sábado, 13 de fevereiro de 2010

13 de Fevereiro de 1965



Esta data de 13 de Fevereiro deve, independentemente dos defeitos que o general sem medo possuía, ser lembrada como um momento negro da ditadura. Foi neste dia que Humberto Delgado caiu numa cilada montada pela PIDE e por Rosa Casaco e foi assassinado em território espanhol.
Sempre que se comemora algo sobre a figura do General Humberto Delgado, seja a sua morte ou a sua famosa frase “obviamente demito-o” ou ainda a entusiástica recepção que o povo do norte lhe proporcionou num comício na cidade do Porto em 14 de Maio de 1958, recordo-me de um episódio contado, pacientemente e diversas vezes, pelo meu pai a mim e aos meus irmãos e que se relaciona com as “ultimas presidenciais directas” do estado Novo, ou seja com a eleição presidencial de 1958.
Naquele ano, o meu pai era professor primário na freguesia do Muro e foi requisitado para presidir à única mesa de voto daquela freguesia e, como gostava de lembrar, pelo menos nessa mesa de voto o general sem medo esteve a ganhar por um a zero, dado que o presidente da mesa tinha o privilégio de ser o primeiro a exercer o seu direito de voto. Contava-nos sempre que, se houvesse verdade no escrutínio, Humberto Delgado tinha saído vencedor tal era a adesão da população e a vontade de mudança. Explicava-nos, de seguida e através de vários exemplos ocorridos na sua mesa de voto, como o regime se perpetuava no poder através da “batota em massa” que, por incrível que pareça, ainda é usada actualmente noutros actos eleitorais de outras realidades.
Um dos aspectos que referia sempre relacionava-se com a constante entrada e saída do espaço próximo da mesa de voto de vários membros da ANP (partido único da época) de modo a condicionar a população e, um pouco à semelhança de algum caciquismo que ainda impera em muitas freguesias rurais nos nossos dias, a tentar “obrigar ao voto nos mesmos de sempre”. Na opinião de muitos destes fervorosos adeptos do regime, os eleitores que ainda não tinham ido votar e mesmo os que já tinham falecido que eram “conhecidos dos membros da ANP”, deviam ter alguém a exercer o direito de voto por eles, ou seja os correligionários políticos, dado que “eram dos nossos”.
Terá sido desta forma e de outras semelhantes, sobretudo com mesas amigas, que se concretizou a mega fraude eleitoral de 1958.

6 comentários:

  1. Partilho inteiramente com a frase "por incrível que pareça, ainda é usada actualmente noutros actos eleitorais de outras realidades" e acrescento: - a batota na actualidade poderá ser suprimida alterando-se a Constituição da República Portuguesa no n.º 5 do artigo 113º, amordaçado na alínea h) do artigo 288º,e acrescentando ao n.º 2 do artigo 49º "OBRIGATÓRIO.
    C. Soares

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  2. Existem contornos relativos á morte de Humberto Delgado que diexam a desejar sobre a verdade total das duas versões oficiais as de antes do 25 de Abril e as de depois de 25 de Abril... Agora uma coisa é certa , ou assim parece : humberto delgado foi eliminado por "Queima de Arquivo"...Do Salazarismo de quem foi aliado inicial ou do Comunismo de Argel de quem parecia refém? Barbieri Cardoso - agente da Pide sabia de tudo... Mas confessou tudo?

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  3. Podia nao ser o ideal mas foi um marco na história da luta contra a ditadura.

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  4. Chamar comunistas a Piteira Santos ou a Manuel Alegre, é ignorância, Renato.

    Pedro Faria

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  5. Ainda hoje me faz confusão pensar que as fraudes eram feitas assim, como descreve. Não será que o povo simplesmente gostava do regime vigente, como hoje gosta do PS e do PSD, que alternam no Poder?...

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