terça-feira, 10 de março de 2009

Promar: verdade ou ficção?




Num momento em que se discutem novos impactos negativos sobre o nosso litoral, justificados com a cobertura de um instrumento legal chamado POOC(Plano de Ordenamento da Orla Costeira) , mais concretamente a área de litoral entre Caminha e Espinho que, eventualmente, com combatividade e criatividade, poderia ter consequências negativas minimizadas, gostaria de vos dar a conhecer a localidade de Promar.


Promar
Situada no norte de Portugal é, sem dúvida, uma localidade milenária que terá, segundo os historiadores locais, apresentado várias designações que culminaram, no Século XVI, com o nome definitivo de Promar. Historicamente, trata-se de uma povoação com forte ligação ao mar e que, desde sempre, sentiu necessidade de efectuar grandes esforços para conseguir vincar dado que a população, por um lado, se dedicou muito à actividade piscatória tendo necessidade de enfrentar mares tempestuosos para conseguir o sustento das diversas famílias e, por outro, foi sempre sujeita ao pagamento de quantias significativas ao poder monárquico. Ao contrário de muitas outras, nunca conseguiu, no tempo da monarquia, qualquer tipo de isenção de pagamento impostos pelo que teve necessidade de trabalhar, não só para sobreviver como também para pagar a autorização para existir enquanto aglomerado populacional. Nunca foi uma povoação rica e, talvez por esse motivo, o seu crescimento até 1970 foi sempre ligeiro o que não permitiu o aparecimento de estruturas na vila que colidissem com as raízes históricas. As ruas, ao longo do centro histórico junto à Igreja de Nossa Senhora de Fátima, eram estreitas e apresentavam um desenho irregular a fazer lembrar, pela forma e traçado, as localidades do Alentejo e Algarve de forte influência muçulmana. Nalguns pontos as ruas eram de tal forma estreitas que as janelas de casa vizinhas permitiam a observação do que se passava na casa alheia, facto que, por um lado, fazia diminuir a privacidade mas, por outro, fomentava o estabelecimento de relações de proximidade entre as diversas famílias. Os edifícios deste centro eram bonitos, imponentes, com um, dois ou três pisos no máximo, e lá se concentrava a maioria dos serviços públicos, as principais lojas comerciais e alguma função residencial de classes mais favorecidas. Junto à praia e mais para norte, estabelecia-se uma malha de ruas paralelas à linha de costa que eram intersectadas perpendicularmente por outras que se ligavam à zona nascente, com um traçado muito mais geométrico, do tipo pombalino, que lhe davam um potencial de crescimento bastante interessante. Estas ruas, com excepção da que estava na primeira linha do mar, eram servidas por casas térreas, muito simples, onde a classe piscatória vivia de um modo bastante feliz dado que, a reduzida dimensão das casas, permitia uma percepção ampla da linha de horizonte e, mais importante, uma vista permanente sobre o mar.
Se observássemos a vila do ponto mais alto (na Igreja de Nossa Senhora de Fátima) constatávamos a sua interligação natural com o mar e a sua invulgar beleza que a tornariam mais tarde num lugar de forte pressão urbanística à qual, infelizmente, não foi capaz de resistir. O nome de Promar reflectia aquela simbiose, dado que o conjunto da vila estava intimamente associado ao mar através das cores, dos cheiros e dos ruídos. O azul vivo do Atlântico e do céu na Primavera e no Verão promoviam alegria, o prazer e gosto pela vida. O cheiro persistente a maresia era melhor do que qualquer água-de-colónia tornando Promar irresistível e afrodisíaca. O ruído das fortes ondas a embater na costa associado aos tons cinzentos do céu e do mar que dominavam o Outono e o Inverno integravam um tipo de beleza completamente diferente, talvez ainda mais encantadora que a do Verão.
Tratava-se, sem dúvida, de uma localidade com um potencial de tal modo elevado que, com uma visão de médio e longo prazo e um crescimento ordenado, sustentado e livre dos especuladores, rivalizaria com todas as “maravilhas do mundo” que possam existir e tornaria sempre felizes os seus habitantes bem como os seus visitantes.

