quarta-feira, 25 de março de 2009
Construções na areia II
Nas últimas semanas tem decorrido um espontâneo debate na comunidade poveira sobre a importância e oportunidade da construção de novos equipamentos de apoio na praia da Póvoa de Varzim.
Numa crónica, publicada recentemente no Póvoa Semanário, José Andrade, num interessante jogo de palavras apelidava-os (ou não) de “mamarrachos”, traduzindo um sentimento instalado de alguma revolta para com mais um contributo para o corte com as nossas raízes que resultam da forte interligação com o mar e, consequentemente, com o areal.
Neste pequeno espaço de reflexão, abordei esta questão de uma forma muito simples e que consistiu na colocação de um inquérito on-line, que oferecia quatro possibilidades de resposta, desde a acérrima defensora dessas construções até à que os rejeitava totalmente. Em paralelo, coloquei um pequeno texto e deixei duas ligações sobre legislação de interesse que, em conjunto, enquadram esta problemática.
Deixei correr a votação cujo resultado, apesar de não ter qualquer tipo de valor científico, é claramente negativo para com aquelas construções. Avanço agora com a minha opinião que, como devem calcular, coincide com o sentimento da insatisfação generalizado.
Gostaria de começar por realçar a importância do planeamento para a promoção do desenvolvimento harmonioso do país, regiões e concelhos. Entendo que a adesão à Comunidade Europeia (actual UE) em 1986 foi muito importante porque permitiu a introdução de mecanismos de planeamento, aos quais não estávamos habituados, que contribuíram para uma minimização da pressão urbanística a que muitas localidades, sobretudo do litoral, estavam sujeitas, e a Póvoa de Varzim, como todos sabemos, terá sido das mais penalizadas pela falta de planeamento e ordenamento do território, nos idos anos 70/80.
Apesar de tudo o que se passou no nosso país, temos que reconhecer que a implementação dos Planos Municipais de Ordenamento do Território (PMOT), nomeadamente os Planos Directores Municipais e Planos de Urbanização, contribuiu muito para colocar alguma disciplina na gestão e ocupação do solo nos diversos concelhos do país e, naturalmente também, na Póvoa. Penso que tudo seria ainda pior se, pura e simplesmente, não existissem tais instrumentos, embora reconheça que, no nosso município, a aplicação do Plano de Urbanização poderia e deveria ter sido “mais amiga” do interesse geral.
Mas não surgiram apenas planos à escala do município como também à escala regional (Planos Regionais de Ordenamento do Território - PROT) e planos especiais, os Planos Especiais de Ordenamento do Território – PEOT, que, para o assunto em questão, são os que nos interessam, muito particularmente os Planos de Ordenamento da Orla Costeira – POOC, mais concretamente o POOC Caminha/Espinho.
Fazendo uma leitura atenta deste plano constatámos que há uma forte preocupação do legislador em elaborar um documento que, sem descurar e impedir as dinâmicas associadas ao turismo, zele pelo desenvolvimento sustentável desta parte do litoral português, dado que os objectivos são bastante claros (artigo 2º) e referem a necessidade de valorizar e qualificar as praias consideradas estratégicas por motivos ambientais e turísticos e defender e conservar a natureza.
Um pouco mais à frente, os pontos nº 1, 2 e 3 do famoso artigo 54º deixam poucas dúvidas, mesmo para quem não tem formação específica na área jurídica, sobre o tipo de equipamentos de apoio que poderão ser construídos no areal. O ponto nº 2 daquele artigo refere que, no areal, apenas poderão surgir os “equipamentos simples” e o ponto 3 do mesmo artigo parece-me claro na obrigação de localizar “os apoios completos – infra-estruturados” na proximidade das vias, preferencialmente no passeio marginal e na frente urbana”. O legislador, admitindo que não sendo possível a construção destes apoios grandes nas áreas atrás referidas, é muito explicito quanto ao tipo de apoio que deverá ser construído: “…desmontável e sobre estacas”.
O que observámos na nossa praia, particularmente num dos equipamentos que está a ser edificado, é bem diferente de tudo o que encontrámos na lei. No entanto, parece-me que a questão central vai muito para além da eventual ilegalidade do equipamento que está a ser construído. O que preocupa muitos poveiros, suponho eu, não será tanto a questão jurídica mas a vontade de impedir que se cometa, desta vez na nossa praia, o mesmo tipo de erros na ocupação do espaço que, nos contextos temporais mais variados, ocorreram na nossa cidade.
É verdade que este plano (POOC) não faz parte dos Planos Municipais e, nesse sentido e por uma questão de justiça, devemos reconhecer que há responsabilidades de estruturas dependentes do poder central. No entanto, dado que a Câmara Municipal da Póvoa de Varzim, à semelhança dos outros municípios envolvidos, esteve representada na comissão mista de coordenação que procedeu à revisão do POOC poderia, eventualmente, defender a tese de que a situação da nossa praia é completamente diferente de todas aquelas em que não há quaisquer tipos de infra-estruturas. Na verdade, temos um conjunto de edifícios, infelizmente exageradamente altos e, alguns, menos bem conservados, na proximidade da praia, cujo piso térreo já fornece serviços de apoio aos utentes, pelo que até os equipamentos de pequena dimensão, se vão ganhar espaço ao areal, seriam, na minha opinião, também dispensáveis.
