Faz hoje um ano que publiquei o meu primeiro post do blog Descarga, justificando a minha opção de partilha dos textos através da Internet. Desde então, já publiquei um total de 119 artigos, abordando áreas diversas mas com uma certa ênfase nas questões locais.
Este foi o caminho que, em Fevereiro de 2009, entendi seguir para trabalhar, sobretudo, quatro áreas distintas.
Por um lado, o blog permitiu-me rever e aprofundar conhecimentos sobre áreas do meu interesse que, na sua esmagadora maioria, coincidem com conteúdos abordados na minha actividade profissional. Para publicar um artigo, há todo um trabalho preparatório que implica pesquisa, leitura, reflexão e, muitas vezes, tomada de posição. Posso afirmar que a primeira grande finalidade residia numa espécie de processo auto formativo que se tornava, para mim, mais importante dado que iria ser sujeito a uma espécie de interrupção das minhas actividades lectivas atendendo às minhas actuais funções na escola.
Por outro lado, ao escrever sobre assuntos mais pessoais pude reflectir e relembrar questões íntimas que me tocaram de modo especial e que, espero, tenham sensibilizado todas as pessoas que me são próximas, nomeadamente familiares e amigos chegados. Artigos como “Conversas em Família” ou “A Excepção” podem não ter gerado grande interesse geral mas são os mais importantes para mim, porque se relacionam com os meus pais e familiares mais próximos.
Outra área importante, e também mais pessoal, relacionou-se com a publicação meia dúzia de posts sobre a vila de Promar e sobre algumas das personagens que nela habitam, com destaque especial para o herói Guinchinho. Estes textos foram extraídos de um documento cuja execução me está a dar imenso prazer mas que, dificilmente, conseguirei dar por concluído. Este terceiro “sector de intervenção” funcionou, também, como espécie de ponte para a última grande área de intervenção, a local.
Esta era a mais simples de ser trabalhada e consistia na vontade de emitir opinião sobre muitos temas relacionados com a vida no nosso concelho, procurando divergir da espécie de “unanimismo” a que se assistia em redor do poder autárquico questionando, concretamente, algumas opções e decisões tomadas nestes últimos tempos. Nada me movia, nem move, pessoalmente, contra os responsáveis autárquicos, mas estava instalada uma ideia, que me parecia errada, de uma suposta infalibilidade dos seus actos que era bem visível na forma irritada e desproporcionada com que, alguns deles, reagiam a qualquer crítica ou pensamento divergente.
Tenho bem a noção de que a qualidade dos textos é discutível mas perdoem-me a pretensão de os ter publicado.
Não tenho dúvidas que a minha intervenção sobre os aspectos relacionados com o local nem corresponderam a uma gota de um imenso oceano mas aceitem estas minhas tomadas de posição que serviram, muito, para me sentir bem com a minha consciência.
O momento em que o Descarga faz um ano de idade é ideal para reflectir sobre a sua manutenção. Tenho outros projectos pessoais e tem que haver mais vida para além do blog. Apesar de sentir uma espécie de obrigação moral de o manter activo, entendo que, para me dedicar às outras iniciativas, faltar-me-á tempo para publicar com a mesma regularidade e, mais importante, com a mesma preparação e reflexão.
Sendo assim e em princípio, nos próximos tempos, apenas excepcionalmente publicarei novos artigos.
Reconhecendo que, em muitos momentos, os comentários tiveram enorme qualidade e pertinência, agradeço a participação de todos os que, concordando ou discordando, intervieram neste espaço de partilha e espero que, brevemente, encontremos novas formas de interacção que poderão passar, inclusivamente, pela reactivação do blog.
sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010
terça-feira, 16 de fevereiro de 2010
Santana Lopes tem razão
Os contextos institucionais levam muitas vezes as pessoas a defender o indefensável. Quando estamos dentro da lógica de um clube desportivo, de um partido político ou de outro tipo de organização que ultrapasse a nossa vida profissional comportamo-nos, muitas vezes, com pouca racionalidade e, quando damos por ela, estamos a justificar o injustificável. Minimizamos a violência no desporto se ela foi protagonizada por adeptos do clube do nosso coração e apoiamos uma decisão do partido da nossa simpatia mesmo que, no íntimo, a consideremos errada.
