Muito se disse e se escreveu sobre as causas e os principais responsáveis pelo autêntico desvario urbano da Póvoa dos anos 70 e 80. Sem querer desculpar os responsáveis políticos que exerceram o poder naquele período nem parecer ingénuo, parece-me, a bem da verdade, que o contexto em que surgiram as malditas alterações, resultaram muito mais da combinação de vários factores e não tanto de uma resposta simplista, muitas vezes ouvida, de que os causadores de todos esses males terão sido as sucessivas equipas lideradas pelo Dr. Manuel Vaz (por mais erros que tenham cometido).
Temos que reconhecer que, as grandes transformações políticas verificadas no período a seguir ao 25 de Abril de 1974, conduziram ao poder, através de eleições tão desejadas por todos, um conjunto de cidadãos que, em muitos casos, não estavam preparados nem tinham os instrumentos legais que, felizmente, hoje existem, para enfrentar interesses tão poderosos e desregulados, como eram os da construção e promoção imobiliária. Não nos podemos esquecer que a construção era um autêntico “Negócio da China”, dado que possibilitava lucros desenfreados e uma segurança dos investimentos muito superior a qualquer depósito bancário, mesmo do tipo “BPN/Oliveira e Costa”. Quem não se lembra dos apartamentos sinalizados na planta por uma quantia irrisória e vendidos, depois de prontos, por valores que correspondiam a margens de lucro que fariam inveja a Bernard Madoff e ao seu esquema de pirâmide.
Não pretendendo branquear os mandatos do Dr. Manuel Vaz, parece-me importante fazer este enquadramento.
Mas a verdade indiscutível, é que, em meados dos anos oitenta, uma grande parte da população poveira, sobretudo urbana, independentemente da sua cor político partidária, entendia que o caminho que estava a ser seguido teria que ser interrompido, de modo a que fosse possível mudar de paradigma e promover um modelo de desenvolvimento do concelho completamente diferente daquele que vigorara até então. Um modelo de desenvolvimento em que a criação de riqueza de curto prazo não fosse a única preocupação. Um modelo em que o ambiente fosse respeitado. Um modelo em que os responsáveis teriam a obrigação não comprometer o futuro das gerações mais novas. Ou seja, um modelo de desenvolvimento sustentável.
Recordo-me de assistir, apesar de nunca ter pertencido a qualquer partido político, a um fórum de discussão sobre estas questões, no espaço do antigo cinema Santa Clara, em que a participação da população ultrapassou, e de que maneira, o “espaço partidário” da força que o promoveu comprovando que, apesar conservadorismo típico dos poveiros, havia condições para uma efectiva mudança. Dava a sensação de que “sim, nós podíamos”.
segunda-feira, 6 de abril de 2009
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Continuo a achar que os últimos políticos que têm "governado" a Póvoa continuam tão "mal preparadaos" como o Padre Manuel Vaz. És mesmo muito diplomático, Luís... ;-)
ResponderEliminarQuando sai o próximo?
ResponderEliminarQuero ver em que ficamos.
E ainda não havia a actividade fiscal que agora, apesar de tudo, existe.
ResponderEliminarEram autênticos offshores cá dentro.
Os desvarios iniciaram-se mesmo antes do 25 de Abril, no tempo dos ´~ao eleitos.
ResponderEliminarAgradeço os comentários registados e em resposta ao M, direi que escreverei sobre os últimos políticos no último post. No que diz respeito à diplomacia, trata-se de uma opção de tentar escrever com o máximo de objectividade possível e dentro do respeito pelas elementares regras de boa educação.
ResponderEliminarConcordo com o último anónimo, quando refere que as asneiras começaram mais cedo, mas foram sem dúvidas agravadas nos finais dos anos setenta/principios de oitenta.
Sem opinar para já sobre o tema, e porque muito pouco conhecimento tenho do enquadramento "histórico" poveiro das décadas de 70/80, faço apenas um comentário para destacar a enorme clareza como o Luís expõe as suas ideias, a sabedoria com que propõe o debate inteligente e não polarizado, e a qualidade do seu Português. É bom ver escrever tão bem e de forma tão clara, e é bom saber que há muitos professores com estas qualidades a conviver e a ensinar as nossas fornadas de gerações mais jovens. Enquanto assim for, estou tranquilo.
ResponderEliminar