8 comentários:

  1. Alguma coisa me diz que a Póvoa assumiu grande parte destas caracteristicas há 20 ou 30 anos atrás!

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  2. As duas abordagens são possíveis. É tudo uma questão de imaginação, experiência de vida e o desejo de um litoral menos acossado e comprometido.

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  3. Não se sabe o que aconteceu a Promar mas, por mim falo, espero que se tenha mantido assim: ampla, próxima de todos e abraçada pelo mar. Como assim gostava que tivesse ficado a minha cidade mas decidiram povoar a primeira de linha de mar com prédios altíssimos e horríveis, assim como a Avenida Mouzinho que, após requalificação, mostra ainda mais ferozmente a fealdade dos edifícios que a compõem...E é triste, porque basta ver fotografias de há não muito tempo atrás para se perceber que a beleza já passou por aqui...mas não ficou. E agora, não sei com que propósito, tapam-nos o mar com "mamarrachos" que não nos fazem falta. Porque a realidade é esta, de acordo com o POOC ou não, quem precisa de mais bares em cima da praia? quem precisa de mais casas de banho? E se assim é, porque não vemos isto em mais local nenhum...?Destruir o que poderia ser um local lindíssimo é falta de inteligência pura e simples. Ordenar esta cidade, enchê-la de vida e não de turismo de garrafão, devolver-nos o nosso mar e a nossa praia, nada disto me parece, sinceramente, uma tarefa que exija uma visão extraordinária, um génio criativo de grande raridade. É simples, é só sentir...

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  4. Não posso estar mais de acordo contigo. Eu não sou da Póvoa, mas lembro-me de vir cá, há quarenta anos atrás, andar de bicicleta à volta do casino... e como esta cidade era diferente...
    Bom post, Luís

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  5. Em primeiro lugar, não considero que a história de Promar seja mera ficção, é uma visão (talvez utópica) que poderia perfeitamente ser realidade, caso os interesses politico/partidarios não se sobrepusessem aos interesses da comunidade Poveira. Não penso que, por exemplo, o executivo camarârio tenha interesses económicos ao autorizar a instalação destas infra-estrutuas, mas considero que consegue atribuir uma visão falsa do que é o turismo da Póvoa de Varzim.

    Lamento profundamente que, em vez de requalificar as infra-estruturas já existentes na primeira linha de costa, se proceda à construção de 'mamarrachos' e à colocação de barracas que ocupam grande parte do arenal.

    E quem são os principais beneficiados? Famílias provenientes de Guimarães, Barcelos, Braga, Famalicão, etc. É muito bonito dizer que a Póvoa é um enorme pólo turistico, mas vamos analisar os factos: Há uns anos estas famílias alugavam as casas mais antigas como, por exemplo, as da Rua António Graça.

    Todavia, nos dias de hoje, vêm de carro de manhã e voltam para as suas localidades à noite. O quê que a Póvoa ganha com este tipo de turista que cá não deixa sequer um centimo? Que enche e suja a praia, mas que segundo o Dr. Macedo Veira, sustenta a economia Poveira durante o período balnear?

    Quem sustenta a economia Poveira durante o período balnear e durante o resto do ano são os Poveiros!!! É preciso encontrar solucções para potencializar este tipo de turismo ou, por outro lado, criar um plano de fumento desta actividade económica que passe, em primeiro lugar, pela defesa dos interesses dos Poveiros.

    Stif

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  6. E melhor eu não diria!
    .....alguém sabe de quem são as acções daquela nova bomba de gazolina mesmo aqui emfrente ao Modelo da Póvoa? ...Por acaso era preciso maia bombas, ainda por cima junto a zona habitacional!?!?!?!
    E o parque de cadidade será que ainda é terminado neste século?

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