Se repararmos, no contexto profissional, trabalhamos muitas vezes mal com os nossos “correligionários” e bem com os colegas que, em muitas situações, apresentam uma ideologia ou preferência clubística diferente. Encontramos neles uma prática com a qual nos identificamos e acabamos por ter a unir-nos, para além da maior ou menor empatia, um determinado conjunto de valores que ultrapassam quaisquer amarras partidárias, religiosas, clubísticas ou de outro tipo. Nesse contexto estamos, eventualmente e em muitos casos, muito mais próximos de um conjunto de valores com os quais nos identificamos e que, em grande parte, resultam da influência da família que funciona como elemento essencial de qualquer sociedade.
Sendo assim, desta vez, Santana terá acertado. Ele bem diz que anda por aí e terá afirmado no último Conselho Nacional do PSD que “há pessoas que podem pertencer ao mesmo partido, mas não à mesma família”.
Quem diria!
Eu a citar Santana Lopes!
Se repararmos, no contexto profissional, trabalhamos muitas vezes mal com os nossos “correligionários” e bem com os colegas que, em muitas situações, apresentam uma ideologia ou preferência clubística diferente. Encontramos neles uma prática com a qual nos identificamos e acabamos por ter a unir-nos, para além da maior ou menor empatia, um determinado conjunto de valores que ultrapassam quaisquer amarras partidárias, religiosas, clubísticas ou de outro tipo. Nesse contexto estamos, eventualmente e em muitos casos, muito mais próximos de um conjunto de valores com os quais nos identificamos e que, em grande parte, resultam da influência da família que funciona como elemento essencial de qualquer sociedade.
Sendo assim, desta vez, Santana terá acertado. Ele bem diz que anda por aí e terá afirmado no último Conselho Nacional do PSD que “há pessoas que podem pertencer ao mesmo partido, mas não à mesma família”.
Quem diria!
Eu a citar Santana Lopes!
sábado, 13 de fevereiro de 2010
13 de Fevereiro de 1965
Esta data de 13 de Fevereiro deve, independentemente dos defeitos que o general sem medo possuía, ser lembrada como um momento negro da ditadura. Foi neste dia que Humberto Delgado caiu numa cilada montada pela PIDE e por Rosa Casaco e foi assassinado em território espanhol.
Sempre que se comemora algo sobre a figura do General Humberto Delgado, seja a sua morte ou a sua famosa frase “obviamente demito-o” ou ainda a entusiástica recepção que o povo do norte lhe proporcionou num comício na cidade do Porto em 14 de Maio de 1958, recordo-me de um episódio contado, pacientemente e diversas vezes, pelo meu pai a mim e aos meus irmãos e que se relaciona com as “ultimas presidenciais directas” do estado Novo, ou seja com a eleição presidencial de 1958.
Naquele ano, o meu pai era professor primário na freguesia do Muro e foi requisitado para presidir à única mesa de voto daquela freguesia e, como gostava de lembrar, pelo menos nessa mesa de voto o general sem medo esteve a ganhar por um a zero, dado que o presidente da mesa tinha o privilégio de ser o primeiro a exercer o seu direito de voto. Contava-nos sempre que, se houvesse verdade no escrutínio, Humberto Delgado tinha saído vencedor tal era a adesão da população e a vontade de mudança. Explicava-nos, de seguida e através de vários exemplos ocorridos na sua mesa de voto, como o regime se perpetuava no poder através da “batota em massa” que, por incrível que pareça, ainda é usada actualmente noutros actos eleitorais de outras realidades.
Um dos aspectos que referia sempre relacionava-se com a constante entrada e saída do espaço próximo da mesa de voto de vários membros da ANP (partido único da época) de modo a condicionar a população e, um pouco à semelhança de algum caciquismo que ainda impera em muitas freguesias rurais nos nossos dias, a tentar “obrigar ao voto nos mesmos de sempre”. Na opinião de muitos destes fervorosos adeptos do regime, os eleitores que ainda não tinham ido votar e mesmo os que já tinham falecido que eram “conhecidos dos membros da ANP”, deviam ter alguém a exercer o direito de voto por eles, ou seja os correligionários políticos, dado que “eram dos nossos”.
Terá sido desta forma e de outras semelhantes, sobretudo com mesas amigas, que se concretizou a mega fraude eleitoral de 1958.
quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010
Justiça?
