terça-feira, 26 de maio de 2009

Nem tudo eram rosas em Promar



Apesar da forte coesão social existente na vila de Promar havia algumas excepções, sendo a mais importante a que era protagonizada pela família do senhor Plácido Fortes, industrial de conservas, que não permitia que os seus filhos contactassem com a plebe. Este empresário era proprietário da única grande unidade industrial da vila que, por sinal, tinha um grande impacto económico e social em toda a região. A empresa de conservas “Promarense” empregava três centenas de operários, sobretudo mulheres e na maior parte dos casos esposas de pescadores, que cumpriam rigorosos horários de trabalho, quase sempre em pé e em ritmos de trabalho que nem Taylor ou Ford conseguiriam imaginar. Este industrial vivia com a sua esposa, Dª Margarida, e com os seus seis filhos, num enorme casarão, na parte nascente da cidade, retirando-se e aos seus familiares de qualquer tipo de contacto com a população promarense, olhando desconfiado e de modo bastante crítico para as “misturas sociais” praticadas pelos seus colegas de nível social mais elevado. O dia-a-dia desta família era totalmente diferente da generalidade da população promarense evitando a frequência dos espaços públicos como cafés, lojas, restaurantes ou cinema. O casal deslocava-se para qualquer espaço em automóvel e motorista privativo e os filhos iam e vinham da escola através do mesmo sistema, provocando sempre olhares críticos de todos os colegas. A sensação dos habitantes de Promar era a de que, no casarão, existiam mais criados do que membros da família, sendo motivo de espanto o rigor e a rigidez com que eram tratados: fardas iguais, obrigatoriedade de regime de internato e muitos outros aspectos que tornavam a relação família – empregados, uma relação vertical, desigual, injusta e potenciadora de revolta.

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