domingo, 10 de maio de 2009

Plano de Pormenor Zona E54



Não gostaria de me tornar repetitivo mas, para escrever sobre este Plano de Pormenor, é necessário enquadrar a discussão num âmbito mais global que se relaciona com o crescimento urbano da nossa cidade. Esta contextualização, torna-se ainda mais importante porque está em jogo, não só, a zona do Varzim, CDP e Praça de Touros, como também as características do futuro parque da cidade que, por este andar, acabará por necessitar, também, de “vários pisos” para caberem todos os equipamentos que lá se pretende instalar.
Como referi, no artigo “O Precedente”, o presente século promoveu uma espécie de retoma do desvario construtivo, através do massacre (minimizado pela actual crise financeira) a que o espaço da antiga fábrica Quintas e Quintas está a ser sujeito, resultante da excepção que, na minha opinião, erradamente foi concedida. A partir daquele momento, a actual liderança autárquica ficou bastante condicionada na capacidade de regular o ordenamento urbano e é, nesse contexto, que deve ser entendida aprovação do Plano de Urbanização (publicado em Janeiro de 2006) que no artigo 40 – alínea hhh, já incluía a possibilidade de atribuição de uma bonificação de 50% ao índice de referência (1.2) para a zona E54. O condicionamento dos responsáveis políticos tornou-se ainda mais visível pelo facto de estarem em jogo pretensões de um clube, o Varzim, que é bastante querido de todos mas que pretende, somente, a engenharia financeira que lhe permita tentar resolver os seus problemas estruturais. Dá-me a sensação que as prioridades estão trocadas. Isto é, não estamos a colocar como objectivo central a busca de soluções urbanísticas para aquela área mas sim a ajudar a resolver o problema atrás referido.
No entanto, podemos ser fervorosos adeptos do Varzim e do CDP mas, antes de tudo, somos amantes da nossa cidade e da qualidade de vida que ela nos pode proporcionar e, por isso, fazia muito mais sentido não possibilitar índices de construção tão elevados para aquela zona e, em contrapartida, disponibilizar a utilização do Estádio Municipal ao Varzim de modo a que este clube, eventualmente, conseguisse libertar os recursos financeiros para introduzir as melhorias necessárias no Estádio Municipal e construir o seu espaço para treinos como chegou a ser defendido por ilustres poveiros. Esta opção seria inteligente, até pela evidência do que se passou no nosso país com a construção da maior parte dos estádios para o Euro 2004. Como é do conhecimento geral, tem uma utilização bastante reduzida e nem conseguem gerar recursos para a sua manutenção. Agora, na Póvoa, passaremos a ter dois estádios, separados por algumas centenas de metros. Realmente o que é importante é que exista actividade, que surjam negócios e que haja construção, muita construção. Mas a quem interessa todo este fervor construtivo? Não é, de certeza, à generalidade dos nossos munícipes nem à qualidade dos nossos espaços públicos.
Neste momento estamos a discutir, se é que efectivamente podemos utilizar esta expressão, o Plano de Pormenor para toda a zona. Todo o estudo está feito para encontrar forma de justificar aquilo que, na minha opinião, é injustificável. A título de exemplo, na volumetria sugere-se uma solução de compromisso entre a parte norte e nascente e alinha-se o novo hotel pela cércea do prédio do farol como se não pudesse haver outra solução; na estabilidade formal refere-se um desenho de equilíbrio em que as novas construções possam obliterar (ocultar) a desordem existente e fala-se numa “Sala de Estar Urbana” que muitos especialistas questionam em termos de volumetria e de orientação, sendo muito criticada a opção por um edifício exageradamente comprido e alto que o insuspeito jornal Voz da Póvoa comparou a um “comboio gigante descarrilado”.
A verdade é que o processo que levou à edificação das torres na zona da frente marítima é visto, nos nossos dias e por muitos poveiros, como um grave erro que comprometeu as gerações seguintes e agora, apesar de avisados, os actuais responsáveis políticos irão “completar o serviço” ocupando de modo semelhante, mas adaptado às modas e tempos actuais, o único espaço livre daquela zona.
A verdade é que, uma vez mais, nos tentam passar a ideia de que o espaço vai ficar muito agradável quando estiver concluído, mas o que vemos é o convite à excessiva concentração de pessoas e veículos numa zona que, por natureza, já os atrai. A ideia do centro comercial, apesar de a perceber na perspectiva dos promotores do negócio, é, na minha opinião, completamente descabida para a qualidade de vida em toda aquela zona e é das poucas alterações que ainda espero que se possa fazer, a bem da cidade. Aliás, o parecer negativo dado pela Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte resulta muito da preocupação com os impactes do referido centro.
A verdade é que todo este processo se assemelha a uma espécie de política de facto consumado que, aparentemente, está a levantar na opinião pública poveira insatisfação e, pelo menos, manifestação da sua indignação. Espero, sinceramente, que este sentimento se faça sentir de modo mais forte para, pelo menos, minimizar as pretensões demolidoras existentes para aquele espaço.
Apesar de reconhecer que isso não vai acontecer, gostava muito que o estudo da intervenção a efectuar sofresse uma reviravolta total, que fizesse não só baixar os índices de construção e as volumetrias exageradas como também fosse suficientemente criativo para propor um espaço de união entre o mar e a cidade, mudando o paradigma da intervenção que poderia ficar imortalizado numa espécie de Memorial dos erros urbanísticos efectuados nas últimas décadas que relembrasse sempre as gerações vindouras da importância do planeamento, do ordenamento e do desenvolvimento sustentável.

