terça-feira, 9 de junho de 2009
Homenagens
Como vamos entrar num período fértil em homenagens, decidi recuperar um artigo colocado neste blog em Fevereiro deste ano.
O nosso país é, cada vez mais, o país das homenagens. Homenageamos políticos detentores de cargos públicos, párocos, arquitectos, engenheiros, médicos, economistas, juízes, advogados, professores, futebolistas, dirigentes desportivos e a lista nunca acaba.
Dizemos mal dos nossos políticos e não acabam as sessões de grande reconhecimento.
Reconhecemos a inadaptação da Igreja aos tempos actuais e louvámos acção de padres e bispos.
Criticámos as modas áridas que descaracterizaram as nossas vilas e cidades mas organizámos festas de homenagem para arquitectos e engenheiros.
Lamentámos a falta de carinho e de respeito pela vida com que muitas vezes somos confrontados em situações de doença e participámos nas homenagens aos médicos e outros técnicos de saúde.
A economia está um caos. O desemprego, a falta de crescimento económico a ausência de uma estratégia de desenvolvimento económico sustentado é evidente e contribuímos para o reconhecimento público de muitos economistas e gestores.
Queixámo-nos da lentidão do nosso sistema de justiça e estamos, o ano inteiro, a assistir a actos de enorme solenidade e reconhecimento dos agentes do sector. Afirmámos, com uma segurança impressionante, que os nossos alunos não aprendem nada e prestamos homenagens emocionadas aos professores.
Criticámos a falta de qualidade do nosso futebol bem como dos decrépitos dirigentes desportivos e venerámos os agentes desse desporto.
Todos dirão que muitas dessas homenagens são justas, porque, felizmente, em todas as profissões e cargos referidos há excelentes exemplos. Concordo apenas com uma das premissas, isto é há, efectivamente políticos sérios, párocos com obras sociais importantes, bons arquitectos, excelentes médicos e investigadores, juízes justos, advogados sérios, professores que nasceram para ensinar e atletas dotados de especiais aptidões para a actividade desportiva. No entanto, se fizermos uma listagem das homenagens formais e organizadas constatámos, infelizmente, que apenas alguns dos bons exemplos foram distinguidos.
Muitos dos exemplos de excelência vivem as homenagens no seu quotidiano, pela forma como abraçam causas e profissões e pelo reconhecimento permanente que sentem quando contactam com todos aqueles que beneficiaram da sua sabedoria e rectidão. Não necessitam de qualquer tipo de formalização das suas boas práticas e não vêem com bons olhos a organização de eventos que, na sua opinião, são desnecessários. Verificam-se até situações em que o potencial homenageado não consegue inverter a dinâmica criada para o distinguir e fica na situação de desconfortável de assistir ao aproveitamento do seu nome.
Grande parte dos indivíduos de indiscutível mérito não assiste, no seu tempo de vida, ao reconhecimento das suas capacidades dado que, muitas vezes, ousam questionar e enfrentar as poderosas organizações que controlam e despoletam esses eventos (o exemplo de José Saramago é paradigmático). Para estes, quando muito, haverá, daqui a alguns ou muitos anos as famosas homenagens a título póstumo que, não tenho dúvida, fazem “saltar do caixão” os destinatários.
Muitos dos medíocres que imperam na nossa sociedade e que fazem o culto da personalidade polarizam, em seu torno, essas homenagens criando condições para que os seus eternos vassalos se encarreguem de organizar a merecida festa de reconhecimento e veneração que, vista com distanciamento, pode ser confundida, por exemplo, com um simples jantar partidário ou com uma das acções das festas típicas das localidades.
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ResponderEliminarA homenagem ao Dr Alfredo Graça só peca por ser muito tardia. Mas mais vale tarde do que nunca.
ResponderEliminarEmbora o seu artigo já seja de Fevereiro, encaixa melhor do que nunca no mês de Maio e Junho. Uma pouca vergonha, o que se houve por aí é de bradar aos céus. Será mesmo verdade que os nossos governantes poveiros (uma ova!!!) já recorrem a homenagens de caracter religioso para angariar votos? pelos vistos até do estrangeiro chegam apoiantes de peso!
ResponderEliminarConcordo, com o que foi dito no comentário anterior... a homenagem ao dr. alfredo graça é mais do que merecida e, uma vez mais, a título póstumo...
ResponderEliminarQuanto à homenagem na generalidade, o post parece-me muito pertinente e sensato, apesar de um pouco derrotista e incrédulo nas pp instituições que as levam a cabo. Os pavões lutarão eternamente, ainda que se socorrendo de subterfúgios, para que estas lhes sejam atribuidas. Aqueles que silenciosa e discretamente desenvolvem um trabalho sério e distinto nas suas áreas, concerteza estão mais preocupados com a continuidade e rectidão com que se dedicam e atuam, do que com confortar o seu ago através do reconhecimento público.
Os mesmos que tão mal trataram o Dr. Alfredo Graça em vida agora oferecem-lhe homenagens de forma hipócrita
ResponderEliminarE o padre do Brasil?
ResponderEliminaresta homenagem é justa!só qeu deixa miutas
ResponderEliminardúbidas!.
Será justa por causa da porta da Igreja? Então que fosse o Papa a prestar vassalagem!
ResponderEliminarFui à Matriz só pra ver e houvir falar brasileiro e tambem ver as catequistas cariocas... não tive sorte... Só consegui ver o tal airoso baixinho das obras que chegou tarde e honrosamente escoltado pela passerelle até à zona VIP.
Houve festa e da grande (ainda não descobri aonde) bem à maneira Poveira (salvo ilustres excepções) homenagem que não acabe em arroz de sarrabulho não é reconhecida!
Vá lá digam mais. que se passa na minha linda Póvoa que eu ainda nao descrutinei?
ResponderEliminarCá pra mim há rato, ratazana...inigma pela certa. Vou já telefonar às minhas amigas da Praça do Almada.