domingo, 10 de janeiro de 2010

Estratégia para as cidades

Na edição do jornal Público do passado dia 3 de Janeiro, surgiu um interessante artigo sobre a ausência de estratégia que a esmagadora maioria das cidades portuguesas revela. Baseado nos estudos de uma equipa liderada pelo Vice-reitor da Universidade do Minho, José Mendes, investigador na área do Planeamento Regional, o artigo refere que, de um modo geral, as cidades portuguesas investiram quase só nas infra-estruturas básicas e nos equipamentos e, passados tantos anos, continuam a fazer o mesmo. Segundo José Mendes, as cidades já deveriam estar, há muito tempo, a utilizar o dinheiro disponível no quadro comunitário de apoio menos em obras físicas e mais em iniciativas imateriais que permitam a construção de uma forte identidade e especificidade e que, com isso, atraiam mais empresas e fixem mais pessoas, sobretudo jovens e talentosas, que são condições essenciais para o desenvolvimento económico e social do espaço em que vivem. Utilizando a imagem da linguagem informática afirma que, salvo honrosas excepções, as cidades têm o seu “hardware” montado mas, em contrapartida, como não apostam nas pessoas, não fazem correr o “software”, ficando condenadas ao insucesso. Aponta algumas excepções como Óbidos e Guimarães, várias vezes citadas neste blog, que conseguiram encontrar os seus “pontos fortes” e, desde então, não param de os potenciar.
Na minha opinião, e tal como tenho referido várias vezes neste espaço, a nossa cidade, apesar do seu potencial, enquadra-se bem na regra definida por José Mendes.
O trabalho de identificação dos nossos pontos fortes está feito?
Estão identificadas as nossas especificidades?
É segura a nossa identidade?
É clara e conhecida a visão que os responsáveis autárquicos têm para a cidade e concelho?
Na minha opinião, infelizmente não!
Tal como a generalidade das cidades portuguesas preocupou-se apenas e só com as “obras”, ou seja com o “Hardware”. No que diz respeito ao reduzido “investimento nas pessoas” desenvolve, há tempo a mais, uma série de iniciativas rotineiras, desenquadradas de uma visão estratégica de potenciação do desenvolvimento e de valor altamente discutível, que culminam, no final do ano, com o autêntico desperdício de energias e de recursos e que funciona como espécie de “cereja no topo do bolo” do actual poder, o circunspecto Encontro pela Paz.
No entanto, a nossa cidade e concelho apresentam um conjunto de condições que, devidamente aproveitadas e trabalhadas, poderiam originar uma realidade mais distinta e desenvolvida. A vizinhança do mar, a grande linha de costa, a história rica e muito associada à actividade piscatória, as praias com uma beleza especial, o contraste actividade piscatória/jogo, diversão nocturna/casino/outros, o porto de pesca e a marina, o clima ameno e o relevo suave, a fertilidade do solo de algumas freguesias, a inserção na Área Metropolitana do Porto, a proximidade de cidades importantes e com forte pólos universitários, a existência de um desses pólos no nosso território e a facilidade de deslocação para as empresas e jovens universitários que optem por se instalar no nosso concelho, são apenas alguns dos elementos dispersos que poderiam contribuir, com o cimento correcto, para um concelho muito mais dinâmico, desenvolvido e atractivo.
Não chega definir um ou vários slogans e espalhá-los em cartazes publicitários. É preciso trabalhar uma ideia de cidade e desenvolver um conjunto de acções que permita, passo a passo, a concretização dessa ideia, mudando completamente a actividade rotineira que caracteriza o nosso concelho. Infelizmente, estamos condenados, nos tempos mais próximos, a continuar as obras pelas obras, inundando-nos de “Hardware” sem aproveitamento e perdendo tempo e oportunidade para desenvolver as acções que já se impunham há muito tempo.

13 comentários:

  1. Desta vez o professor resolveu partir a louça toda!
    E bem, na minha opinião.
    Destacaria a referência à linha de mar: uma fonte cada vez maior de riquezas e que o nosso município utiliza apenas como paisagem (e mesmo assim muitas vezes mal empregue).

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  2. Há alguns anos atrás, no decorrer de um acto oficial, numa autarquia, com elevadas patentes militares e eclesiásticas, nos seus lugares protocolares, ouvi, atrás de mim, uma conversa entre dois convidados, com responsabilidades em dinheiros públicos, nos seguintes termos: "sabes,precisava de dinheiro...Faz umas obras, responde-lhe o outro. Já não tenho obras para justificar. Então vende um..., diz o outro".
    Ora, iniciativas imateriais, certamente, os seus custos e encargos são mais transparentes.
    Esperemos que, rapidamente, se acabem as obras e terminem os bens vendáveis para que se possa "investir" nas pessoas, ou que se mude a excessiva política do cimento, que gente visionária abraçou, como objectivo principal de subir na vida.
    C. Soares.

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  3. As acções do executivo estão interdependentes dos resultados eleitorais. Ou seja, a liderança partidária do psd, não tem capacidade de enfrentar a realidade actual da cidade e do concelho,estudando as mais diversas situações da vida económica e social da terra, por isso a sociedade civil terá de se empenhar na construção do futuro melhor.

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  4. "com o cimento certo" Fenomenal!!!!!!

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  5. Sim,com massa,mas tem de ser da cinzenta.

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  6. Isso dá muito trabalho e o pessoal agora gosta de comprar tudo feito.
    Se não houver cá, vão contratar ao estrangeiro.

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  7. Isto é verdade mas não é muito diferente do que se passa em cidades vizinhas que até são lideradas por partido diferente. O modelo está esgotado.

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  8. Então e o "Corrente d´escritas"?; e as "diversas obras publicadas pela CMPV?"e o "Acampamento Juvenil"?; e o "desporto Amador"?... É preciso continuar??? Estamos mal na cultura, no ensino, na acção social, etc??? Não sejamos injustos e não permitamos que a simpatia politica nos castre a razão...

    Saudações (curiosamente de esquerda...)

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  9. Para o anónimo 'curiosamente de esquerda': o que é que as acções referidas no seu comentário contribuem para 'uma construção forte de identidade e especificidade,que atraia mais empresas, fixem mais pessoas, sobretudo jovens e talentosas, condições essenciais para o desenvolvimento económico e social do espaço em que vivem'? Alguma 'esquerda' está mesmo mudada ...

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  10. com tantos anónimos...será que vale a pena dar a cara? é só medrosos...e dissimulados?

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  11. Mais vale ser anónimo mas verdadeiro, contribuindo de alguma forma a favor dialogo colectivo, que dar a cara sem dizer nada...de relevante.

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  12. Caro "CÁ FICO": alguns anónimos, conscientes do seu mau aspecto natural, não dão a cara para não agredirem a sensibilidade estética de quem visita este blog...acredito que seria um contributo muito válido se experimentasse fazer o mesmo...

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  13. agora existe uma ditadura estética...mas o que é a estética? A ditadura dos arquitetos? A noção de beleza é muito discutivel... eu prefiro a realidade, com maus cheiros e má aparência, mas verdadeira, do que a falsidade (mascrada) escondida atrás do anonimato...

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