O Macedo, tal como o Diamantino, não sabe ligar um computador. O Aires é fino demais para perder tempo com isso, logo, o Manuel é um acessor a mando do Zezito!

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  9. Boa Tarde,

    Antes que especulem mais sobre a minha identidade, afirmo para todos os leitores deste blogue que sou um cidadão Poveiro anónimo sem qualquer ligação ao partido eleito nem a nenhum outro. Gozo do prodígio de ser um desconhecido cidadão
    Apenas como Poveiro me senti no direito e quem sabe no dever de procurar feitos positivos dos nossos governantes e dirigentes. Talvez esteja um bocado moído das conversas e dos textos sempre depreciativos, não vendo nada, nem em ninguém, com algum feito que contrarie o “sistema” vigente.
    Parece-me gratificante conseguir acreditar em alguém. (nem que seja no menino Jesus).
    Da forma como este blogue é gerido e sustentado, não me parece que nos levem a lado algum. Nem do ponto de vista pessoal, me parece mesmo salutar.
    Contrariamente ao que possam supor alguns dos leitores deste blogue, também eu não me sinto satisfeito com as classes governantes, mesmo com a consciência de que hoje e cada vez mais, é extremamente difícil residir nesses cargos até pela critica depreciativa que a todo o momento ocorre.
    Volto a apelar aos cibernautas deste blogue que tentem mudar o sentido e orientação da tendência depreciativa e que pelo menos por uns breves instantes, adiram ao meu desafio.
    Até pode ser que tenha um resultado positivo e engraçado.
    Vamos experimentar!!

    Obrigado pela vossa compreensão e colaboração

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  10. Caros "acompanhantes" e "contribuintes" deste meu humilde espaço.
    Gostava muito que todos os amigos, conhecidos ou desconhecidos que acompanham o Descarga, vissem neste blog um espaço em que fosse possível, por um lado, a tolerância e a compreensão da existência de opiniões diferentes mas, por outro, a necessidade, que considero urgente, de haver coragem e convicções.
    Se repararem na minha apresentação, os meus textos procuram reflectir sobre situações que, no mínimo, merecem a minha crítica.
    O facto de fazermos uma crítica não significa que não gostemos de algo. Adoro a cidade em que vivo e não a trocava por outra, por mais beleza e ordenamento que apresentasse.
    Concordo que, a nível local, os meus posts Paz Negra ou o Precedente sejam duros, mas representam aquilo que eu penso sobre os assuntos respectivos Não vou dizer que a festa da Paz é o máximo quando penso exactamente o contrário.Não vou afirmar que a Póvoa, finalmente é uma cidade ordenada quando, na minha opinião, sugem decisões que são o oposto ao ordenamento.
    Mas, no actual contexto, e referindo-me um pouco mais em concreto ao Manuel, há uma indiscutível dificuldade em valorizar as acções porque algumas delas não vão ter apenas consequências negativas no imediato, como vão colocar em causa o desenvolvimento de todo o concelho para as próximas décadas, como tratei no meu último post.
    Só a título de exemplo já repararam que a eventual saída do Varzim e do CDP não só vai "fustigar" a zona litoral norte como vai comprometer o conteúdo do tão esperado e desejado Parque da cidade, que, continuando a ser ocupado por novos equipamentos, deixará muito pouco para aquilo que devia estar na sua génese.
    Quanto à questão da identidade dos participantes, todos me merecem o máximo respeito. Eu optei por identificar-me (e ainda não me arrependi) mas é perfeitamente legítimo que cada um faça a sua opção.
    Por fim, só gostaria de dizer que vou estar atento à leitura dos comentários do Manuel e de todos os outros que, no anonimato ou identificando-se, contribuem para haja alguma interactividade, porque todos somos leitores e escritores.

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  11. Obrigado Luís.
    Não me tendo surpreendido, a Luís logrou de imediato a minha mensagem.
    A interactividade que aqui se pode praticar, pode ser tão salutar que poderemos com ela criar e amadurecer ideias que venham mesmo a colmatar em obra feita num futuro próximo. Afinal, quando o tema é a Póvoa, tudo o que a ela esteja ligado, também a nós Poveiros diz respeito. Os espaços do CDP e do VSC, as praias, os jardins, as escolas, o comércio, a industria, o lazer, … e todos os outros pontos de referência que podem ser acauteladamentem apreciados por nós e para nós, para que a Póvoa se possa tornar no que um dia um Poveiro ansiou para a mesma e que a autarquia, muito astuciosamente usou como lema de campanha mas que até hoje não o consegui:
    “Póvoa de Varzim, Capital do Lazer e da Cultura”.


