segunda-feira, 20 de abril de 2009
Novas centralidades
Habituámo-nos, ao longo destas últimas décadas, a ouvir falar dos grandes problemas estruturais que o nosso país enfrenta e à incapacidade para lhes dar resposta. O crónico défice comercial e a fraca competitividade e produtividade são dois desses problemas, insistentemente, apontados como responsáveis pelo aumento da distância em relação aos níveis de desenvolvimento dos países mais desenvolvidos da União Europeia.
Portugal padece, também, de outra grave dificuldade que resulta da excessiva concentração de pessoas, vias de comunicação e actividades económicas no litoral, e particularmente nas áreas metropolitanas, por oposição às regiões do interior que estão, cada vez mais, abandonadas.
Mas se observarmos, com atenção, o que se passa na generalidade dos concelhos localizados no litoral constatámos que, também eles, sofrem do mesmo problema estrutural, ou seja da assimetria litoral/interior. Na esmagadora maioria dos casos vemos as áreas litorais dos concelhos pressionadas e as mais afastadas do mar esquecidas e, muitas vezes, abandonadas. Felizmente, algumas estão em áreas protegidas o que ainda possibilita, apesar de tudo, alguma segurança.
Também o nosso concelho sofre do mesmo problema. Se fizermos um resumo das intervenções, operadas ou em lista de espera, na Póvoa de Varzim nas últimas décadas verificámos que, a esmagadora maioria, se centra no litoral, ou nas proximidades. Se reflectirmos bem sobre este assunto, não só a população que vive nas áreas urbanas mais afastadas do mar como, sobretudo, a que reside nas chamadas “freguesias rurais” terá o mesmo tipo de queixas de centralismo, que, por exemplo, os alentejanos ou transmontanos sentem relativamente a Lisboa. Só a título de exemplo, na marginal já investimos milhões para construir, destruir e, novamente, construir.
É certo que grande parte do investimento foi feito com verbas da zona de jogo que não podem ser usadas livremente pelos responsáveis políticos mas que, também, não podem ser desbaratadas como aconteceu, por exemplo, com o antigo e famoso túnel para peões, no Passeio Alegre, que é daqueles casos típicos, referidos recentemente pelo Presidente da República, sobre a má avaliação da relação custo/benefício dos investimentos efectuados.
Quando ouvimos falar em novas centralidades, imediatamente o apetecível litoral surge como forte possibilidade através do discutível projecto previsto para a área ocupada actualmente pela Praça de Touros e pelas instalações do Varzim e do Desportivo.
Na minha opinião, este excessivo investimento no litoral tem tido a capacidade, paradoxal, de nos colocarmos mais no litoral, mas cada vez mais de costas, isto é, desvalorizando o potencial próprio que ele apresenta, parecendo, muitas vezes, que até renegámos as nossas origens de antiga comunidade piscatória.
Gostaria muito que, quando se falasse em novas centralidades no concelho, surgissem ideias de aproveitamento da nossa história e património, investindo, sobretudo, na recuperação e requalificação urbanas.
Penso, por exemplo, que uma intervenção global no espaço compreendido entre a Praça do Almada, a Igreja Matriz e a área do Hospital, faria todo o sentido. Poderia revitalizar o antigo centro histórico, à semelhança do que fizeram, com um impacto muito maior porque a tradição histórica também é diferente, cidades como, por exemplo, Guimarães. A recuperação dos edifícios, associada à ocupação dos espaços por funções, pessoais, recreativas e residenciais poderia contribuir para uma regeneração e revitalização da cidade, dando-lhe a vida que ela merece.
Reconheço que uma tarefa deste género, seria difícil e complexa, no que diz respeito à vertente financeira e, mesmo, técnica. Todavia, como iria romper com a vulgaridade da generalidade das intervenções nos nossos municípios, poderia funcionar como um importante factor de elevação da auto-estima dos poveiros. É evidente que para avançar com projectos desta natureza seria necessário enquadrá-los no perfil de programas governamentais ou, de preferência, nos que são financiados pela União Europeia, de modo a que fossem sustentados em termos financeiros.
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Nesse caso colocar como hipótese, o estudo do fecho ao transito da Praça do Almada, tornando-a uma "Grande Praça"?
ResponderEliminarEssa intervenção devia ter ocorrido aquando da última, e bem recente, remodelação da Praça.
ResponderEliminarFazia todo o sentido uma abordagem mais global e não apenas intervenções avulsas.
O que nos vale é que, por um lado, a maioria das construtoras com quem a Câmara tem negócios ou faliu ou está em vias de falir e que, por outro lado, a crise no imobiliário inibirá os ímpetos cimenteiros dos nossos autarcas.
ResponderEliminarSó isso impedirá termos que gramar com um Hotel de 11 andares e um centro comercial de 8.
Há males que vêm por bem.
A requalificação do Centro Histórico da Póvoa foi equacionado quando se falou na remodelação da Praça do Almada, e algumas ideias-chave foram até avançadas pela maioria deste executivo (vide Actas da AM). Ficou tudo em águas de bacalhau porque um projecto desta envergadura(necessário) requere engenho, interesse e diálogo, que são elementos escassos por parte de quem tem a primeira responsabilidade na cidade.
ResponderEliminarA aborgagem global fazia, na minha opinião, todo o sentido. Concordo com a ideia de que, por exemplo, a intervenção na Praça podia até ter ido mais longe (tornando-a numa zona exclusivamente pedonal - ou com acesso apenas a transportes públicos - em função do estudo de alternativas)desde que tivesse o tal enquadramento abrangente.
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