Será que não era possível investir um pouco na recuperação urbana de alguns desses edifícios e na sua requalificação, deixando o areal em paz?
Mesmo admitindo como legais as construções que estão a ser edificadas, como podem os responsáveis reagir e justificar, de modo pouco convicto, com a lei, quando se percebe que esta situação, também não é do agrado de alguns deles?
Como se pode, neste contexto, acusar quem defende uma orientação diferente de conservador?
Como se pode confiar no “esperar para ver como ficará bonito”?
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Sobre o reparo aqui feito sobre as “construções na areia”, expando para o que anteriormente referi num prévio post por mim colocado sobre o interesse local e os interesses pessoais. Quão distintos são estes actos, “aparentemente iguais”!
ResponderEliminarAlterando um pouco a orientação deste post, não consigo deixar de partilhar este momento com todos os cibernautas que visitam este blogue: (até para ti caríssimo amigo).
Acabo de chegar a casa. Passa das 2h30m da madrugada e amanhã tenho de acordar cedo para que consiga cumprir com as minhas obrigações profissionais. No entanto, parece-me que duas ou três linhas, não hão-de roubar-me assim tanto tempo quanto isso para argumentar o que tenho escrito sobre os interesses locais, e os interesses pessoais dos quais temos sido espectadores activos com intervenção passiva.
Hoje (ontem) 25 de Março de 2009, houve o habitual jantar comemorativo do Varzim Sport Clube. Comemorou-se o seu 93º aniversário. Os que estiveram presentes, conseguiram ver e ouvir. Para os que não estiveram, aqui vou tentar relatar o que mais me preocupou:
O Dr. Lopes de Castro elogiou, até não mais conseguir, a associada Raquel meritória de receber o troféu Lobos-do-mar, troféu supremo do Varzim Sport Clube. (será que o facto de ser filha do maior e melhor patrocinador do Varzim Sport Clube teve alguma influência? (CASA DO PAPEL)). Fica a suspeita.
O Eng. Aires Pereira, em representação da CMPVZ, voltou a lembrar o corte dos apoios da autarquia ao Clube Poveiro, tal como o Sr. Presidente Macedo Viera o tem já feito, nomeadamente no passado jantar, mas, naturalmente, com um dom da palavra superior ao do Presidente. Será verdade??? (Eu particularmente não me acredito).
O Presidente da assembleia-geral, o Dr. José Maria Reina, homem que muito aprecio, falou de forma nebulosa sobre uma possibilidade em o Presidente da direcção lhe conceder o cargo, embora tudo tenha sido dito nas entrelinhas do humor, pois nada mais disse.
Agora questiono eu e apenas eu:
Ou esta gente (no caso a direcção do Varzim Spot Clube), é realmente gente de altíssimo valor humano, ou então estamos a falar mesmo de interesses pessoais enormes dentro de todos os milhões (mais de 100 milhões de euros) que envolvem o processo estádio tudo com a mão no peito, o hino Varzinista ao rubro e as “camisolas e cascois levantados.
Penso que daqui às “construções na areia” é relativamente fácil de chegar.
Caro LGC. Parabéns pelo post. Muito lúcido e coerente.
ResponderEliminarLamento o crime que estão a fazer às nossas praias, repito NOSSAS, dos POVEIROS e não da Câmara ou dos concessionários.
A população tem que mostrar a sua raça poveira e não pode ficar indiferente.
ResponderEliminarESTÃO A MATAR AS NOSSAS PRAIAS.
Exclente post, faço suas as minhas palavras.
ResponderEliminarSabe bem regressar do trabalho e ler este post. Alivia-nos a alma e o coração de poveiros.Felizmente, como dizia o poeta,ainda há quem resita e diga Não.
ResponderEliminarO que falta dizer a que os apoios de praia são estruturas provisórias para praias que não tenham na sua Urbanização próxima infra-estruturas que prestem esse mesmo apoio. Hora não é o caso da Praia da Póvoa, que peca por defeitos, não lhe faltam, "apoios" fora e dentro da praia. O que se assiste é pura corrupção dos desenfreados sem vergonha, que vendem o espaço Público para seu enriquecimento pessoal ilícito.
ResponderEliminarPor favor corrigir Hora por Ora. Obrigado
ResponderEliminarMuitos Parabésn pelo excelente post professor Luis.
ResponderEliminarEntristece-me que não hajam mais poveiros a reflectir sobre os crimes que se vão praticando na Póvoa mas o professor dá aqui um importante contributo.
Parece que surgiu por aí um jovem candidato com fibra.
Vamos ver o que a Póvoa lhe reserva.
Já era tempo.
Não digo nem acuso, sem dados concretos ou mais que vagas suspeições, que exista corrupção. Pode simplesmente ser, e não me surpreenderia muito, falta de inteligência e visão estratégica. Porque qualquer poveiro sabe que fazer estas construções aberrantes no areal iria levantar uma onda de discórdia. Se ainda assim se avança com intenções corruptas, então a burrice é já crónica e não apenas esporádica. Ainda prefiro acreditar em alguma falta de qualidade enquanto líderes do que não acreditar na sua honestidade.
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