Os sucessivos intérpretes da democracia portuguesa, renascida após a Revolução de Abril, procuraram, ao longo destas últimas décadas, valorizar a profunda alteração no funcionamento das instituições, destacando sempre o importante princípio da separação dos poderes que, entre outros aspectos, permite distinguir a actividade de produção executiva e legislativa da judicial. Vivemos anos a mais num sistema em que o poder judicial se confundia de tal modo com o executivo que mais parecia um instrumento ao serviço de quem detinha o poder.
No entanto, a gigantesca tarefa de “construção da democracia”, está a colocar-nos perante uma sensação de que a justiça, pura e simplesmente não funciona, abrindo espaço para correntes de opinião contrárias aquele sagrado princípio de separação dos poderes. Parece-me que o grande desconhecimento do funcionamento da justiça que é agravado pela utilização sistemática de uma terminologia que nunca é “traduzida” para o cidadão comum, a enorme distância entre muitos agentes da justiça e a população em geral e as constantes alterações legislativas que os sucessivos governos produzem contribuem muito para a incompreensão e desalento que muitos portugueses sentem.
Por outro lado, a sensação transportada para muitos portugueses de que, no geral, a justiça se preocupa pouco com as vítimas e muito com os direitos de todos os que são ou poderão vir a ser acusados, acentua a desconfiança. Por fim, a ideia também instituída, reforçada por muitos casos mediáticos, de que quem tem poder político ou económico consegue lidar bem com a justiça, enquanto todos os que não têm tantos recursos sentem mais dificuldades para resolver os seus problemas, provoca mesmo o descrédito.
A melhoria do funcionamento deste sector torna-se, assim, fundamental para que a própria democracia se defenda de todas as tentações populistas, até porque já se começa a sentir a defesa de uma espécie de desvario punitivo que não nos torna muito diferentes de alguns fundamentalismos que tanto criticamos noutros países e culturas.
No entanto, a gigantesca tarefa de “construção da democracia”, está a colocar-nos perante uma sensação de que a justiça, pura e simplesmente não funciona, abrindo espaço para correntes de opinião contrárias aquele sagrado princípio de separação dos poderes. Parece-me que o grande desconhecimento do funcionamento da justiça que é agravado pela utilização sistemática de uma terminologia que nunca é “traduzida” para o cidadão comum, a enorme distância entre muitos agentes da justiça e a população em geral e as constantes alterações legislativas que os sucessivos governos produzem contribuem muito para a incompreensão e desalento que muitos portugueses sentem.
Por outro lado, a sensação transportada para muitos portugueses de que, no geral, a justiça se preocupa pouco com as vítimas e muito com os direitos de todos os que são ou poderão vir a ser acusados, acentua a desconfiança. Por fim, a ideia também instituída, reforçada por muitos casos mediáticos, de que quem tem poder político ou económico consegue lidar bem com a justiça, enquanto todos os que não têm tantos recursos sentem mais dificuldades para resolver os seus problemas, provoca mesmo o descrédito.
A melhoria do funcionamento deste sector torna-se, assim, fundamental para que a própria democracia se defenda de todas as tentações populistas, até porque já se começa a sentir a defesa de uma espécie de desvario punitivo que não nos torna muito diferentes de alguns fundamentalismos que tanto criticamos noutros países e culturas.
terça-feira, 9 de fevereiro de 2010
9 de Fevereiro
Durante anos a fio, o 9 de Fevereiro era apenas um dia como outro qualquer. Não o associava a nada de especial como, no fundo, acontece a muitos dias do ano. No entanto, em 1996, o dia 9 de Fevereiro passou a ser uma data festiva e feliz devido ao nascimento do meu filho mais novo. Este dia, a par do 15 de Outubro que corresponde ao aniversário do meu filho Tiago foi, durante anos, associado apenas a aspectos positivos.
Contudo, por uma incrível e infeliz coincidência, em 9 de Fevereiro de 2000 morre o meu pai e, a partir dessa data, temi uma espécie de obstrução natural aos festejos do aniversário do Tomás.
Mas, aquilo que parecia ser um constrangimento, tornou-se rapidamente numa espécie de reforço da vontade de festejar. Apesar de não estar cá, o meu pai participa.
Contudo, por uma incrível e infeliz coincidência, em 9 de Fevereiro de 2000 morre o meu pai e, a partir dessa data, temi uma espécie de obstrução natural aos festejos do aniversário do Tomás.
Mas, aquilo que parecia ser um constrangimento, tornou-se rapidamente numa espécie de reforço da vontade de festejar. Apesar de não estar cá, o meu pai participa.
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