    O desafio continua de pé.

    Uma vez mais agradeço a compreensão e a vossa colabo

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  12. A cegueira de alguns até quase me confundia, estou a falar da Póvoa de Varzim e não noutra.
    Aonde está a bandeira azul? Talvez na praia da Lagoa...Ajudem-me a procurar..

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  13. Ao anónimo "Manuel".
    Não posso concordar que depois de 20 anos de poder autárquico venha o senhor pedir "compreensão" para com os nossos autarcas.
    Num tom muito suave, o senhor pede-nos para cometer um crime:
    Ficar calado perante a destruição que autarcas sem escrúpulos fazem na nossa cidade!
    O senhor manuel, por qq razão que desconhecemos mas q Vª EXª saberá, disparou para os blog's da Póvoa o mesmo comentário a defender os nossos autarcas, mas deveria era pedir responsabilidades a quem lhe mandou enviar esses comentários, por todas as atrocidades que estão a fazer à nossa terra!
    E como muito bem salienta o autor do blog, estão a fazer mais uma com o Plano de Pormenor

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  14. Repetitivamente, não apelo à compreensão da autarquia, nem de qualquer dirigente, mas sim à descoberta de SOLUÇÕES para a Póvoa. Também eu me sinto injustiçado pelos acontecimentos aqui relatados e que todos sabemos que são verídicos. E mais: TUDO O QUE AQUI CONVOSCO PARTILHO É SÓ, E APENAS DA MINHA INTEIRA RESPONSABILIDADE. Ainda não consegui perceber qual foi a parte em que eu disse que não tinha ligação alguma a nenhum partido político que não me fiz entender. Quem não confia, não é de confiar.
    A minha questão coloca-se em impulsionar a sociedade criando para isso locais, este por exemplo (ou outro blogue que seja criado, pois este é do Luís Gonzaga Castro e pode não ser este o rumo que o Luís quer para o mesmo) entre outros onde nos possamos JUNTAR. Juntar forças contra, e não entre nós Poveiros. Se a desunião parte de nós, jamais chegaremos a lado algum.

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  15. Sr "Manuel":
    Nâo se defende a Póvoa dizendo bem só por dizer. É preciso sermos cidadãos exigentes, alertar e criticar o que está mal.
    Pensar, refletir e criticar são atitudes próprias de cidadãos interessados.
    Aquilo que o senhor nos propõe é, (e passo a citar) "lembrar e citar, feitos notáveis exercidos pelos nossos autarcas"
    E o que é que nos apresenta Vª Exª??

    Diz que a Póvoa tem praias azuis... MENTIRA, a Póvoa tem praias interditas porque os nossos autarcas (os mesmos que o senhor nos desafia a citar feitos notáveis que tenham feito) continuam a despejar esgotos nas nossas praias...
    É esse o turismo que queremos oferecer??

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  16. Senhor Manuel... poupe-nos!

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  17. “Se a desunião parte de nós, jamais chegaremos a lado algum”.

    Exprimi esta frase no último post. E repito-a as vezes que forem necessárias até que entendam que se as forças forem individuais, nada acontecerá de novo. E como diz o ditado: “os cães ladram e a caravana passa”.
    Tudo aqui pode ser escrito, e repetido inúmeras vezes contra todas as trapaças que se fazem por toda a Póvoa diariamente. Só não me parece é que por estes meios apenas os nossos autarcas e dirigentes as deixem de fazer.
    Como disse um anónimo num post anterior, há quase 20 anos que temos esta autarquia a fazer de tudo. TODA A PÓVOA já o sabe. O que mudou? NADA!!

    Não minha opinião, não seria mau, gastarmos algumas energias para, em conjunto, e talvez mesmo a partir deste meio cibernautico de certa forma oculto, tentarmos procurar soluções para a nossa querida Póvoa. No entanto, pode ser que seja mais motivador ficar por aqui a mandar uns bitaites enquanto a caravana passa…

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  18. Manuel:
    Acha que a intervenção deste blogue, por sinal identificado, corresponde ao "lançamento" de bitaites?
    Será que as intervenções junto das pessoas que são próximas, procurando influenciá-las argumentando com factos, opiniões fundamentadas corresponde ao "lançamento" de bitaites?
    A internet é uma ferramenta poderosa, mas não única. Há formas de intervenção tradicionais que são decisivas nas batalhas políticas. O espaço deste blogue corresponde a um acto de cidadania lançado pelo seu actor.
    Quanto à proposta de força oculta cibernáutica parece-me, essa sim, típica do chamado bitaite.
    Manuel, poupe-nos!

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