segunda-feira, 9 de março de 2009

Liberdade de expressão




Tenho lido, não só no meu como noutros blogs, os comentários sobre o arranque deste simples projecto chamado Descarga. No artigo “Mais vale tarde do que nunca”, colocado no Blog em Fevereiro, explico em poucas palavras, as razões pelas quais avancei para utilização deste recurso e que se relacionam, sobretudo, com a possibilidade de escrevermos livremente sobre temas variados, partilhando opiniões que, como referia José Andrade num simpático comentário, poderão contribuir, sobretudo pela diversidade, para pequenas melhorias no funcionamento das organizações.
Na minha vida profissional, tentei sempre, nos locais apropriados e principalmente nos órgãos de coordenação pedagógica, defender as ideias, os projectos, as decisões que, após muita ponderação, me pareciam mais adequadas a cada situação. Fiz esse trabalho, com respeito por aqueles que de mim discordavam, e estou convencido que, apesar da importância da liderança, a frontalidade e a diversidade são condições essenciais para o bom funcionamento da escola e, mais importante, para o sucesso dos alunos.
Por uma simples questão de cidadania, entendi que devia alargar o âmbito dessas minhas intervenções, até porque, no exercício da minha actividade profissional, tenho a obrigação de trabalhar áreas que dizem respeito à economia, ao ambiente, ao planeamento e, entre muitas outras, à política.
Do retorno do meu “atrevimento” na criação do blog recebi ecos positivos que, naturalmente, me satisfizeram pessoalmente, mas tenho a noção de que outros surgirão em sentidos opostos. O facto que mais me impressionou, na maioria dos comentários escritos ou orais, relacionou-se com um certo sentimento de insegurança sobre um valor essencial de qualquer democracia: a liberdade de expressão. Comentários, sem dúvida de amigos preocupados, do tipo “tem cuidado”, “vê lá o que escreves”, foram muito frequentes nestes dias. Aquilo que pretendo fazer neste blog é, simplesmente, emitir opinião, sobre os assuntos mais diversos, não sendo obrigado a achar que tudo aquilo que é feito a nível local, regional ou nacional é fantástico quando penso exactamente o contrário, ou quando concordo, apenas em parte, com aquilo que foi feito.




Provavelmente, acontecimentos recentes como a imposição, pela Direcção Regional de Educação do Norte, da participação dos professores no desfile de Carnaval dos alunos do Agrupamento de Escolas de Paredes de Coura, apesar de decisão em sentido oposto do respectivo Conselho Pedagógico ou a apreensão, pela PSP de Braga, de livros com uma capa, em que se reproduz a obra “A origem do Mundo” de G. Courbet, acentuam o sentimento de receio referido anteriormente.
Finalmente, tendo por base este último acontecimento e atendendo a que a nossa cidade acolhe todos os anos o interessante evento “Correntes d`Escritas” (oportunamente, demonstrando que não vejo apenas os lados negros, escreverei sobre esta iniciativa) atrevo-me a sugerir, sem atribuição de notas, a leitura da obra “Os Sete Minutos” do escritor norte-americano Irving Wallace, que consegue demonstrar que, salvo as devidas diferenças e o tremendo exagero da comparação, os meus queridos amigos poderão ter, afinal, alguma razão.

5 comentários:

  1. Fazem falta vozes que se ouçam, vozes que devem ser ouvidas. A OPINIÃO livre, na Póvoa, fica enriquecida.
    Cumprimentos.
    Manuel Figueiredo

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  2. De acordo com Manuel Figueiredo, sinto enquanto cidadão Poveiro, a falta de uma voz desinteressada empenhada nas causas em questão como princípio básico como a do Luís Castro.
    Nos planos da educação, da saúde, da sociedade, do desporto, da cidadania etc., parece haver sempre valores que se sobrepõem aos das causas em questão, por vezes por permutas miseráveis, e outras vezes não.

    Coragem Luís!! A tarefa não vai ser fácil…

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  3. Se por um lado admiro a coragem, por outro não esperava outra coisa. Boa sorte!

    Beijinho
    Maria Luís Castro

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  4. Muito bem Luís, é assim mesmo. Eu estou na Póvoa por empréstimo e sendo assim não vivo a cidade como um natural de cá. Mas acho que há muitas coisas que estão mal nesta terra (embora concorde com outras obviamente). A tua voz far-se-á ouvir certamente, dado que não falas à toa e sem conhecimento de causa.
    Deixa-me apenas referir que são muito poucas as pessoas que conheço que são capazes de criar em seu redor uma tão unanimidade de simpatia e admiração como tu. Já nos conhecemos há uns aninhos e nunca ouvi ninguém criticar-te ou falar de ti de forma menos própria. Aprendi a admirar-te e a respeitar-te como pessoa e como Professor, e como eu são muitos os que nutrem por ti o mesmo respeito e admiração. É que às vezes com as rotinas diárias esquecemo-nos de parar para pensar ou de tirar 1 minuto para dizer a certas e determinadas pessoas que gostamos delas e só nos preocupamos em criticar e dizer mal. Bem haja a tua personalidade e a tua forma de estar na vida.
    (não sei porquê mas não consegui validar aqui a minha conta do google ... problemas do blogger passageiros certamente).

    Abraço,
    Telmo

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  5. "Uma coisa é certa: nunca terás absoluta razão em nada porque os pontos-de-vista são diversos." Esta é uma lição para todos aqueles que defendem posições extremas, que debatem com rigidez e que não param para ouvir pois estão demasiado absorvidos pelas suas próprias palavras. E quando ouço pessoas a dizerem, e aposto que com preocupação genuína, para "teres cuidado" e "veres lá o que escreves", mas que a seguir dizem também "acho muito bem que fales e dês opinião, mas....." lembro-me sempre de um discurso de octogenário negro que partilhava a seguinte imagem: "Conheço muito boa gente branca, que gosta genuinamente de mim e do meu povo, e que quer que nos libertemos destas amarras que a sociedade nos impõe. Infelizmente, não se juntam a nós nesta luta, por muitas camisolas ou bonés "Black Power" que usem, porque ainda não compreenderam a essência desta luta. Uma mãe que diz que não é racista mas que não quer o seu filho a namorar uma negra, está a ser conivente com o racismo. Mesmo que alegue que não o quer porque essa relação vai sofrer muito com olhares e comentários dos outros." O facto de se preferir o silêncio quando se valoriza a palavra, é puro e simples medo, é não ter a noção de que a liberdade custou muito e tem de ser preservada dia-a-dia, minuto a minuto. E, se é certo que muitas pessoas poderão denegrir, escarnecer e descontextualizar palavras e afirmações a seu bel-prazer, também é verdade que não serão essas as pessoas que devem reger a nossa vida e os nossos princípios.

    Boa sorte e obrigado

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