quarta-feira, 8 de abril de 2009

O Precedente (Parte III)


Respeitando, naturalmente, quem assim não pensa, entendo que a entrada de Portugal na Comunidade Europeia (actual União Europeia) foi um momento decisivo, não só para a consolidação da nossa jovem Democracia como também para a disponibilização de recursos e conceitos que levaram a uma aproximação, por parte da população, a padrões de vida mais elevados e à introdução de instrumentos e práticas que contribuíram, decisivamente, para mudanças qualitativas ao nível do planeamento e ordenamento do território.
Assim, ao longo da década de noventa, surgiram mecanismos legais que, com muitas resistências, permitiram que se colocasse um pouco de ordem no crescimento urbano das nossas cidades. Surgiram os Planos Municipais de Ordenamento do Território (PMOT), com destaque para os Planos Directores Municipais, para disciplinar o uso do solo em todo o município e os Planos de Urbanização que se referem especificamente às áreas urbanas e urbanizáveis. Ou seja, a nova geração de autarcas, ao contrário dos mais antigos, já não tinha o mesmo tipo de atenuantes, dado que já beneficiava de instrumentos de planeamento que poderiam e deveriam impedir a repetição dos erros do passado.
O acesso ao poder, nas autarquias, apresenta características muito próprias, dado que é uma tarefa dificílima para quem pretende alcançá-lo pela primeira vez e é quase impossível, depois de conquistado, perdê-lo. Por outro lado, no poder local, os cidadãos valorizam muito a figura do candidato e não tanto o partido pelo qual concorre. É neste contexto que deve ser entendida a estratégia de conquista do poder implementada pelo PSD Póvoa que, em 1989, conseguiu apresentar como candidato o tão criticado Dr. Manuel Vaz, que, apesar de tudo, reconquistou a Presidência da Câmara, agora por um partido diferente (anteriormente tinha sido eleito pelo CDS). Ficou um pouco a sensação de que “se não consegues derrotá-lo, junta-te a ele”.
Este mandato, marcado por profundas divergências internas, foi apresentado, pelo partido vencedor, como uma espécie de preparação para a tão desejada alteração de rumo. Ou seja, primeiro conquista-se o poder e, logo que possível, imprime-se uma mudança que, em princípio não poderia ser concretizada por quem, supostamente, tantos erros tinha cometido, ou seja pelo Dr. Manuel Vaz.
Nas eleições autárquicas de 1993 verificou-se um disputadíssimo acto eleitoral, sem a presença do Dr. Manuel Vaz, em que os poveiros foram confrontados, basicamente, com três possibilidades diferentes. A manutenção da linha de rumo anterior, interpretada pela candidatura do CDS que vencera sempre os actos eleitorais autárquicos desde 1976. A ruptura total com o passado, através de uma coligação que lançava uma figura bastante prestigiada no meio local (Dr. Cancela) mas que tinha a “dificuldade” de estar associada a forças de esquerda difíceis de aceitar num meio conservador e uma terceira via, aparentemente descomprometida e mais moderada, interpretada pela candidatura do PSD através de um independente (Dr. Macedo Vieira) que, paradoxalmente, integrava na sua lista “elementos do passado” que tinham trabalhado com o Dr. Manuel Vaz.
Tratou-se de um acto eleitoral altamente disputado, em que o PSD venceu por menos de um milhar de votos. Foram eleitos três vereadores do PSD, três do CDS e um do PCP/PEV. Não havendo maioria absoluta, houve necessidade obrigatória de diálogo e ficou a sensação, para muitos poveiros, que, finalmente, se tinha encontrado um equilíbrio que permitiria a mudança de paradigma no modelo de desenvolvimento do município.
O trabalho autárquico, no período compreendido entre 1993 e 1997, apresentou novas propostas e dinâmicas, associadas ao planeamento, lazer, desporto e cultura, não se percebendo, muito bem, se resultavam das ideias do “novo poder”, do valor acrescentado pelo Dr. Cancela (vereador eleito pelo PCP/PEV) ou de uma mistura de ambos. Muita gente falou de “uma espécie de coligação”, mas a verdade é que, neste período, houve uma interrupção da pressão a que a nossa cidade tinha estado sujeita.

5 comentários:

  1. Não tenho dúvidas que foi uma espécie de magazine, peço desculpa de coligação.

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  2. Isto é história local. Onde está o precedente?

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  3. É aguardar as cenas dos próximos capítulos! Queres saber logo como o filme acaba?

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  4. O precedente sai antes ou depois do compasso?

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  5. Não era possível fazer a abordagem que pretendo sem fazer todo o enquadramento das últimas décadas.
    Por outro lado, um só post seria demasiado extenso para este instrumento de comunicação, pelo que dividi em várias fases I, II, III,IV.
    Espero colocar o último post antes de receber o compasso.

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