sábado, 25 de abril de 2009
25 DE ABRIL SEMPRE
25 de Abril sempre foi o slogan que, ano após ano, habituámo-nos a ouvir da boca da generalidade dos portugueses.
Numa primeira fase e após a Revolução, parecia que aquela efeméride era exclusiva de todos os que tinham combatido a estúpida Ditadura do Estado Novo. Na verdade, havia uma espécie de “apropriação excessiva” dos fundamentos da Revolução que não correspondia ao seu principal desafio, o da liberdade, que deve estar presente em qualquer Estado ou organização.
Este facto, apesar de criticável, deve ser compreendido dado que a ausência de Democracia demorou uma eternidade e as grandes mudanças são, por natureza, vividas de modo intenso pelos seus intérpretes.
Com o passar do tempo e com a criação de novos hábitos, já em Democracia, aquela questão foi, naturalmente, resolvida e a Revolução passou a ser de quem sempre foi, ou seja do povo português.
Passados trinta e cinco anos sobre aquela data, e apesar de todos os défices democráticos que possam existir na Madeira ou no continente, é justo reconhecer a sua importância histórica que nos permite ter ideias diferentes, exercer o contraditório e defender propostas alternativas aos diversos poderes instituídos.
No entanto, nos últimos anos, assistimos a uma “nova apropriação” do slogan que passou a ser utilizado por políticos, oriundos da esquerda, centro ou direita que isso é irrelevante, ministros, secretários de estado, directores gerais, autarcas, administradores de empresas públicas, etc. Basta observarmos os programas de comemoração, por esse país fora, para constatarmos aquela realidade. Muitos dos que se apropriaram do slogan revelam, na sua prática política diária, exactamente o oposto dos ideais de Abril. Não aceitam a crítica, mesmo que seja devidamente fundamentada e reagem bastante mal, algumas vezes com agressividade despropositada e outras com enorme subtileza, a todos os que não entram na fila do unanimismo tão presente nas mais diversas escalas de análise: local e nacional. São aquilo a que poderíamos chamar “Democratas Não Praticantes”
Entendo que esta apropriação, associada às oportunidades sucessivamente desperdiçadas pelas tais elites, tem provocado fracturas na nossa coesão social e tem levado a um certo sentimento de revolta que políticos mais experientes reconhecem como possibilidade preocupante.
Depois de ter escrito este artigo li a crónica, desta sexta-feira, do jornalista Manuel Pina e apetece-me citar, como ele, Thomas Carlyle que, a propósito da Revolução Francesa, afirmava que as revoluções eram sonhadas por idealistas, realizadas por fanáticos e quem delas se aproveitava eram os oportunistas de todas as espécies.
Será verdadeira esta tese?
Seriam os vampiros?
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Texto muito bom.
ResponderEliminarAssenta como uma luva nalguns autarcas, a começar cá pelos do burgo.
25 de Abril SEMPRE.
Cada vez mais fala de Abril quem não teve nem tem nada a ver com os princípios da revolução. Comemoram Abril com o mesmo sentimento que entregam una taça de desporto popular ou inauguram uma pequenena obra. É mais uma data para aparecer e "mostrar obra".
ResponderEliminarora nem mais
ResponderEliminarEsta última apropriação é inaceitável já que a primeira resultou da existência de uma ditadura feroz que perseguiu, torturou opositores. É natural que estes sentissem necessidade de apropriação. Já alguns dos novos democratas deviam ter vergonha, porque encaixam como uma luva na ideia de oportunismo.
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