13 comentários:

  1. Sequência lógica do que tem sido escrito neo blog. Mas nem no Centro Comercial temho esperança de uma alteração.

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  2. Muitos , muitos parabens por esta posição.
    O que é preciso é haver coragem.
    Coragem de acreditar que podemos mudar alguma coisa.
    Coragem de acreditar que podemos fazer a diferença

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  3. Os meus parabéns pela clareza, capacidade de síntese e enfoque no que é importante em toda esta questão, tão necessárias atendendo à infeliz orquestração desinformativa que foi a sessão de discussão pública promovida pelas autoridades do nosso concelho.

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  4. 1.000 imagens valem mais do que uma palavra: ESPECTACULAR! Estes autarcas não podem continuar agarrados ao poder, e como eles não têm vergonha na cara, têm que ser corridos. Que a tua coragem faça com que o povo vote para que isso aconteça.

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  5. É fundamental enviar mensagens e sugestões que estão inscritas neste filme esta para o endereço electrónico da Câmara de modo a tentar minimizar ou inverter a situação. Frases do tipo:
    Contra o centro comercial.
    Contra o edifício "comboio descarrilado"
    ...

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  6. Estou sem colunas. Não há texto?

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  7. O texto que serve de base ao pequeno filme já está disponível.
    Gostaria de acrescentar que cheguei bastante atrasado à apresentação do passado dia 7 de Maio, porque estive a trabalhar. No entanto,e embora esta não seja a única questão a discutir, ainda pude assistir ao manuseamento dos números dos índices (com e sem varandas) e, sinceramente, é fácil justificar uma média global de 1.35. Todos estudámos estatística e sabemos que para surgir aquele valor médio tem que haver zonas muito densas (Varzim e CDP - 1.79)e outras muito inferiores 0.6 salvo erro. E já que se fala em Estatística é importante recordar que o valor da moda (o que mais se repete)de nº de pisos é de 8 andares.
    Quando saí da sessão (entrei tarde e saí cedo)fiquei convencido, se é que precisava de assistir, do caracter definitivo da proposta e, por esse motivo, esta minha tomada de posição que "me traz uma tranquilidade indescritível".

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  8. A apresentação promovida pela CM da Póvoa no auditório não foi uma discussão. Foi uma encenação muito pobre em argumentos a tentar justificar o injustificável.

    Felizmente que apareceram algumas vozes a rebater e denunciar o crime que estão a fazer à nossa terra

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  9. Uma pobreza de Projecto e de espírito.

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  10. Gostei do Video. Façam um igual para os Mamarrachos e toda a construção na areia e ponham no YouTube.

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  11. Este já está no YouTube. A ideia é interessante e qualquer um pode agarrá-la, desde que consiga o tempo necessário para o produzir.

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  12. Falta-nos massa crítica para nos conseguirmos opor a este tipo de decisões tão prejudiciais para a Póvoa.
    Só vamos conseguir fazendo passar a mensagem.
    Excelente exemplo de cidadania!
    Se não houver recuos, sugiro uma manifestação espontânea, sem conotação partidária, para forçar a câmara a reconsiderar.

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